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Há muitas forças que destroem a confiança numa idéia, numa pessoa ou num sistema. Ainda que essas forças apareçam em diferentes disciplinas, são com freqüência intercambiáveis em suas ações. Podem parecer remotas em sua operação, mas são próximas em seus motivos.

Por exemplo: Há uma linha fina entre a cobiça e a prudência nas ações humanas. A pessoa que trabalha em círculos religiosos desejaria que outros cressem que suas ações numa situação financeira, em nome da igreja ou do evangelho, estão acima de toda dúvida, suspeita ou controvérsia – simplesmente porque essas ações levam a insígnia do sistema religioso. Mas, com freqüência, acostumam-se a desenvolver relações incestuosas.

Os empregados da igreja, em nome de Deus, criam uma estrutura (a) que esperam esteja por cima do escrutínio dos que entregam seu dinheiro ao sistema, e (b) (a causa da provisão da separação entre a igreja e o estado) que pensam pô-los-á fora do alcance de vigilância governamental, de um auditor honesto ou de adequadas revisões e balanços. Mas os administradores, e outros com freqüência, vêem-se envolvidos em roubos de menor quantia, conflitos de interesses e fraudes.

Naturalmente, os abusos se transferem a outras áreas da administração e as atividades da igreja. Pessoas sem uma adequada convicção espiritual ou uma informada motivação cristã, são ordenadas e ascendem a posições de poder dentro da estrutura da igreja. Arrogando-se grandes poderes políticos e administrativos, estes mercenários políticos desenvolvem a capacidade de destruir tudo o que se opõe à sua vontade. Uma vez que estão em condições de tomar decisões que podem afetar, e afetam, o bem-estar espiritual, doutrinal, evangélico e religioso do sistema que agora controlam, não permitem que nada se interponha em seu caminho. Seus "poderes reais", sob a aparência de Deus, são eventualmente usados para destruir a pureza da fé original e à igreja que tão ardentemente parecem defender.

Mudar usos tradicionais e costumes também representa um perigo para um sistema de crenças conservador. Tendo procedido sob a premissa de que Deus é o mesmo ontem, hoje e pelos séculos, os defensores de um sistema assim não podem aceitar a mudança ilustrada sem ver ameaçados seus conceitos de Deus e da verdade. Com freqüência, vêem o diabo em cada sombra, um dragão no umbral de cada porta e, no caso da Igreja Adventista do Sétimo Dia, um sacerdote jesuíta detrás de cada traje de negócios.

Pessoas com esta inclinação a deificar o passado inevitavelmente tornam rígidas suas doutrinas e seu sistema se volta resistente à mudança. Os pais fundadores se convertem em profetas, os profetas se convertem em santos e os santos se convertem em deuses com o poder de veto sobre a verdade e o estilo de vida. O comungante médio perde o contato com a realidade. E o verdadeiro crente – num esforço honesto dentro de si mesmo por ganhar a batalha da carne e do diabo (a luta espiritual do verdadeiro evangelho) – dissipará sua fortaleza e jogará jogos semânticos com as palavras de seu profeta, antes de exercitar a mente e usar seu poder de raciocínio. Desta maneira, a verdade do evangelho cedo se converte em "de nenhum efeito." E, dali em adiante, faz-se claro que qualquer que tenha sido a mensagem que o grupo tivesse a princípio, qualquer desafio espiritual e qualquer vitalidade que tenha oferecido no começo, essa mensagem e essa vitalidade ou se voltaram impotentes ou estão mortos.

A maioria dos sistemas religiosos pode sobreviver a algumas infrações menores de suas doutrinas, alguns pequenos desvios de suas normas. Mas, quando as circunstâncias se confabulam para que estes transtornos se convertam tanto em principais como em concorrentes, então um desastre de grandes proporções está à espreita.

Isso é o que muitos Adventistas pensam que é a situação na Igreja Adventista do Sétimo Dia.1 Se este é o caso, não só está enferma sua existência social, política e econômica, senão que sua vitalidade espiritual se desgasta também.

Refresquemos nossas mentes a respeito do simbolismo dos Quatro Cavaleiros do capítulo sexto do Apocalipse para ver se há algum paralelo com o sombrio panorama do Adventismo. Cada cavaleiro cavalgava sobre um cavalo de diferente cor, que se associava com as características especiais do cavaleiro, seus implementos de operação ou seus poderes.

O primeiro cavaleiro, montado sobre um cavalo branco, tinha um arco, levava uma coroa e saiu para "vencer" (obter controle). O segundo cavaleiro, montado sobre um cavalo vermelho, tinha uma espada e saiu a "tirar da terra a paz" (promover a destruição). O terceiro cavaleiro, montado sobre um cavalo negro, tinha uma balança para medir as mercadorias escassas (escassez do que é necessário para a vitalidade). E o quarto cavaleiro, montado sobre um cavalo amarelo, chamava-se a Morte.

O Primeiro Cavaleiro: do Cavalo Branco

Em junho de 1977, Robert H. Pierson, então presidente da Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia, recebeu a seguinte carta:

O outro dia me tropecei com uma lista de nomes, incluindo o seu, daí pensei que você gostaria de ter uma cópia da lista para lhe recordar o Clã e os bons tempos. É uma lista de ministros e dirigentes que têm ou tinham investido dinheiro pessoal com o Dr. Donald Davenport.

