Texto de Estudo

Israel pecou, e transgrediram a minha aliança que lhes tinha ordenado, e tomaram do anátema, e furtaram, e mentiram, e debaixo da sua bagagem o puseram.   Josué 7:11

INTRODUÇÃO

Depois de conquistar Jericó, o povo de Israel tinha à frente um segundo obstáculo, a pequena cidade de Ai. Mas, nessa campanha, o povo foi inexplicavelmente derrotado. Josué, desconsolado e triste, consultou o Senhor sobre o porquê de tamanha derrota. Deus respondeu que havia pecado no meio do povo e, por isso, os hebreus não tinham triunfado. O mesmo povo que atravessou o rio Jordão, invadiu a cidade de Jericó quando o Senhor derrubara suas muralhas, foi derrotado diante de um pequeno e insignificante exército.

Por causa do pecado de um homem, todo o exército sofreu. O capítulo sete do Livro de Josué narra o fracasso de Israel em sua primeira investida contra Ai (vs. 1-5), a desoladora oração de Josué (vs. 7-9), a resposta e a orientação do Senhor (vs. 10-15) e a confissão e o julgamento de Acã (vs. 16-26).

O propósito do capítulo sete de Josué, que deve ser lido em estreita conjunção ao capítulo oito, é fácil de ser reconhecido. O Senhor, que dá a Terra Prometida ao seu povo, e que ofereceu um exemplo impactante disso na conquista de Jericó, exige que os hebreus sejam leais à Aliança feita. Quando esta é violada (v. 11), Israel sofre um revés diante de Ai; a ira de Deus inflama-se, e é indispensável obter o perdão divino. Só assim Israel teria novamente garantia de vitória (8:1).

Nesta lição, aprenderemos que o pecado de apenas um homem pode afetar uma nação inteira, trazendo culpa, tristeza, fracasso e derrota.

 

A GRAVIDADE DO PECADO OCULTO

Este capítulo revela como a fé do povo de Deus pode ser solapada e estropiada pelos efeitos contaminantes de um pecado oculto de apenas um único membro. O pecado espreita à sombra da vitória da fé; como fermento, logo contamina tudo. Vemos também Josué, como guia espiritual, que obteve a confissão do pecador com um misto de doçura e severidade (Josué 7:19 20), para que a nação pudesse repudiar o pecado e ficar livre do anátema que repousava sobre ela.

O capítulo deixa claro que o livro de Josué, e a historiografia hebraica como um todo, pretende mais do que apresentar uma crônica dos eventos. Pretende-se que a luz da revelação ilumine os eventos, de sorte que, por meio deles, os princípios pelos quais Deus escreve a história redentora tornem-se claros para as futuras gerações de leitores e para a Igreja ao longo das eras.

Vejamos o que o capítulo ensina:

1. A ordem divina para Israel. Deus havia advertido Israel quanto a ninguém poder se apossar dos despojos de Jericó, pois estes eram declarados “anátemas” pelo Senhor: “Porém a cidade será anátema ao SENHOR, ela e tudo quanto houver nela”. (Josué 6:17) O termo anátema, ou interdito significa “coisa consagrada ou interditada”. Trata-se de objeto consagrado, incondicionalmente, a Deus, proibido para uso ou apropriação do homem. (Levíticos 27:28) O anátema, às vezes, tinha de ser queimado ou totalmente destruído. E, se era consagrado ao Senhor, tornava-se maldição para os que se apropriassem ou dele se utilizassem. Foi justamente o que aconteceu com Acã; ele apoderou-se daquilo que era exclusivo do Senhor. Sua ganância levou toda a nação a sofrer uma humilhante derrota diante do exército de Ai. De igual modo, o cristão deve afastar-se do pecado e das coisas que prejudicam sua comunhão com Deus e maculam, direta ou indiretamente, a Igreja de Cristo.

