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O Que a Bíblia nos diz?

A questão se mulheres podem ser ordenadas, ou não, como pastoras, diaconisas, tem ocupado o centro do debate entre protestantes ao redor do mundo, em décadas recentes. Como sempre acontece o assunto tem dividido igrejas e denominações, como por exemplo, nos Estados Unidos e na Europa. Entre os evangélicos existem, de forma muito geral, duas posições básicas quanto ao assunto: os igualitaristas e os diferencialistas.

Os igualitaristas afirmam que Deus originalmente criou o homem e a mulher iguais; a subordinação feminina foi parte do castigo divino por causa da queda, com conseqüentes reflexos sócio-culturais. Em Cristo, essa punição (e seus reflexos) é removida; assim, com o advento do Evangelho, as mulheres têm direitos iguais aos dos homens de ocupar cargos de oficialato na Igreja. Os diferencialistas, por sua vez, entendem que desde a criação — e portanto, antes da queda — Deus estabeleceu papéis distintos para o homem e a mulher, visto que ambos são peculiarmente diferentes. O que nos preocupa é que a pergunta "Podem mulheres ser ordenadas para servir como pastoras e diaconisas" nem sempre tem sido respondida em termos de exegese bíblica das passagens do Novo Testamento que estão diretamente relacionadas com o assunto. A argumentação igualitarista, em particular, freqüentemente emprega argumentos baseados no avanço da civilização, na modernização dos tempos, no progresso humano, na crescente participação da mulher em outras áreas da sociedade, e nem sempre dá a necessária atenção aos textos bíblicos relevantes.(2) Algumas das obras igualitaristas em português que têm procurado dar atenção a essas passagens, nem sempre conseguem ser coerentes com seus métodos,(3) e nem sempre estão isentas do espírito reacionário que, por vezes, tem caracterizado os esforços exegéticos dos defensores da ordenação feminina.(4) Por vezes, a precipitação tem obscurecido o julgamento mesmo dos mais sóbrios exegetas igualitaristas no Brasil.(5) Embora em nosso desejo de seguirmos a verdade de Deus devamos levar em conta os tempos em que vivemos, bem como o que nos ensinam ciências correlatas à teologia, como a psicologia e a sociologia, por exemplo, ao fim, a questão só poderá ser realmente decidida em termos da Escritura — pelo menos dentro das igrejas que se consideram reformadas, e que aderem confessionalmente à regra dos reformadores: sola scriptura. Penso eu que devemos examinar, mesmo que brevemente, as passagens do Novo Testamento que não podem ser ignoradas no debate sobre ordenação de mulheres ao oficialato eclesiástico. Se interpretarmos estas passagens partindo de uma hermenêutica reformada, e se deixarmos a Escritura ter a palavra final sobre o assunto, evitaremos os extremos dos que proíbem o que Deus não proibiu, e dos que querem que a Igreja adote aquilo que Deus não permitiu.

I. Passagens do novo testamento usadas para defender a ordenação de pastoras

Romanos 16:7

Esses igualitaristas defendem que havia mulheres na Igreja primitiva que funcionavam como apóstolos. A passagem usada para avançar este ponto é Romanos 16:7, onde Paulo, em sua saudação à Igreja de Roma, menciona uma pessoa por nome Júnias:

Saudai a Andrônico e a Júnias, meus parentes e companheiros de prisão, os quais são notáveis entre os apóstolos, e estavam em Cristo antes de mim (Romanos 16:7).

Os defensores desta tese argumentam que Júnias é um nome feminino, e que a mulher com este nome era uma "apóstola", em pé de igualdade com Andrônico. Do ponto de vista dos defensores da ordenação feminina, a passagem prova que Paulo reconhecia que uma mulher pode exercer uma posição de autoridade sobre homens na Igreja apostólica. E se elas eram admitidas ao apostolado, obviamente o eram a cargos eclesiásticos, diaconisas e pastorado.

Mas não é tão simples assim. Há várias questões relacionadas com a interpretação deste texto. A primeira questão depende da solução de um problema textual.(6) Existem três variantes do nome Júnias nos manuscritos gregos de Romanos 16:7. As duas primeiras divergem quanto à acentuação da palavra Júnias no grego: (1) Iounia=n, que seria o acusativo de Iounia=j, (Júnia) masculino; (2) Iouni/an, que seria o acusativo de Iouni/a, (Júnia) feminino. A terceira variante é Iouli/an, que corresponderia ao feminino Júlia.

A segunda questão depende da interpretação da expressão "notável entre os apóstolos". Significa que Júnias era um dos apóstolos, já antes de Paulo, e um apóstolo notável? Ou apenas que os apóstolos, antes de Paulo, tinham Júnias em alta conta? As questões mencionadas acima são complexas, e sem respostas definitivas. Examinemos uma a uma.