Certamente é leitura interessante. Também contesta muitas perguntas que alguns tiveram a respeito do funcionamento da igreja no passado e como e por que alguns homens chegaram onde estão. Com segurança, a lista põe ponto final à idéia promovida de dirigentes que se sacrificam e que se negam a si mesmos neste movimento. Em qualquer outro campo da atividade humana, a lista também poderia suscitar questões especiais de conflito de interesses, influir nas vendas de porta em porta e até nos subornos, quando a lista se compara com outra lista, igualmente interessante, de todas as conferências e associações que têm pangarés que somam milhões, com o mesmo homem, com freqüência estimulados e ajudados por alguns dos mesmos dirigentes e do clero.

Com freqüência, escrevemos a respeito do reavivamento, como tem de ser levado a cabo por meio da mudança e que essa mudança se produzirá pela reforma. É fácil ver por que estamos tendo, e teremos, dificuldades em nossas circunstâncias na igreja esperando ou confiando em que essa mudança tenha lugar.

Desde que vi a lista, com freqüência me perguntei que pensariam os membros leigos da Igreja a respeito da mensagem e do clero se a lista se publicasse na Review ou em algum outro jornal. Se, como disse um dirigente, foi somente um bom trato comercial a nível pessoal, então a maior parte dos leigos estaria igualmente interessada em fazer um investimento tão seguro.

Pode ficar com a lista, se deseja. Parece-me que é um triste comentário sobre nossos tempos e nossa classe dirigente na Igreja.2

A resposta de Pierson e as subsequentes respostas ou a falta delas, parecia indicar uma completa falta de sensibilidade sobre questões financeiras pelo que concernia à igreja:

É compreensível que você seja surpreendido com o recebimento de uma lista dando as quantidades pessoais que vários indivíduos depositaram com o Dr. Davenport lá na Califórnia. Em primeiro lugar, esta é informação estritamente confidencial e o fato de que se tenha convertido em propriedade um pouco pública é em si mesmo surpreendente. Posso dizer-lhe, no entanto, que esta lista foi compilada em 31 de Agosto de 1971 e com os depósitos, retiradas, etc., a lista já não é válida. Apreço muito que me enviasse a lista a mim pessoalmente em vez de transferi-la a outros.

Irmão Rea, eu preferiria sentar-me e falar com Você antes de lhe contestar por carta, mas já que não é provável que tenha oportunidade para isto, desejo fazer-lhe umas poucas observações que espero lhe sejam de utilidade.

Não posso falar em nome de nenhum dos outros inversionistas da lista, senão que desejo falar por mim mesmo. Ao passar os olhos pela lista de nomes, há certo número deles que eu, por suposto conheço bem e também sei que são generosos mantenedores da obra do Senhor e, pessoalmente, eu não desejaria julgar quanto dão pela quantidade que investiram com o Dr. Davenport. Conheço a algumas das pessoas na lista que investiram dinheiro para membros de suas famílias em seu próprio nome.

Em primeiro lugar, desejo dizer-lhe que, até onde sei, as operações do Dr. Davenport foram, durante muitos anos, abertas e honestas, e legítimas em todos os sentidos. Ele ajudou a muitos empregados e membros de algumas organizações eclesiásticas. Que eu saiba, nenhuma junta nem comitê do qual eu sou membro investiu nenhum dinheiro com o Dr. Davenport. Não pode ter conflito de interesses aqui. Em realidade, sei de apenas uma ou duas organizações que investiram dinheiro com ele. Se o fizeram de acordo com a informação que tenho, têm recebido bons interesses sobre seus investimentos e jamais perderam nenhum centavo.

Há algo imoral a respeito de apartar dinheiro para aposentar-se ou comprar uma casa? De acordo com minha informação, Ellen G White possuía várias propriedades. Alguns de nós, Irmão Rea, passamos boa parte de nossos ministérios em campos estrangeiros. Estivemos separados de nossas famílias por anos. Nossos salários eram muito menores que em nossa pátria. Vivemos em missões ou em propriedades alugadas. Não tinha oportunidade para levantar um capital como podem fazê-lo os trabalhadores aqui na pátria. Era errôneo que nós investíssemos nossas poupanças onde pudéssemos receber bons interesses até que os precisássemos para nossas aposentadorias? Não creio que seja justo criticar a ninguém por fazer isto.

Não me escuso por ter investido uma pequena soma com o Dr. Davenport. Não tenho tempo para investir em ações e bônus, etc. e gastar tempo vigiando e preocupando-me pelo mercado. Colocamos nosso dinheiro onde nos pareceu melhor, e continuamos com nossas ocupações sem nos preocupar por ele.

Pelo que concerne a dar com sacrifício, Irmão Rea, não creio que nenhum de nós dê tanto como devesse quando consideramos o que o Senhor deu por nós. Mas, posso escrever na Review com uma consciência limpa. Instar, solicitar a nosso povo a dar com sacrifício. Por anos, a Sra. Pierson e eu demos entre 20% e 35% dos nossos salários, além dos milhares de dólares dados ao programa mundial no campo por meio de meus livros, a cujas regalias, que poderia ter reclamado, renunciei. Também, dirijo um Chevrolet de 1972.

Irmão Rea, senti-me surpreso e desiludido de que um pastor de minha igreja tirasse as conclusões apressadas que Você colheu e tenha-me escrito uma carta com um questionável espírito, sem confirmar alguns fatos comigo antes de julgar. Mas isto o terei que deixar entre Você e o Senhor.3

O que a carta passa por alto é o conflito de interesses entre o homem – seja profeta, sacerdote ou pastor – e sua responsabilidade como depositário dos fundos (recursos) do povo. Da mesma maneira, Pierson passa por alto, ou não vê, que o sistema eclesiástico que ele preside como sumo sacerdote estimulava a todos (jovens e velhos, ricos e pobres), sobre uma base de autonegação, a contribuir com a maior parte de seus bens patrimoniais enquanto estivessem vivos – e com todo ele depois de sua morte – para acelerar "a terminação da obra " quando em realidade estavam ajudando aos administradores, sacerdotes, e doutores (dentre outros) a se enriquecer – tudo no nome de Deus.

