Não pensem que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir. Digo-lhes a verdade: Enquanto existirem céus e terra, de forma alguma desaparecerá da Lei a menor letra ou o menor traço, até que tudo se cumpra..
Mateus 5:17-18
Alguns alegam, com base em Mateus 5:17-18, que Jesus cumpriu a Lei perfeitamente em nosso lugar; logo, não estamos mais na obrigação de guardá-la. Será esse o real significado do texto?
Este texto, na verdade, nos ensina 2 coisas:
- Que Jesus não veio revogar a lei;
- Que aquele que violar um dos mandamentos, mesmo que seja dos menores, é desaprovado pelo céu, ou seja: ninguém está autorizado a mudar a Palavra de Deus, incluindo os 10 Mandamentos.
Isto nos leva à conclusão de que, se Jesus não veio revogar a Lei e os Profetas e nenhum ser humano está autorizado a violar qualquer mandamento que esteja nos mesmos (Lei e Profetas), a expressão “cumpriu” não pode insinuar que Jesus cumpriu a lei no sentido de anulá-la. Isto seria uma contradição no próprio texto no qual Jesus diz: “não vim abolir a lei e os profetas”.
O Dr. Albert Barnes, respeitado comentarista Presbiteriano, em seu comentário sobre Mateus 5:18 e 19, declara:
“As leis dos judeus estavam geralmente divididas em morais, cerimoniais e judiciais. As leis morais são aquelas que emanam da natureza das coisas, que não podem, por conseguinte, ser mudadas — tais como o dever de amar a Deus e Suas criaturas. Estas não podem ser abolidas, pois jamais poderá ser correto odiar a Deus ou aos nossos semelhantes. Dessa natureza são os Dez Mandamentos; e estes, nosso Salvador não aboliu nem suprimiu. As leis cerimoniais são as determinadas para atender a certos estados da sociedade, ou regulamentar ritos religiosos e cerimônias do povo. Estas poderão ser mudadas quando mudarem as circunstâncias, e não obstante, a Lei Moral permanece inalterável. Aprendemos, portanto:
- Que toda a Lei de Deus é obrigatória para os cristãos. (Comparar com S. Tiago 2:10).
- Que todos os mandamentos de Deus devem ser ensinados, em seu lugar apropriado, pelos ministros cristãos.
- Que aqueles que pretendem que haja leis de Deus tão pequenas que não precisem obedecer-lhes, são indignos de Seu reino.
- Que a verdadeira piedade demonstra respeito para com todos os mandamentos de Deus. (Comparar com Salmos 119:6).” [1]
O grande reformador João Calvino, comentando Mateus 5:17 e Lucas 16:17 em seu “Comentary on a Harmony of the Gospel”, assim declara:
“Não devemos supor que a vinda de Cristo nos tornou livres da autoridade da lei; pois ela é a norma eterna de uma vida devota e santa, e deve, portanto, ser tão imutável como a justiça de Deus, que a envolveu, é constante e uniforme.” [2]
Na “Bishop’s Pastoral” de 1874, da Igreja Metodista, ocorrem estas afirmações:
“O sábado instituído na criação e constantemente confirmado por Moisés e os profetas, jamais foi ab-rogado. Fazendo parte da Lei Moral, nem um jota ou til de sua santidade foi subtraído.”