 

1. JUNIA É MASCULINO OU FEMININO?

A variante melhor atestada, segundo o texto grego da UBS, 4a. edição (e de Nestle-Aland, 27a. edição), é Iounia=n , acusativo de Júnia, masculino (atestada pelos manuscritos ) A B* C D* F G P, embora sem acentos). A variante (Júlia) é fracamente atestada, aparecendo apenas no p46 e em algumas versões antigas. Numa pesquisa feita por computador nos escritos gregos existentes desde a época de Homero (século 9 A.C.) até o século 5 D.C. foram achadas apenas três ocorrências do nome Júnias, além de Romanos 16:7. Plutarco cita uma irmã de Brutus, chamada Júnias; Epifânio, o bispo de Salamina em Chipre, menciona Júnias de Romanos 16:7 como sendo um homem que veio a ocupar o bispado de Apaméia da Síria; e João Crisóstomo se refere a Júnias de Romanos 16:7 como sendo uma irmã notável até mesmo aos olhos dos apóstolos.(7) Os resultados são inconclusivos. Parece evidente que Júnias era nome tanto de homem quanto de mulher no período neotestamentário.

O problema é que não sabemos em que gênero Paulo o usou em Romanos 16:7. Isto explica o surgimento de variantes divergindo na acentuação, e o surgimento da variante , que é claramente uma tentativa de resolver a ambigüidade. Se tivermos de tomar uma decisão, devemos dar mais peso à palavra de Epifânio, pois ele sabe mais sobre Júnias do que Crisóstomo, já que informa que Júnias se tornou bispo de Apaméia. Concorda com isto o testemunho de Orígenes (morto em 252 D.C.), que num comentário em latim à carta aos Romanos se refere a Júnias no masculino.(8) Nomes gregos masculinos terminando em -aj não são incomuns, mesmo no Novo Testamento: André (Andre/aj , Mateus 10:2), Elias (Eli/aj, Mateus 11:14) e Zacarias (Zaxari/aj, Lucas 1:5).(9) Para alguns comentaristas, Júnias é a abreviação de Junianius, um nome masculino — mas não há evidências claras disto. A conclusão é que não podemos saber com certeza se Júnias era uma mulher — mais provavelmente era um homem. É por isto que a maioria das traduções modernas, onde possível, traduzem Júnias como masculino (e não Júnia, feminino).(10)

 

Era Júnias um(a) apóstolo(a)? Masculino ou feminino?

Mais uma vez perguntamos, é possível termos uma resposta definida para a pergunta "era Júnias um(a) apóstolo(a)?" Gramaticalmente, a expressão "os quais são notáveis entre os apóstolos" (oi(/tine/j ei)sin e)pi/shmoi e)n toi=j a)posto/loij) tanto pode indicar que Andrônico e Júnias eram apóstolos, quanto que eram tidos em alta conta pelos apóstolos existentes. E mesmo que aceitemos que eram apóstolos, ainda resta o fato de que a palavra apóstolo no Novo Testamento é usada, não somente para os Doze, para Paulo, e para algumas pessoas associadas a ele, como Barnabé, Silas e Timóteo (cf. Atos dos Apóstolos 14:14; 1 Tessalonicenses 2:6), mas para mensageiros e enviados (este é o sentido primário de apóstoloj) de igrejas locais, como Epafrodito (Filipenses 2:25) e uns irmãos mencionados em 2 Coríntios 8:23. Estes não parecem exercer governo ou autoridade sobre as igrejas locais, eram simplesmente enviados por elas.

Portanto, se Andrônico e Júnias eram apóstolos, deveriam pertencer a este tipo de mensageiros das igrejas locais, com um ministério itinerante. Estes "apóstolos" não tinham autoridade de governo em igrejas locais; antes, eram enviados por elas para desempenhar diferentes funções como representantes ou emissários. Em última análise, só podemos afirmar com certeza, a partir de Romanos 16:7, que, quem quer que tenha sido, Júnias era uma pessoa tida em alta conta por Paulo, e que ajudou o apóstolo em seu ministério. Não se pode afirmar com segurança que era uma mulher, nem que era uma "apóstola", e muito menos uma como os Doze ou Paulo.(11) A passagem, portanto, não serve como evidência bíblica para a ordenação feminina no período apostólico. E essa conclusão está em harmonia com o fato de que Jesus não escolheu mulheres para serem apóstolos. Não há nenhuma referência indisputável a uma "apóstola" no Novo Testamento.(12)

 

Gálatas 3:28

Esta passagem, aclamada pelos feministas como a "Carta Magna da Humanidade",(13) é, sem dúvida, a mais usada pelos defensores da ordenação de pastoras:

Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo. Gálatas 3:28

A abordagem igualitarista tradicional desta passagem interpreta a expressão "porque todos vós sois um em Cristo Jesus" ( pa/ntej ga\r u(mei=j ei(=j e)ste e)n Xrist%= )Ihsou=) como significando "porque todos vós sois iguais em Cristo Jesus". Ou seja, interpretam o adjetivo pronominal cardinal e(=ij ("um") no sentido de "igual". De acordo com os igualitaristas, esta passagem mostra, então, que estão abolidas todas as diferenças na Igreja provocadas por raça, posição social e sexo. Com a vinda de Cristo, acabou-se a distinção entre judeus e gentios, entre escravos e livres, e entre homens e mulheres: todos são aceitos na Igreja, inclusive para exercer atividades, como iguais.(14)

Assim, argumentam, em Cristo voltamos ao propósito original de Deus na criação, que foi a plena igualdade entre o homem e a mulher. A subordinação da mulher ao homem, continuam, foi resultado posterior da queda (Gênesis 3:16 b), e não fazia parte da criação de Deus. Cristo veio abolir a maldição imposta pela queda, e nele todas as dimensões da maldição imposta à mulher quedam-se anuladas. Impedir que as mulheres exerçam o oficialato, argumentam, seria introduzir uma distinção na Igreja baseada em sexo, o que contraria frontalmente o ensino de Paulo nesta passagem.