Uma mudança de administração não produziu nenhuma concessão nem mudança na ênfase. Com Neal C. Wilson agora como presidente mundial, em 10 de Agosto de 1979, os quatro mais importantes oficiais da Conferência Geral escreveram conjuntamente aos presidentes e tesoureiros das uniões, bem como aos diretores e oficiais financeiros chefes das instituições da Conferência Geral:

Certas pessoas iniciaram processos de investigação e descoberta para estabelecer que relação existe entre a organização da Igreja Adventista do Sétimo Dia e o Dr. Donald Davenport. Exigiu-se que se exerça pressão sobre dirigentes e organizações para que se retirem imediatamente de qualquer envolvimento que possa ser descoberto. Está-se pedindo à Conferência Geral que revele plenamente e que faça uma declaração pública sobre até que ponto está envolvida a Igreja em investimentos nos projetos de companhias de correios e telefones de Davenport. Até onde examinamos este assunto, e fizemo-lo cuidadosamente, não cremos que seja nem prudente nem necessário neste momento.

Até este momento, não nos pareceu bem envolver-nos nesta controvérsia, especialmente porque os fundos da Conferência Geral nunca se investiram com o Dr. Davenport, e, além disso, que a Conferência Geral consistentemente instou a indivíduos e instituições a ter extremo cuidado neste aspecto, com pautas cuidadosamente redigidas e com as quais estivemos de acordo.

Não desejamos exagerar nossa reação nem sequer nesta data; mas, já que a integridade de nossos oficiais e a ética de nossos dirigentes estão sendo questionadas, haja vista as circunstâncias que antecedem e as possíveis evoluções no futuro, a administração da Conferência Geral e a Divisão Norte-americana pensam que chegou o momento de fazer uma revelação completa, e que deveria fazer-se visível toda a relação entre as organizações da Igreja, bem como entre os oficiais e os empregados responsáveis das diferentes entidades eclesiásticas e os investimentos por meio do Dr. Davenport.4

Ainda que a carta tomasse uma posição de preocupação e pedisse informação adicional, não se notava nenhuma grande mudança na intensidade da preocupação pela ética da escrupulosa separação dos interesses pessoais e corporativos.

No entanto, nem todos os administradores eram insensíveis à questão do conflito de interesses. Kenneth H. Emmerson, que cedo se retiraria como tesoureiro da Conferência Geral, tinha escrito anteriormente em 1979 ao presidente da Southern Califórnia Conference:

Li com muito interesse a correspondência entre Você e Walter T. Rea e senti-me compelido a lhe escrever somente umas poucas linhas, porquanto ele menciona a mim no segundo parágrafo da carta dirigida a Você e datada de 3 de abril. Suponho que ele se refere à correspondência que trocamos no que concerne ao Dr. Davenport.

Simpatizo por completo com ele e com sua posição pelo que concerne ao Dr. Davenport...
Assinalei-lhe que eles [um candidato para um empréstimo institucional] não deveriam ter nenhum trato em absoluto – financeiros ou de outra classe – com o doutor...

Queria que Você soubesse que apreço muito a posição deste bom pastor e, por suposto, estou muito de acordo com seus pensamentos e sua posição.5

A revelação de nomes e atividades, por si mesma, não era tão alarmante. Mas, sim, deixava no ar e aberta às dúvidas, a administração das atividades relacionadas nas posições da igreja em que os dirigentes pudessem aproveitar-se da confiança ou da fé dos membros de igreja e demonstrava a incapacidade dos administradores eclesiásticos para separar os assuntos pessoais dos corporativos. Da mesma maneira, jogava uma interessante observação à oportunidade para transferir o juízo próprio de uma área de concorrência a outra área de concorrência. Pelo menos uma pessoa cujo nome aparecia na lista de inversionistas era membro de PREXAD, o Comitê Conselheiro Executivo do Presidente da Conferência Geral, que se sentaria em juízo a respeito de temas religiosos em disputa envolvidos nos tratos administrativos com Desmond Ford e Walter Rea.6

Todo o assunto teria de chegar a um triste clímax na edição do Los Angeles Times, de 24 de Julho de 1981 , quando se anunciou a notícia de que Davenport tinha apresentado uma declaração de falência e deram-se a conhecer as perdas estimadas a algumas conferências regionais, oficiais, empregados de igreja e muitos adventistas individuais. Um relatório adicional de 9 de Agosto dizia:

Preocupados credores de Donald J. Davenport, uma vez chamado "o rei dos escritórios postais" por causa de seus vastos investimentos em edifícios postais, estão revelando evidência as quais os credores dizem mostrar que Davenport hipotecou propriedades por mais de seu valor e ofereceu aos devedores escrituras de fideicomisso sobre propriedades que não tinha.

A evidência proporciona alguns indícios do por que de uma vez o enorme império de bens raízes de Davenport se está derrubando e por que teve que procurar proteção sob as leis de falência mês passado.