H. Strong declarou: “Ele [Jesus] devia ‘cumprir’ a lei e os profetas mediante completa execução da vontade revelada de Deus... Desde que a lei é um transcrito da santidade de Deus, suas exigências como uma regra moral são imutáveis. Somente como um sistema de penalidade... foi a lei abolida pela morte de Cristo. ‘Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a Terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido.’” [3]
Segundo o comentário de J. A. Broadus, “Cumprir – é a tradução de uma palavra grega significando ‘tornar cheio’, ‘encher’... Significa ‘executar plenamente’, ‘realizar’, aplicado a qualquer obra ou dever... ‘Em vão se tem procurado colocar este dito de Jesus em conflito com o que Paulo ensina com referência à lei’... A ideia que ainda às vezes surge, de que Jesus foi um reformador radical que pôs de lado a lei de Moisés por imperfeita e gasta, É CONTRÁRIA A TODO O ESPÍRITO DESTA PASSAGEM.” [4]
H. Spurgeon, o príncipe dos pregadores Batistas, aludindo a Mateus 5:17 diz: “Para mostrar que Ele jamais pensou em ab-rogar a lei, nosso Senhor exemplificou (cumpriu) todos os preceitos em Sua própria vida.” [5]
L. Gingsburg, também Batista, referindo-se ao Decálogo, com Mateus 5:17-19, escreve: “Os que ensinam a mentira de que a lei não possui mais valor ou autoridade, ainda não leram com certeza os versículos que nos servem de texto: S. Mateus 5:17-19.” [6]
Jamieson, Fausset e Brown, credenciados expositores bíblicos, dão este sentido a Mateus. 5:17: “Não espereis encontrar em meu ensino algo de derrogativo aos oráculos do Deus vivo. ‘Não vim ab-rogar mas cumprir.’ Não subverter, ab-rogar, anular, mas estabelecer a Lei e os Profetas – revelá-los, corporificá-los e reverenciá-los com amor – para isso vim.” [7]
L. Moody assim entende Mateus 5:17: “Pensam alguns que já superamos os Dez Mandamentos. Que disse Cristo? ‘Não penseis que vim destruir a lei ... não vim ab-rogar...; até que o céu e a Terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido.’ Os mandamentos de Deus dados a Moisés no monte Horebe são hoje tão obrigatórios como o eram quando foram proclamados aos ouvidos do povo. Diziam os judeus que a lei não fora dada na Palestina (que pertencia a Israel) mas no deserto, porque a lei se destinava a todas as nações.” [8]
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Segundo o Novo Comentário Bíblico do Novo Testamento: “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas. Jesus refutou a acusação dos fariseus de que Ele estava anulando a Lei. A Lei serviu de aio (G1 3.19; Efésios 2:15; Hebreus 7:12), mas é eterna (Mateus 5:18; Romanos 3:31; 8.4). Como base da aliança com Israel, a Lei foi cumprida na cruz, e um novo sacerdócio foi estabelecido. Como um conjunto de princípios morais e espirituais, a Lei é eterna. Cumprir (pleroo) significa satisfazer, expandir, completar, não dar fim (teleo). Muito tem sido escrito sobre como Cristo cumpriu a Lei do Antigo Testamento (G13.15-18). Ele o fez de várias maneiras: (1) obedeceu a ela de modo perfeito e ensinou seu significado corretamente (compare com Mateus 5:19-20); (2) um dia cumprirá todo o projeto e as profecias do Antigo Testamento; e (3) preparou um caminho para a salvação que se ajusta a todos os requisitos e exigências do Antigo Testamento (Romanos 3:21-31).” [9]
Gary North afirmou também que “Cristo nunca desafiou a validade da lei do Antigo Testamento. Afinal, Ele a escreveu! Em contraste com a lei tradicional e humanista dos fariseus, está a lei de Deus: ‘Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados’ (1 João 5:3).” [10]
E no “Buck’s Theological Dictionary”, usado muito por Metodistas e Episcopais, em seu artigo sobre a “Lei”, há estes afirmações: “A Lei Moral é aquela declaração da vontade de Deus que orienta e obriga moralmente a todos os homens, em todas as épocas e em todos os lugares, em seu inteiro dever para com Ele. Ela foi solenissimamente proclamada pelo próprio Deus no Sinai. (…) É chamada perfeita (Sl. 19:7), perpétua (Mt. 5:17 e 18), santa, boa (Rm. 7:12), espiritual (Rm. 7:14), amplíssima (Sl. 119:96).” (pág. 230). [11]
Em conclusão, Mateus 5:17-18 é um forte testemunho para a validade da Lei Moral para os cristãos na Nova Aliança.
Referências
[1] Albert Barnes, Notes, Explanatory and Practical on the Gospel, v. 1, p. 65–66.
[2] João Calvino, Comentary on a Harmony of the Gospel, v. 1, p. 277.
[3] A. H. Strong, Systematic Theology, p. 546 e 875.
[4] J. A. Broadus, Comentário ao Evangelho de S. Mateus, v. 1, p. 66, 164 e 165.
[5] Charles H. Spurgeon, Sermão publicado no Melbourne Age, 1888.
[6] S. L. Gingsburg, O Decálogo ou os Dez Mandamentos, p. 4
[7] Robert Jamieson, A. R. Fausset & David Brown, Commentary on the Old and the New Testament – Mat. 5:17.
[8] D. L. Moody, Weighed and Wanting, p. 14.
[9] Earl D. Radmacher, Ronald B. Allen, H. Wayne House, O Novo Comentário Bíblico – Novo Testamento, p. 42-43.
[10] Gary North, 75 Bible Questions Your Instructors Pray You Won’t Ask, p. 99-100.
[11] Charles Buck, Buck’s Theological Dictionary, p. 230.
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