O CONTEXTO DA PASSAGEM

Não se pode discordar de que o Evangelho é o poder de Deus para abolir as injustiças, o preconceito, a opressão, o racismo, a discriminação social, bem como a exploração machista. E nem se pode discordar de que Cristo veio nos resgatar da maldição imposta pela queda. A pergunta é se Paulo está falando da abolição da subordinação feminina e de igualdade de funções nesta passagem, ou seja, se está dizendo que as mulheres podem exercer os mesmos cargos e funções que os homens na Igreja, já que são todos aceitos sem distinção por Deus através de Cristo, pela fé.

A interpretação igualitarista de Gálatas 3:28 esbarra em alguns problemas exegéticos. Primeiro, o do contexto. Paulo escreveu Gálatas para responder a questões levantadas pela doutrina da justificação pela fé em Cristo em face às demandas da lei de Moisés, e ao papel da circuncisão, do calendário religioso dos judeus, e das suas leis dietárias. No capítulo 3 Paulo está expondo o papel da lei de Moisés dentro da história da salvação, que foi o de servir de aio, para nos conduzir a Cristo (Gálatas 3:23-24). Com a vinda de Cristo, continua o apóstolo, os da fé não mais estão subordinados à lei de Moisés: pelo batismo pertencem a Cristo (Gálatas 3:25-27). A abolição das diferenças mencionadas no versículo em questão (Gálatas 3:28) são em relação à justificação pela fé. Todos, independente da sua raça, cor, posição social e sexo, são recebidos por Deus da mesma maneira: pela fé em Cristo. Portanto, Gálatas 3:28 não está tratando do desempenho de papéis na igreja e na família, mas da nossa posição diante de Deus. O assunto de Paulo, portanto, não são as funções que homens e mulheres desempenham na Igreja de Cristo, mas a posição que todos os que crêem desfrutam diante de Deus, isto é, herdeiros de Abraão e filhos de Deus.(15)

 

Atos dos Apóstolos 2:16-18

Esta passagem é parte do sermão de Pedro, no dia de Pentecostes, quando ele cita o profeta Joel para explicar o que acabara de acontecer consigo, e com os demais discípulos de Jesus em Jerusalém, quando o Espírito Santo veio sobre eles (Atos dos Apóstolos 2:1-4). Citando Joel, Pedro diz:

E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão Atos dos Apóstolos 2:17-18 - minha ênfase

Os igualitaristas observam que a profecia de Joel citada por Pedro inclui as filhas e as servas, tanto quanto os filhos e servos na recepção do dom do Espírito Santo. E argumentam que não pode haver qualquer distinção quanto ao serviço a Deus baseada em sexo, já que as mulheres receberam o mesmo Espírito (e certamente, os mesmos dons) que os homens, o qual foi dado para capacitar a Igreja ao serviço. A argumentação prossegue mostrando que na igreja apostólica as mulheres oravam, profetizavam (cf. Atos dos Apóstolos 21:9 , as quatro filhas de Felipe que eram profetizas), falavam em línguas, serviam (Romanos 16:1 Febe), evangelizavam, tanto quanto os homens. Algumas tinham igrejas reunidas em suas casas (Atos dos Apóstolos 12:12 ). Priscila, por exemplo, chegou a ensinar a Apolo o caminho de Deus com mais exatidão (Atos dos Apóstolos 18:26).

Pentecostes argumentam, é a abolição das distinções de gênero na Igreja, pois ao dar às mulheres o mesmo Espírito que aos homens, Deus mostrou que elas devem ser admitidas aos mesmos níveis de serviço que eles. Mas não é tão simples como parece. Se as mulheres exerceram os mesmos ministérios que os homens no período da Igreja apostólica, por que não há nenhuma menção no Novo Testamento de apóstolas, pastoras ou bispas? Por que não há qualquer recomendação de Paulo quanto à ordenação de mulheres, quando instrui Timóteo e Tito quanto à ordenação de presbíteros? Basta uma leitura superficial das qualificações exigidas por Paulo em 1 Timóteo 3:1-7 e Tito 1:5-9 para se ter à impressão de que o apóstolo tinha em mente a ordenação de homens: o oficial deve ser marido de uma só esposa, deve governar bem a sua casa e seus filhos (função do homem, nos escritos de Paulo, cf. Efésios 5:22-24).