Ademais, o caso é particularmente interessante porque Davenport recebeu considerável respaldo de membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia e de alguns oficiais de igreja e entidades patrocinadas pela igreja.7

O Long Beach Telegram, o jornal do povo natal de Davenport, não foi tão amável. Disse a edição dominical de 2 de Agosto de 1981:

Os críticos da igreja afirmaram que o colapso, estimado de U$S46 milhões, equivalia a um antiquado esquema de pirâmide de Ponzi, sendo respeitados ministros Adventistas do Sétimo Dia os vendedores e anciãos Adventistas as vítimas inconscientes.

Com a mudança de sua participação, os ministros Adventistas receberam viagens grátis a luxuosos condomínios em Palm Springs e Hawaii e favoráveis sobras de dividendos sobre seus investimentos com Davenport.8

A pergunta principal nas mentes de muitos que experimentaram A "arte administrativa de manobrar" do sistema deve ser esta: Se alguém não pode confiar nestes vendedores de carros usados espirituais com suas decisões a respeito do uso de dinheiro "espiritual" sobre o qual sua posição lhes deu controle e influência, como pode alguém confiar neles e suas decisões sobre assuntos teológicos e as coisas pertencentes à alma (como no caso de Desmond Ford e de Walter Rea)?

Uma mão no timão é uma mão no controle – foi o que o cavaleiro do cavalo branco saiu a obter.

O Segundo Cavaleiro: do Cavalo Vermelho

Muito se escreveu a respeito dessa experiência no cume de uma montanha em Colorado no verão de 1980 – que terá de ser recordada por muito tempo como o verão do descontentamento. O Comitê para a Revisão do Santuário foi convocado para se reunir em Glacier View Ranch, supostamente para "revisar" o estudo preparado (por solicitação dos oficiais da Conferência Geral) por Desmond Ford, um brilhante erudito e mestre adventista australiano. Por anos, Ford tinha sido uma figura controversa no ministério adventista. Sua amizade com outro australiano, Robert D. Brinsmead, cujas idéias e escritos tinham revirado a administração da igreja por uma década ou mais, parecia aumentar a dificuldade de revisar ou aceitar suas idéias teológicas.

Em disputa estavam os pontos de vista que Ford tinha discutido por convite do Foro Adventista no Pacific Union College (Angwin, California) no outono de 1979. Estes pontos de vista diferiam da maneira em que a igreja interpretava seu fundamental pilar da fé, os 2300 dias da profecia de Daniel 8:14. O espetáculo de marionetes dos administradores da igreja em Glacier View, orquestrado por Neal C.Wilson, presidente da Conferência Geral, foi a resposta a Ford.

Não deveria surpreender-nos que Glacier View se convertesse numa charada. Com pouca capacidade ou pouco desejo de se entender com os escândalos financeiros que surgiam e com pouca ou nenhuma perícia em teologia, Neal C. Wilson fez o que os políticos fazem tipicamente. Prometeu-se tudo a todos, deu-se pouco a alguns e traiu-se a maioria. O som que se levantou em grandes coros depois de Glacier View conta a história. Numa carta aberta a Wilson, datada de 10 de setembro de 1980, trinta e nove preocupados pastores e eruditos da Universidade de Andrews (assento do seminário teológico da igreja) expressaram estas preocupações, dentre outras:

Usou-se uma "declaração de dez pontos" para condenar o ministério do Dr. Ford tanto na Review como em recentes ações administrativas. No entanto, questionamos sua legitimidade para este propósito: (a) Não representa o consenso dos irmãos do Dr. Ford em que não foi nem discutido nem votado pelo grupo inteiro de Glacier View. (b) De fato, contradiz o espírito e a letra da declaração de consenso em certos pontos-chave. (c) Os autores do documento se propunham que ele explicasse a comunicação na conferência e não sabiam que seria usado para comprometer o ministério do Dr. Ford.

Você assegurou à igreja por escrito (Review, 9 de julho) que a Conferência de Glacier View não seria um juízo contra o Dr. Ford. A evidência indica, no entanto, que foi principalmente um juízo e que ali se iniciou uma ação administrativa que aparentemente o despojará de suas credenciais.9

Outra forte nota de protesto foi expressa por Lorenzo H. Grant, professor associado da divisão de religião no Southern Missionary College (Tennessee):

Pergunto-me se estou mal interpretando a situação por completo quando penso que o trabalho da comunidade erudita reunida em Glacier View foi interpretado erroneamente em sua maior parte, se não prostituído. A Review parece dar a entender que o Comitê para a Revisão do Santuário condenou os pontos de vista do Dr. Ford. A recente ação de PREXAD relativa à posição profissional de Ford ostensivamente descansa no trabalho e nos pronunciamentos desse comitê. Pelo menos, estou seguro de que é exatamente como serão interpretados pelo nosso povo.10

Por esse fragmento de sabedoria, Grant ficou perguntando-se se lhe seria concedido permissão para se afastar de sua posição – como se sucedeu a alguns outros que revelaram seus pontos de vista.

Outras instituições educativas adventistas expressaram preocupações similares. Em geral, expressaram o pensamento de que uma discussão honesta tinha sido suprimida em sua maior parte; e quando a discussão teve lugar, tinha sido mal usada e mal interpretada para ajustá-la aos próprios fins dos administradores. Resumindo, os eruditos pensaram que tinham sido enganados – como efetivamente o tinham sido.

Não tendo mostrado até agora nenhuma evidência tangível de liderança moral, o presidente da Conferência Geral desdenhou a controvérsia como uma insignificante moléstia de oposição, deixou o trabalho de limpeza a seus mercenários e deu a impressão de que os detratores só estavam expressando um descontentamento de menor valor por seu espetáculo secundário. A destituição continuou em vigor.