II. Passagens do Novo Testamento Que Impõem Restrições ao Ministério Feminino

Vejamos outras passagens do Novo Testamento igualmente relevantes para a discussão, e que impõem restrições ao ministério feminino nas igrejas locais. É verdade que nenhuma delas diz explicitamente que mulheres não podem ser ordenadas como, pastoras, ou bispas. Entretanto, todas elas impõem restrições ao ministério feminino, e exigem que as mulheres cristãs estejam submissas à liderança masculina. Essas restrições têm a ver primariamente com o ensino por parte de mulheres nas igrejas. Já que o governo das igrejas e o ensino público oficial nas mesmas são funções de presbíteros e pastores (cf. 1 Timóteo 3:2-4-5; 5.17; Tito 1:9), infere-se que tais funções não fazem parte do chamado cristão das mulheres. 

1 Coríntios 11:3-16

Escrevendo aos crentes de Corinto acerca de questões relacionadas com o culto público, Paulo aborda o problema causado por algumas mulheres que estavam orando, profetizando (e provavelmente falando em línguas) com a cabeça descoberta, isto é, sem o véu, contrariando assim o costume das igrejas cristãs primitivas (1 Coríntios 11:16). A passagem é extremamente difícil de interpretar, e depende dos detalhes de um contexto histórico que não pode ser totalmente recuperado. Entretanto, os pontos principais do apóstolo na passagem são suficientemente evidentes.

1. Profetizando e orando com o véu

Ao que tudo indica, as mulheres de Corinto haviam entendido que o Evangelho havia abolido, não somente as diferenças raciais, como também qualquer diferença de função na Igreja entre homens e mulheres crentes. Possivelmente, estavam interpretando o ensino de Paulo acerca da igualdade do homem e da mulher na salvação, como tendo conseqüências imediatas quanto ao culto e ao serviço cristãos. Assim, estavam querendo abolir dos cultos públicos o uso do véu, que na cultura da época era a expressão externa do conceito da subordinação da mulher ao homem. Aparentemente, algumas estavam reivindicando "direitos iguais" com um espírito contencioso (1 Coríntios 11:16). Paulo não lhes nega o direito de participar do culto, mas insiste que elas devem faze-lo trajando o véu, expressão cultural do princípio permanente da subordinação feminina. Não usá-lo significava desonra, indecência, vergonha (11.5,6,14). O ensino de Paulo em 1 Coríntios 11 é que as mulheres devem participar do culto preservando o sinal de que estão debaixo da autoridade eclesiástica masculina.

2. O véu como símbolo de submissão à autoridade

No verso 10 Paulo se refere ao véu como sinal de autoridade (1 Coríntios 11.10 ). O texto grego original diz literalmente que "a mulher deve trazer autoridade sobre a cabeça" (o)fei/lei h( gunh\ e)cousi/an e)/xein e)pi\ th=j kefalh=j). A interpretação da maioria dos estudiosos é que e)cousi/an ("autoridade") se refere ao véu, e que o mesmo simbolizava que a mulher estava debaixo da autoridade do homem. Tanto assim, que um grande número de versões inglesas traduzem e)cousi/an como "véu" ou como "símbolo de autoridade" (NASB, NRSV, NIV, NCV, NKJV, NAS, etc; ainda a versão Colombe, francesa, e Reina de Valera, espanhola, e a NVI, em português). Outras versões são mais explícitas ainda, e traduzem "símbolo da autoridade do homem" (como a TEV e a LB).(17)

Um paralelo bíblico é o de Gênesis 24:65 , quando Rebeca, ao tomar conhecimento de que seria apresentada ao seu futuro marido e senhor, Isaque, tomou o véu e cobriu-se. Em outras palavras, embora Paulo permita que a mulher profetize e ore no culto público, ele requer dela que se apresente de forma a deixar claro que está debaixo de autoridade, no próprio ato de profetizar ou orar. Para Paulo, a expressão externa da subordinação da mulher ao seu cabeça (o homem) durante o culto público seria o uso do véu, já que o mesmo, na cultura oriental da época (e mesmo em algumas culturas hoje) expressaria convenientemente este conceito. 

3. Cabeça: autoridade sem superioridade

A argumentação de Paulo para fundamentar sua orientação vem de duas direções. Primeiro, Paulo argumenta teologicamente, a partir da subordinação de Deus Filho a Deus Pai. O Pai é o cabeça de Cristo, que por sua vez, é o cabeça do homem, e o homem o cabeça da mulher:

Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo. Todo homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça. Toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça sem véu, desonra sua própria cabeça, porque é como se a tivesse rapada 1 Coríntios 11.3-5 - minha ênfase

Tomando-se kefalh/ ("cabeça") em seu sentido mais natural, de "autoridade", o que temos é uma declaração de Paulo de que Deus tem autoridade sobre Cristo, Cristo tem autoridade sobre o homem, e o homem tem autoridade sobre a mulher. Uma cadeia hierárquica que começa na Trindade e continua na igreja e na família. Podemos inferir (guardadas as devidas proporções) que, da mesma forma como a subordinação de Cristo ao Pai não o torna inferior — como afirma a fé reformada em sua doutrina da Trindade — a subordinação da mulher ao homem não a torna inferior. Assim como Pai e Filho, que são iguais em poder, honra e glória, desempenham papéis diferentes na economia da salvação (o Filho submete-se ao Pai), homem e mulher se complementam no exercício de diferentes funções, sem que nisto haja qualquer desvalorização ou inferiorização da mulher. Em várias ocasiões o Novo Testamento determina que os crentes se sujeitem às autoridades civis (Romanos 13:1-5; 1 Pedro 2:13-17). Em nenhum momento, entretanto, este mandamento implica que os crentes são inferiores ou têm menos valor que os governantes. Igualmente, os filhos não são inferiores aos seus pais, simplesmente porque devem submeter-se à liderança deles (Efésios 6:1 ). O conceito de subordinação de uns a outros tem a ver apenas com a maneira pela qual Deus estruturou e ordenou a sociedade, a família e a igreja.

4. O ensino de Paulo se aplica hoje?

Evidentemente, os igualitaristas têm procurado se livrar das implicações desta passagem, e tentando alternativas quanto à sua interpretação. Na verdade, alguns simplesmente se recusam a trazer a passagem para o debate alegando que o problema que levou Paulo a dizer o que disse foi causado pela cultura da época, e pelas circunstâncias da cidade de Corinto. Outros ainda insistem que Paulo estava influenciado pela cultura patriarcal da sua época, que suas palavras são condicionadas culturalmente, e, portanto, inadequadas para as culturas e sociedades pos-modernas do fim do século XX. Existem algumas deficiências com estas tentativas. Primeira, não fazem a distinção entre o princípio teológico supra cultural e a expressão cultural deste princípio. Enquanto que o uso do véu é claramente um costume cultural, ao mesmo tempo expressa um princípio que não está condicionado a nenhuma cultura em particular, que é o da diferença fundamental entre o homem e a mulher.

O que Paulo está defendendo é a vigência desta diferença no culto público — o véu é apenas a forma pela qual isto ocorreria normalmente em cidades gregas do século I. Segundo Paulo defende a participação diferenciada da mulher no culto usando argumentos permanentes, que transcendem cultura, tempo e sociedade, como a distribuição ou economia da Trindade (1 Coríntios 11.3) e o modo pelo qual Deus criou o homem (1 Coríntios 11.8-9). Acresce ainda que Paulo defende o uso do véu em Corinto apelando para o costume das igrejas cristãs em geral (1 Coríntios 11:16), o que indica que o uso do véu não era prática restrita apenas à igreja de Corinto, mas de todas as igrejas cristãs espalhadas pelo mundo grego.

5. Autoridade ou fonte?

Um ataque desfechado contra a passagem é que a palavra kefalh/ no verso 3 não significa "cabeça" e sim "fonte" ou "origem".(19) Segundo esta interpretação, Paulo estaria dizendo, não que Deus tem autoridade sobre Cristo, e o homem sobre a mulher, mas que Deus é a fonte da qual Cristo procede, e que o homem é a fonte da qual a mulher procedeu. Assim, a idéia de "autoridade" é removida da passagem, ou pelo menos domesticada. Entretanto, há vários fatos que militam contra a probabilidade de esta interpretação ser a correta:

  1. Estudos exaustivos feitos na literatura grega antiga demonstram que kefalh/, na esmagadora maioria de suas ocorrências, significa "cabeça" e não "fonte". Embora em alguns casos kefalh/ possa ter esta tradução, em nenhum deles é absolutamente certo de que "fonte" ou "origem" é o sentido pretendido pelo autor.(20)
  2. Na passagem paralela de Efésios 5:22-23 kefalh/ claramente significa "cabeça" no sentido de "ter autoridade sobre". O mesmo encontramos em Efésios 1:22 .(21)

6. O subordinacionismo é herético?

Um outro ataque desfechado pelos igualitaristas é contra o conceito de subordinação na doutrina da Trindade, já que Paulo fundamenta a subordinação da mulher à liderança masculina na subordinação de Cristo a Deus Pai (1 Coríntios 11.3). Alguns feministas evangélicos insistem que a doutrina da subordinação na Trindade implica em inferioridade do Filho em relação ao Pai, e que, portanto, é herética. Alguns chegam mesmo a afirmar que o subordinacionismo foi uma heresia rejeitada pela Igreja no século IV.(22) Mais recentemente, alguns feministas evangélicos têm negado a subordinação do Filho ao Pai.(23) Esta posição tem sido rejeitada por estudiosos evangélicos como enganosas. Em seu estudo sobre 1 Coríntios 11, T. Schreiner demonstra como o credo Niceno afirmou a subordinação de funções do Filho ao Pai, e do Espírito ao Pai e ao Filho, sem comprometer a igualdade e a dignidade pessoal entre as pessoas da Trindade. O que a Igreja rejeitou como heresia foi uma forma de subordinacionismo que predicava uma inferioridade de essência entre o Pai, o Filho e o Espírito. 1 Coríntios 11.2-16, portanto, traz implicações quanto ao ministério feminino ordenado que não devem ser ignoradas por aqueles que defendem a ordenação de mulheres a funções eclesiásticas de autoridade e liderança sobre homens. No nosso entender, nenhuma das tentativas dos igualitaristas tem obtido sucesso na domesticação destas implicações.