O mesmo Ford parecia não perceber o verdadeiro significado do papel que estava desempenhando. Com freqüência, deu a impressão de que estava ocupado num agradável concurso de esgrima e que podia dar por terminado o exercício à vontade, ainda que obviamente estivesse imerso numa guerra total. Desde sua "elevada torrezinha", tinha chegado a crer que sua contribuição ao Adventismo era "o evangelho". Mas as principais igrejas tinham tocado a trombeta do "evangelho" muito bem através dos séculos. Tinham sido apenas os comungantes adventistas aqueles que, muito antes que ele, tinham rejeitado esse evangelho e posto em seu lugar a Santa Ellen e a seus escritos. No fundo de seu coração, Ford cria que a igreja e o mundo receberiam sua mensagem, e que os eruditos iriam a seu lado. A ajuda erudita com a qual tinha contado permaneceu mais a ou menos a um lado. Não tendo tido experiência prévia nestes assuntos financeiros, nunca tinha tido que pôr a prova o peso desse cheque semanal numa balança contra o peso de sua teologia. Mas quando as considerações financeiras foram postas nessa balança, como sempre devem ser postas, resultaram pesadas.

A partir da Review, Ministry, e outros principais órgãos adventistas de propaganda, era óbvio que pelo menos a oficialidade adventista não estava a ponto de abrir a porta à qual tocavam Ford e seu Cristo.11 Por que teriam que o fazer? Tinham a Ellen (que havia ajudado a fechar essa porta em 1844); a primogenitura deles era uma posição confidencial; e não iam admitir, depois de cento trinta e tantos anos, que sua franquia celestial estava comprometida de modo algum.

E assim, a imprensa controlada pelos adventistas, sempre lendo erroneamente os sinais dos tempos, continuou sacando rapidamente montes de material sobre questões teológicas em disputa que a poucos leitores lhes interessavam, e que poucos entendiam ou precisavam.

As hordas de adventistas que iam a ouvir a Ford prestaram pouca receptividade duradoura à história de seu evangelho ou aos finos matizes de suas idéias teológicas. Só se davam conta de que ele era agora um dos que se opunham ao sistema que os tinha oprimido. Ford se tinha convertido, principalmente, num símbolo de descontentamento e de "rebelião" contra o abuso e a arrogância administrativos.

Os colegas de Ford se congregaram ao redor dele, simbolicamente, à distância. Agora que estava fora do sistema, representava a liberdade acadêmica que eles tinham perdido. E lhes ficou a sensação de ter sido comprados e pagos pela igreja – mas sem liberdade mental nem convicção, sem direito a uma audiência justa e sem nenhum sinal no horizonte que predissesse mudanças ou um futuro feliz.

Em geral, poderia dizer-se que a igreja tinha entrado para a década de 1980 com um considerável número de cadáveres dispersos através do panorama teológico – contando a todos os que foram desfraterrnizados, desalojados, despedidos de estudos de seminários, sumariamente excluídos, mandados de férias ou, por quaisquer outros meios (voluntária ou involuntariamente), separados da igreja de uma maneira não pacífica.

Poderia tal promoção da destruição do serviço assim e uma causa para o desencanto assim indicar que o cavaleiro montado no cavalo vermelho tinha cavalgado através do acampamento?

O Terceiro Cavaleiro: do Cavalo Negro

Se os estudos de Ford eram perturbadores, as investigações de Rea eram francamente alarmantes.12 As notícias a respeito dessas investigações fizeram com que os administradores corressem a seus computadores com as mãos suadas.

Ford tinha estado tratando de reconstruir o passado sobre uma base mais sólida. Seu "Sola Scriptura" era uma honesta tentativa de fazer que a igreja regressasse a sua posição original, a Bíblia e a Bíblia só. Ainda que soasse perigoso para os cultistas (que já estavam recebendo instrução intermediária através de uma profetisa), tal conceito teve sempre uma salvaguarda incorporada. Cada sistema foi o suficientemente inventivo (e, quiçá, o bastante prudente) para criar e fomentar seus próprios supervendedores, que conhecem o vocabulário do sistema. Assim, ao verdadeiro crente se vende a interpretação da verdade da Escritura através dos supervendedores de seu sistema. O que ao comunicante se ensina em realidade é um substituto da fé em seu mestre (instrutor, supervendedor ou teólogo) muito mais que a fé no fundamento de toda crença: as Sagradas Escrituras.13.

Por outro lado, Rea era guerrilheiro. Parecia apontar à jugular. Seus estudos estavam calculados para inclinar a balança contra a autoridade de Ellen G. White e de seus escritos – o que, em conseqüência, dava um giro ao redor da autoridade dos supervendedores do sistema e deixava que cada homem fosse seu próprio sacerdote diante de Deus. Esta idéia – se realmente calou alguma vez – seria, não apenas horrível, senão inteiramente horrenda para um sistema baseado na interpretação da verdade por uma profetisa.

Olhe a confusão que resultaria se cada membro começasse a estudar e interpretar a Bíblia por si mesmo. Um poderia terminar com uma verdade inaceitável para um sistema governado por administradores. E que sucederia se o membro decidisse que não é necessário comprar as indulgências vendidas pelos supervendedores? Isto é: (a) se não atinge "o alvo da Recolta" (pedir dinheiro em público), poderia perder alguns pontos com Deus; (b) se não estuda sua lição da Escola Sabatina todos os dias, não obteria nenhuma estrela de ouro nos livros do céu; (c) se seus meninos vão a uma escola pública, perder-se-iam para o céu; (d) se decide que não é necessário entregar dízimos e ofertas somente ao sistema eclesiástico ou se decide não deixar todas suas posses para a igreja enquanto é arrastado fora deste mundo pateando e gritando, não teria a balança financeira inclinada a seu favor; (e) se decide não comprar a falsa tolice vegetariana vendida pela igreja, então sua vida se encurtaria. E assim sucessivamente.