1 Timóteo 2:11-15

Em sua primeira carta a Timóteo, seu colaborador e filho na fé, e que estava encarregado da igreja de Éfeso, Paulo faz as seguintes determinações quanto às mulheres:

A mulher aprenda em silêncio, com toda submissão. E não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre o marido; esteja, porém, em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Todavia, será preservada através de sua missão de mãe, se elas permanecerem em fé e amor e santificação, com bom senso (1 Timóteo 2:11-15 - Almeida Atualizada, 1a. edição).

Esta é provavelmente a passagem mais importante para a discussão sobre o ministério feminino ordenado. E tem padecido muito nas mãos dos intérpretes. A interpretação histórica da passagem é que, aqui, o apóstolo Paulo determina que as mulheres crentes de Éfeso aprendam a doutrina cristã em silêncio, submetendo-se à autoridade eclesiástica dos que ensinam — no contexto, homens (v.11). Elas, por sua vez, não tinham permissão para ensinar os homens com esta autoridade, nem exercê-la nas igrejas sobre eles, mas deviam submeter-se em silêncio (v.12). A causa apresentada pelo apóstolo é dupla: Deus primeiro formou o homem, e depois a mulher (v.13). E ela foi iludida por Satanás e pecou (v. 14).

1- A heresia de Éfeso

Essa interpretação tem o apoio do contexto da carta. É consenso entre os estudiosos que Paulo a escreveu para instruir Timóteo a combater uma perigosa heresia que havia se infiltrado na igreja de Éfeso, que estava sob a sua responsabilidade. Paulo não dá muitos detalhes na carta sobre a natureza dessa heresia, provavelmente porque Timóteo estava perfeitamente a par do problema. Uma reconstrução cautelosa nos revela os seguintes pontos:

  1. Os falsos mestres em Éfeso estavam semeando dissensões e se ocupando com trivialidades (1 Timóteo 1:3-7; 6.4-5; cf. 2 Timóteo 2:14 16-17, 23-24).
  2. Os falsos mestres ensinavam que a prática ascética era um meio para se alcançar uma espiritualidade mais elevada. Estavam ensinando a abstinência de certas comidas, do casamento, e do sexo em geral (1 Timóteo 4:1-3). Possivelmente estavam ensinando que o treinamento físico também servia para se alcançar esta espiritualidade (1 Timóteo 4:8).
  3. Várias mulheres da igreja estavam seguindo os falsos mestres e seus ensinos (1 Timóteo 5:12-15; cf. 2 Timóteo 3:6-7).
  4. Aparentemente, os falsos mestres estavam encorajando tais mulheres a trocarem o seu papel costumeiro no lar por uma atitude mais igualitária com respeito a seus maridos, e aos homens em geral. O programa dos falsos mestres incluía denegrir o casamento, e isso certamente induziria ao abandono das funções tradicionais da mulher no lar. Algumas evidências sugerem esta interpretação. Em suas instruções às viúvas, Paulo determina que as mais novas se casem, tenham filhos e cuidem das suas casas (1 Timóteo 5:14), visto que já "algumas se desviaram, seguindo a Satanás" (5.15). Desde que Paulo considera o ensino dos falsos mestres como sendo "ensino de demônios" (4.1-2), segue-se que ir após Satanás seria aceitar o ensino dos falsos mestres em oposição ao que Paulo ordena em 5.14. Uma outra evidência é 1 Timóteo 2:15. Embora não saibamos com exatidão o que Paulo quer dizer com "será salva", está claro que o apóstolo está insistindo no papel natural da mulher como mãe, uma insistência que se torna óbvia quando pensamos no ensino dos falsos mestres desvalorizando o casamento.

Embora não saibamos os motivos com exatidão, transparece claramente que o ensino dos falsos mestres em Éfeso incluía a rejeição dos papéis tradicionais das mulheres no casamento, e um encorajamento a que elas reivindicassem papéis iguais na igreja e nos lares. A situação parece bastante similar à da igreja de Corinto, onde as mulheres procuravam exercer no culto funções até então privativas dos homens cristãos. É contra este pano de fundo que Paulo determina às mulheres da igreja de Éfeso que aprendam em silêncio, que não ensinem nem exerçam autoridade sobre os homens, e que estejam em perfeita submissão (1 Timóteo 2:12).(31)

2- O que Paulo quer dizer com "ensinar"?

O ensino de Paulo neste versículo torna-se mais claro quando entendido à luz desta reconstrução. Vejamos com mais detalhes alguns dos pontos mais decisivos de 1 Timóteo 2:12: Primeiro, Paulo diz não permitir que a mulher ensine nas igrejas. Ensinar, no Novo Testamento é uma atividade bem ampla. Todos os cristãos podem ensinar, quer, por exemplo, quer pelo seu testemunho, quer em conversação. O próprio apóstolo determina que as mulheres idosas ensinem as mais novas a amarem seus maridos (Tito 2:3-5). Assim, fica claro que Paulo não está passando uma proibição geral. Mas, então, o que ele está proibindo? Transparece do texto que ele não permite que a mulher, em posição de autoridade, ensine os homens. Nas Cartas Pastorais, ensinar sempre tem o sentido restrito de instrução doutrinária autoritativa, feita com o peso da autoridade oficial dos pastores e presbíteros (1 Timóteo 4:11; 6.2; 5.17).