O sistema não proporcionou nenhuma mínima evidência de que seguir todas as instruções de Ellen G. White e seus escritos quanto a fazer isto e não fazer aquilo produziu gente espiritualmente superior. A igreja tentou demonstrar que alguém pode viver mais tempo nesta terra seguindo certos saudáveis costumes e práticas. Mas há abundante evidência provando que quanto mais vive essa pessoa, pior se torna, e faz-se mais difícil bem lidar com elas – tal como sucede com o resto das pessoas.

Sem se importar se há nova evidência ou se não há nenhuma evidência, pessoas inteligentes e razoáveis não concordam com Ellen G. White em que (a) uma mulher é mais espiritual se não usa um anel de casamento; (b) que a Conferência Geral dos Adventistas do Sétimo Dia em sessão é "a mais alta autoridade" de Deus sobre a terra; (c) que na questão dos jogos sexuais dos casais, felizmente casados, (tendo sido declarado o sexo uma concessão à natureza "animal", e, talvez, a causa das enfermidades), quanto menos melhor; (d) que a manteiga, os ovos, e o leite devem ser estritamente proibidos aos meninos, por causa de seus efeitos sobre as baixas paixões e a vida espiritual; (e) que as perucas produzem loucura; (f) que a carne tem a tendência a animalizar a natureza e a roubar do homem a simpatia que deveria sentir por todos.

Tanto Ford como Rea (cada um por sua conta) lutavam pela mesma meta que outros antes deles tinham ansiado – a liberdade de cada indivíduo para receber sua própria interpretação da autoridade final de toda verdade espiritual: somente as Escrituras. Esta liberdade só pode atingir-se indo diretamente a Deus por meio do dom do Espírito Santo. Era a autoridade do sistema o que estava sendo desafiada – a autoridade dos teólogos desse sistema para interpretar a verdade a seu próprio modo para todos os demais. E era a autoridade da mesma Ellen G. White o que os estudos deles declinavam aceitar como a última palavra, com um virtual poder de veto sobre a mente humana. Nenhum homem que fez esse desafio tinha sobrevivido jamais em sua posição na Igreja Adventista.14

E os comungantes adventistas, que agora tinham razões para crer que suas bilheterias, bem como sua fé na doutrina, estavam sendo comprometidas, estavam-se interessando e estavam começando a fazer perguntas. Tinham fome de uma salvação que já estava assegurada no Calvário. Estavam tratando de atingir um perdão que vinha sem suborno e uma paz que não precisava ser comprada nem vendida em alguma "Casa de Livros e Bíblias" ou algum tipo de campanha.

Não era o estilo de vida adventista o que as pessoas queriam derrubar. Queriam jogar fora do templo aos cambistas que tinham corrompido o sistema. Eram os supervendedores que tinham especulado sua mercadoria no nome de Deus, o que as pessoas estavam rejeitando. Eram os giros e as voltas da profetisa adventista, Ellen Gould Harmon White – usada pelos supervendedores para tentar tamponar cada buraco, para descartar cada verdade, para fazer valer cada argumento – o que as pessoas estavam rejeitando. Não era a verdade do Evangelho o que as pessoas queriam abandonar.

A falta de alimento mata de fome ao corpo. Da mesma maneira, negar a uma pessoa a liberdade e o incentivo para pensar por si mesma é igualmente uma forma de privação. Quando falta esse elemento essencial para a vitalidade, o cavaleiro do cavalo negro fez sua obra.

O Cavaleiro do Cavalo Amarelo

Existiu morte na panela Adventista por longo tempo.15 O movimento Millerista de 1844 não produziu a Segunda Vinda, nem "terminaram a obra" os membros que ficaram com essa decepção. Cada nova crise trouxe novas promessas – que tinha mais desenganos, mais isolamento e mais extremos. Os meninos que, de acordo com Ellen G. White, nunca deveriam ter nascido, cresceram e tiveram seus próprios filhos (e netos) durante "esta geração"16 para a qual cada interpretação revisada se converteu em nada.

O contínuo aumento dos desembolsos financeiros necessários para ser cliente do sistema educativo da igreja obrigou às famílias da igreja a reavaliar suas prioridades financeiras. Muitos moços e moças da igreja agora se educam total ou parcialmente fora do sistema – e em conseqüência têm acesso às mentes, aos materiais, aos métodos e às idéias que não estavam disponíveis ou não eram aceitáveis para a igreja ou seus educadores "comprados." Este era um dos temores que Arthur White expressou em seus comentários dentro da organização em relação com o proposto estudo de Desire of Ages (O Desejado de Todas as Nações) de Ellen White:

Tenha-se apresente que o adestramento nas universidades para aceitar e crer só o que pode ser provado pela satisfação do pesquisador pode conduzir facilmente a um enfoque que não leva em conta que pode ter características perturbadoras nos escritos inspirados, que resultam na necessidade da fé, como o explicou Ellen White ao discutir as investigações da Bíblia e seus escritos.17