Ao que tudo indica, algumas mulheres da igreja de Éfeso, insufladas pelo ensino dos falsos mestres, estavam querendo essa posição oficial para ensinar nas assembléias cristãs. Paulo, porém, corrige a situação determinando que elas não assumam posição de liderança autorizada nas igrejas, para ensinarem doutrina cristã nos cultos, onde certamente homens estariam presentes. Paulo não está proibindo todo e qualquer tipo de ensino feito por mulheres nas igrejas. Profetizas na igreja apostólica certamente tinham algo a dizer aos homens durante os cultos. Para o apóstolo, a questão é o exercício de autoridade sobre homens, e não o ensino. O ministério didático feminino, exercido com o múnus da autoridade que ofícios de pastor e presbítero emprestam, seria uma violação dos princípios que Paulo percebe na criação e na queda.O ensinar que Paulo não permite é aquele em que a mulher assume uma posição de autoridade eclesiástica sobre o homem. Isso é evidente do fato que Paulo fundamenta seu ensino nas diferenças com que homem e mulher foram criados (v. 13), e pela frase "autoridade sobre o homem" (v. 12b). Um equivalente moderno seria a ordenação como ministro da Palavra, para pregar a Palavra de Deus numa igreja local. 

3. O que Paulo quer dizer com "exercer autoridade"?

Isto nos leva ao ponto seguinte. Paulo diz também não permitir que a mulher exerça autoridade sobre o homem. A Almeida Atualizada, em sua 2ª edição, traduziu diferentemente esta passagem. Em vez de preservar a leitura da 1ª edição, "exerça autoridade sobre o homem", preferiu traduzir o genitivo a)ndro/j como "de homem". O resultado é "não permito que a mulher ... exerça autoridade de homem". A tradução é gramaticalmente possível, e se encaixa no contexto geral do ensino paulino, onde a autoridade didática e o governo nas igrejas é função dos homens cristãos. Mas, introduz uma expressão que é absolutamente nova e estranha ao vocabulário de Paulo. É talvez preferível permanecer com a tradução anterior, que também é gramaticalmente possível, além de soar mais como Paulo. De qualquer forma, fica evidente que a atitude que o apóstolo exigia das mulheres cristãs de Éfeso, envenenadas pelo ensino dos falsos mestres, era de submissão e silêncio, quanto ao aprendizado da doutrina cristã nas assembléias. A proibição de exercer autoridade sobre os homens exclui as mulheres do ofício de presbítero, que é essencialmente o de governar e presidir a casa de Deus (1 Timóteo 3:4-5; 5.17), embora não as exclua de exercer outras atividades nas igrejas.

4. Homem e mulher, ou esposa e marido?

Uma outra questão é a tradução das palavras gunh/ e a)nh/r, que tanto podem significar "mulher" e "homem" no sentido mais geral, quanto "esposa" e "marido". Alguns estudiosos tem procurado limitar o alcance da proibição de Paulo ao casamento apenas, e assim preferem a última tradução. Para eles, Paulo está dizendo que a mulher casada não deve ensinar ou exercer autoridade sobre o seu marido, sem generalizar quanto aos homens em geral. Mas, esta última interpretação é improvável. O contexto e a maneira de Paulo construir suas frases apontam na outra direção. Como observa Douglas Moo, se Paulo desejasse se referir a maridos, teria usado um artigo definido ou um pronome possessivo antes de a)nh/r. Neste caso, a frase ficaria assim: "Não permito que a mulher ensine, nem que exerça autoridade sobre seu marido", como fez em Efésios 5:22; cf. Colossenses 3:18. Além disto, o contexto claramente trata de homem e mulher genericamente, cf. 1 Timóteo 2:8-9.(35)

5. O caráter permanente do ensino de Paulo

Uma outra consideração é que Paulo, tanto em 1 Coríntios 11 quanto em 1 Timóteo 2 , fundamenta sua orientação quanto ao comportamento apropriado das mulheres cristãs nas igrejas, não em considerações condicionadas culturalmente, mas em princípios inerentes à própria humanidade. Após proibir que as mulheres ensinem e exerçam autoridade sobre os homens (1 Timóteo 2:12), Paulo dá a causa para sua proibição nos versos 13 e 14 (note o ga/r causal introduzindo estes versículos):

  1. O primeiro é baseado na forma como Deus criou o homem e a mulher, ou seja, o homem foi criado primeiro (v. 13). A seqüência temporal (prw=toj ... ei)=ta), para Paulo, tem significado teológico e implicações práticas quanto ao ministério feminino na Igreja de Cristo. O fato de que o homem foi criado primeiro indica sua liderança sobre a mulher. E o fato de que a mulher foi criada em seguida, como auxiliadora, indica sua posição de submissão (cf. Gênesis 2). Para o apóstolo, se uma mulher ensina (prega) doutrina com autoridade sobre homens, está violando este princípio inerente à criação. É importante observar que Paulo enraíza sua proibição nas circunstâncias da criação, e não da queda, somente. Portanto, como observa Moo, ele não considera estas restrições sobre as mulheres como sendo apenas resultado da queda, e portanto, também não espera que sejam removidas com a redenção que há em Cristo.(39)

    1 Timóteo 2.13 é um versículo simples e direto, que intérpretes igualitaristas têm dificuldade em explicar. Thomas Schreiner, em recente livro combatendo o igualitarismo, alista as tentativas de feministas evangélicos de descartar 1 Timóteo 2.13:
    ... Mary Evans diz que a relevância do verso 13 para o verso 12 é obscura, e que o verso 13 simplesmente introduz o verso seguinte sobre Eva. Gordon Fee afirma que o verso 13 não é central para o argumento de Paulo. Timothy Harris diz que o verso "é difícil de entender de qualquer ponto de vista". Craig Keener pensa que o argumento de Paulo aqui é difícil de perscrutar. David Scholer protesta que o texto é obscuro, e que Paulo está fazendo uma citação seletiva de Gênesis 2. Steve Motyer diz que lógica e justiça ficam anuladas se a interpretação histórica deste verso for aceita.(40)

  2. O segundo motivo é fundamentado no fato de que não foi Adão, mas sim Eva, quem foi iludida por Satanás e desobedeceu a ordem de Deus (v.14). Para alguns, Paulo está citando a maneira pela qual o primeiro casal caiu em pecado para mostrar que a mulher é mais crédula ao erro religioso, e mais susceptível de ser enganada por Satanás (cf. 2 Coríntios 11:3); portanto, não deve ocupar funções de ensino doutrinário nas igrejas, para que não caiam em heresia, e induzam outros. Embora possa haver alguma verdade neste pensamento, é mais provável que Paulo esteja citando o incidente para mostrar o que ocorreu quando Eva tomou a liderança que havia sido dada a Adão. Uma leitura cuidadosa de Gênesis 3 mostra como a mulher entrou em diálogo com o tentador (Gênesis 3.1-5), e como, assumindo a liderança, tomou do fruto e deu-o a seu marido, levando-o ao pecado (3.6). As palavras do Senhor Deus ao homem, "porque atendeste a voz da tua mulher" (3.17), soam, assim, como uma repreensão por Adão ter aceitado a liderança da sua esposa na transgressão. E o castigo imposto por Deus à mulher, de que seria dominada pelo homem, encaixa-se com essa dimensão do pecado da mulher (3.16). Portanto, o que Paulo quer mostrar em 1 Timóteo 2.13, não é que o homem não peca, ou que não pode ser enganado por Satanás, mas sim, o que ocorre quando homem e mulher revertem os papéis que Deus lhes determinou. O apelo de Paulo às Escrituras demonstra que, para ele, as causas dos diferentes papéis do homem e da mulher estão enraizadas nas circunstâncias em que a criação e a queda aconteceram, e não em demandas provisórias das igrejas e nem em aspectos culturais da época.

Conclusões

Meu objetivo com este estudo é demonstrar a importância de levarmos em conta o ensino do Novo Testamento no debate acerca do ministério feminino ordenado. A nossa análise das passagens mais usadas para defender a ordenação de mulheres ao pastorado demonstrou que elas não dão suporte às pretensões do programa igualitarista, embora certamente nos ensinem que devemos encorajar e defender o ministério feminino em nossas igrejas. Por outro lado, nossa análise das três principais passagens usadas como evidência de que Deus não intentou que as mulheres cristãs ministrassem nas igrejas aos homens, de uma posição de autoridade, quer ensinando-os ou governando-os, mostrou que a interpretação diferencialista destas passagens encaixa-se nos seus contextos, honra a aplicabilidade dos princípios bíblicos para nossos dias, e responde satisfatoriamente às objeções.

Minha conclusão é que não há respaldo bíblico suficiente para que se recebam mulheres ao pastorado ou bispado de igrejas cristãs locais, onde irão, como tais, presidir, governar, e ensinar doutrina aos homens. Na realidade, as evidências bíblicas apontam em outra direção. Estas passagens não podem ser ignoradas pelos que almejam o ministério ordenado de mulheres nas igrejas evangélicas do Brasil. Somente com as ferramentas da crítica bíblica radical, que abstraem estas passagens dos manuscritos, isolam-nas da realidade atual das igrejas, e domesticam o poder de suas implicações, é que se pode contornar o seu ensino óbvio.Uma palavra final. Os presbíteros exerciam a autoridade e o governo nas igrejas, mas não eram absolutos. Poderiam ser repreendidos, se falhassem (1 Timóteo 5:19-20), e deveriam exercer sua autoridade não como dominadores, mas como exemplos (1 Pedro 5:5). Sua autoridade era limitada pelo ensino de Jesus e dos apóstolos, que hoje se encontram nas Escrituras. Não poderiam ir de encontro a este ensino, como hoje presbíteros, conselhos e concílios em geral também não podem. Nenhum concílio eclesiástico, argumentando a partir das mudanças sociais do tempo presente, tem poderes para ir além da Escritura, ou contradize-la, ordenando mulheres como pastoras ou bispas. 

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