Se a Universidade de Andrews participa nisso – são os eruditos adestrados em métodos de investigação por universidades conhecidas por ter demolido a fé na Bíblia e a confiabilidade dos relatos bíblicos, capazes de emitir um juízo adequado em áreas nas quais são fatores importantes uma absoluta honestidade na aceitação dos registros e da fé baseada na evidência? Ao tomar decisões quando o pesquisador tem que escolher a melhor resposta, falhará a fé na inspiração de Ellen?18

É fácil ver que Arthur White não se sentia seguro, nem sequer com a "educação superior" que se dispensava na Universidade de Andrews, a cidadela da igreja para o ensino de seminários. O tom e a substância de suas páginas indicam que a Avó Ellen era a número um em sua lista e que todas as outras considerações e preocupações ocupavam um lugar secundário em seus conceitos da educação e da verdade. Tinha chegado a submeter à prova a verdade inteiramente por meio dela, e para ele ela era toda a verdade – a primeira, a última, e para sempre.

A obra médica da igreja (o "braço direito da mensagem") também estava em problemas. Obrigados pelas grandes mudanças – novos costumes e regras, problemas de pessoal; o que se pensava que era uma decadência na ênfase espiritual; os avanços no conhecimento da ciência médica; e mesmo o ritmo da vida moderna – os centros médicos, os hospitais, asilos de velhos e outras instituições de saúde, para todos os fins práticos e em grande parte, retiraram-se estruturalmente, se não filosoficamente, do cuidado terno e amoroso da vigilante supervisão do clero da igreja. O clero ainda controlava as juntas e tomava as decisões, em nome de Deus, para entidades médicas, até que se viu obrigado pelo estado e as leis federais a mudar algumas práticas e permitir que mais talento local profissional e não clerical se envolvesse no controle.

O programa evangelístico do Adventismo também mostrava sinais de envelhecimento. Tinha pouca evidência de que seu ministério público de rádio e televisão pudesse competir com sucesso com as magnéticas personalidades que inundavam o mercado.

As enquetes aceitáveis para a igreja proporcionavam estatísticas que mostravam que o Adventismo sofria de uma crise de identidade – as pessoas com freqüência os confundiam com os Mórmons, as Testemunhas de Jeová e outros.

Outros estudos mostravam que uma alarmante apatia se tinha apoderado dos membros, com as deserções aumentando a um ritmo perturbador. Só baixando os estandartes, aumentando a propaganda, apelando aos grupos sociais e econômicos mais baixos e inflando as listas da membresia puderam apresentar cifras de crescimento salvadoras das aparências na América do Norte. Quiçá, só outra guerra mundial ou alguma outra crise de grandes proporções possa reverter toda a situação.

Mas, talvez, o mais inquietante sinal de degeneração do movimento Adventista é a incapacidade para aceitar a mudança e o mundo real como agora existe. Para eles, "o choque futuro" é real e não o podem aceitar. As reuniões de Glacier View e Glendale trouxeram à luz toda a histeria, a paranóia e o extremismo que a igreja tinha ocultado por mais de cento e trinta anos. Desde o movimento de 1844, não se tinham sentido mais ameaçados, mais nus e mais sós ante o mundo. O artigo do Los Angeles Times de 23 de Outubro de 1980 sobre Ellen G. White e suas cópias de material alheio foi como voltar a tocar um disco velho. Eram os adventistas contra o mundo, tal como Ellen tinha dito que ocorreria. Até nas famílias da igreja se traçou uma linha entre os bons e os maus, os santos e os pecadores. O conceito do juízo foi baixado das cortes celestiais e deu-se-lhe forma e salvação à vista de todos.

As cenas que os administradores tinham imaginado enquanto liam The Great Controversy (O Grande Conflito) foram apresentadas outra vez nas igrejas locais, nas conferências e instituições de ensino. Os ministros ambulantes dos escritórios principais de Washington, D . C. reuniram-se aos estudantes de teologia, dentro e fora do sistema da igreja, e disseram-lhes que ou se alinhavam ou teriam que se ir. Os mestres das escolas superiores da igreja, bem como das escolas secundárias, e até das primárias, foram levados perante servidores públicos e se lhes disse que assinassem o compromisso de lealdade. Aos ministros lhes foi dito que gravassem os clichês aceitáveis e enviassem-nos a seus teólogos superiores. Alguns até foram despedidos por não conhecer a nomenclatura correta. Os membros se alarmaram. A oficialidade escreveu nos órgãos de propaganda que se dissesse aos membros que estes eram tempos perigosos, mas que os bons e os salvos passariam incólumes, como Ellen G. White havia dito.

Este era o tempo do Omega ao qual Ellen tinha aludido, dizia-se. Qualquer que seja a correta interpretação disso ou se sua autenticidade é bíblica ou não, não importa. Um folheto que o afirmava foi enviado grátis aos ministros Adventistas de fala inglesa.

Não pareceu ocorrer aos irmãos de PREXAD que o que eles estavam escutando eram as carpideiras chorando a morte de Ellen. Ela tinha morrido em 1915. E agora o que morria era sua autoridade sobre os membros do culto. Os dirigentes tinham perdido o controle, para sempre, sobre as vidas de seus membros. Era um fascinante paralelo com os tempos do passado. Ellen tinha escrito a respeito de isso em The Desire of Ages. Mas, se os irmãos o estavam lendo, não o estavam aplicando a si mesmos. De acordo com Ellen White, foi Satanás quem instou ao concílio de Caifás para matar a Cristo baseando-se nas ofensas que tinham sofrido da parte de Cristo, o que voltou a contar:

Quão pouco tinha honrado a justiça deles. Apresentava uma justiça muito maior, que todos os que desejam ser filhos de Deus deveriam possuir. Sem se fixar em suas formas e cerimônias, tinha animado aos pecadores a ir diretamente a Deus como a um Pai misericordioso e fazer-lhe saber suas necessidades. Assim, na opinião deles, Ele tinha feito a um lado o sacerdócio. Tinha recusado reconhecer a teologia das escolas dos rabinos. Tinha revelado as malvadas práticas dos sacerdotes e tinha prejudicado sua influência irreparavelmente. Tinha rebaixado o efeito de suas máximas e tradições, declarando que, ainda que fizessem cumprir estritamente a lei ritual, anulavam a lei de Deus.20

Ninguém na atualidade jamais tinha ido tão longe como até onde Ellen parecia dizer que Cristo tinha ido ao rejeitar a aceitável estrutura de seu tempo. Mas a perspicácia dela tinha jogado a culpa sobre o temor daqueles antigos dirigentes de perder sua autoridade.

Da mesma maneira, os supervendedores da igreja de hoje envenenaram a sua própria profetisa. Em suas tentativas por obter liberdade para si mesmos e licença para seus amigos, têm linchado à mesma dama que professam adorar. Por seu descuido da instrução pessoal – dada, como asseguraram, por inspiração e pelo Espírito Santo – deram um triste exemplo de desperdiçar todos os princípios que Ellen G. White havia deixado.

O quarto cavaleiro, montado sobre o cavalo amarelo, foi o último em cavalgar. De acordo com Apocalipse, seu nome era a Morte.

Referências e Notas

  1. Os artigos publicados em Spectrum, a publicação trimestral da Associação de Foros Adventistas, desde 1978 até 1981, confirmam esta observação a respeito da condição da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
  2. De Walter T. Rea para Robert H. Pierson, 14 de Junho de 1977.
  3. De Robert H. Pierson para Walter T. Rea, 23 de Junho de 1977.
  4. De Neal C. Wilson, Charles E. Bradford, Kenneth H. Emmerson, e Martin E. Kemmerer para os presidentes e tesoureiros das uniões, diretores e chefes de escritórios financeiros da instituição da Conferência Geral, 10 de Agosto de 1979. Cópia em fac-símile em SDA Release (Collegdale, TN: Adventist Layman Council, n.d. [ca. Janeiro de 1981]), p. 4.
  5. De Kenneth H. Emmerson para Harold L. Calkins, 10 de Abril de 1979 , SDA Press Release, p. 4.
  6. Representando a PREXAD 1980, Charles E. Bradford, Kneneth H. Emmerson, W. Duncan Eva, Clyde Ou. Franz, A. Edwin Gibb, Willis J. Hackett, Richard Hammill, C. D. Henri, Martin E. Kemmerer, Alf Lohne, M.S. Nigri, G. Ralph Thompson, Francis W. Wernick.
  7. Doris A. Byron e John Dart, "Creditors Learning Why Davenport Empire Fell" [Os Credores se Inteirando Por que Caiu o Império de Davenport], Los Angeles Times, 10 de Agosto de 1981 , seção de negócios, p. 1.
  8. Doreen Carvajal, "Seventh-day Adventist´s Empire Collapses on Church", Long Beach Press-Telegram, 2 de Agosto de 1981.
  9. [Andrews University] Concerned Pasors and Scholars, "An Open Letter to President Wilson from Concerned Pastors and Scholars at Andrews University Seminary and Graduate School", 10 de Setembro de 1980.
  10. De Lorenzo H. Grant para Fritz Guy, 8 de Setembro de 1980.
  11. Julgou-se em amplos círculos que, durante 1980 e 1981, as publicações denominacionais deixaram de apresentar o ponto de vista de Desmond Ford e tinham "prejulgado" o trabalho que estava preparando publicando uma superabundância de material enfatizando a "posição histórica" dos oficiais.
  12. Glendale Committee, "Ellen G. White and Her Sources", fitas gravadas da sessão de Janeiro 28-29. Gastou-se mais de uma hora decidindo que palavras usar para informar ao "povo."
  13. Desmond Ford, Daniel 8:14, the Day of Atonement, and the Investigative Judgment (Casselberry, FL: Euangelion Press, 1980).
  14. Earl W. Amundson, "Authority and Conflict - Consensus and Unity", fotocopiado (trabalho apresentado na Consulta Teológica, Glacier View Ranch, Ward, CO, 15-20 de Agosto de 1980). Este trabalho por Amundson, presidente da Conferência da União Atlântica dos Adventistas foi apresentado como resposta ao chamado de Willis J. Hackett para a adoção de um credo. Na página 16, Amundson diz: "É um fato histórico que a maioria das luminárias que abandonaram nossa igreja se foram por causa da autoridade atribuída aos escritos de Ellen White."
  15. II Reis 4:38-41. A história de Eliseu em Gilgal e o vaso.
  16. Mateus 24. Neste capítulo, Cristo predisse a destruição do templo, as calamidades que viriam, e os sinais de sua vinda em juízo. Versículo 34. Não passará esta geração sem que todo isto aconteça.
  17. Arthur L. White, [Confidencial] "Comments on the Proposed Study of Desire of Ages", fotocopiado (Washington: EGW Estate, 30 de Novembro de 1978), p. 3.
  18. Ibid., p. 5.
  19. Alvin Toffler, Future Shock (Westminster, MD: Random House, 1970).
  20. Ellen G. White, The Desire of Ages (Mountain View: PPPAm 1898), pp. 540-41.

 

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