2. O pecado de Acã. Acã era descendente de Judá, membro da tribo da qual nasceriam Davi e Jesus. No hebraico, seu nome significa “perturbação”, sentido apropriado para aquele que “turbou” a Israel e foi “turbado” pelo Senhor (v.25). Ele desobedeceu, conscientemente, à ordem do Senhor. Dessa forma, violou a Aliança com Deus. (v.21) Tornando-se desobediente, Acã negou a fé no Senhor; não colocou as coisas de Deus em primeiro lugar e deu ouvido à ganância pelas riquezas. Ele achou mais importante obedecer à sua cobiça do que obedecer a Deus. Preferiu se rebelar contra o Senhor a obedecer-lhe. No momento em que desobedeceu, a cobiça deu lugar ao pecado contra Deus, porque a “cobiça começa com o olhar, depois o desejo e, por fim, dá a luz ao pecado, e este produz a morte”. (Tiago 1:15 BV)

Dominado pela avareza e pela ambição, Acã apropriou-se de alguns utensílios declarados anátemas: uma capa babilônica, duzentos siclos de prata e uma cunha de ouro (v.21), ou seja, 200 barras de prata pesando aproximadamente 2,6 quilos, e uma barra de ouro que pesava mais ou menos 650 gramas. Seu pecado resultou em graves consequências à sua família e a toda a nação israelita. (vv.5,25) Isto é, trouxe “perturbações” coletivas. A palavra empregada para descrever a transgressão significa, literalmente, “agir às ocultas”, daí “traiçoeiramente”, “secretamente”, e indica violação de confiança (Levíticos 5:15), geralmente contra o Senhor, como nesse caso, mediante o furto ou a retenção daquilo que lhe fora santificado. Sejamos, portanto, cuidadosos com nossa vida espiritual a fim de que nossos pecados não sirvam de escândalo e estorvo para toda a comunidade cristã. (Mateus 18:6-9)

3. O caráter coletivo do pecado de Acã. Como foi dito anteriormente, o pecado de Acã prejudicou todo o povo de Israel. Precisamos entender o pecado como Deus o vê: maldito, repulsivo, virulento e destruidor.

A Bíblia assevera-nos que, pela desobediência de “um só homem” (Adão), todos “foram feitos pecadores”; como também “pela obediência de um, (Cristo), muitos serão feitos justos”. (Romanos 5:17-19) O pecado produziu a morte, mas o poder do sacrifício de Cristo produziu a vida eterna. (Romanos 5:21; João 3:16)

A descrição da ofensa tem como base o princípio salutar da solidariedade. Um único homem é o ofensor, mas toda a comunidade é tida como transgressora, e a ira do Senhor acende-se contra ela. O indivíduo funciona dentro do contexto mais amplo da comunidade da qual é parte. Acã roubou a pureza e a santidade que a nação devia ter diante de Deus. Vê-se também esse senso de solidariedade corporativa na designação do pecado como “loucura em Israel”. (v. 15) Culpa corporativa e responsabilidade individual seguem lado a lado. Embora todo a nação de Israel esteja envolvida, Acã é isolado como o perpetrador do ato pecaminoso. E sua genealogia é recuada a quatro gerações, o que indica o zelo do autor em expor o pecado e mostrar sua gravidade.

 

 

AS CONSEQUÊNCIAS

As consequências foram terríveis. Acã tinha pecado, mas a consequência do seu ato caiu sobre Israel. Vejamos:

1. Josué é surpreendido pela derrota. (Josué 7:3-5) Josué, ao enviar alguns espias à cidade de Ai, nada sabia sobre o pecado de Acã. Aqueles homens fizeram com que o grande líder de Israel acreditasse que seria muito fácil vencer aquele povo. Não precisariam dispor de grande quantidade de soldados. Então, Josué confiou integralmente no relatório das sentinelas e enviou para o combate apenas uns 3.000 homens. Todavia, para surpresa dos israelitas, o exército de Ai resistiu bravamente, fazendo com que Israel batesse em retirada.

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A notícia de que 36 soldados haviam sido mortos, trouxe desespero e perplexidade ao povo: "O coração do povo se derreteu e se tornou como água". (v.5) A linguagem escolhida para descrever o efeito da derrota sobre o povo de Israel é semelhante à usada para a condição desanimadora dos cananeus diante de Israel. Os papéis foram trocados como resultado da desobediência do povo à ordem de Deus. A razão da derrota estava no pecado oculto, pois somente Deus sabia da desobediência de Acã. Quem esconde seus pecados não desfruta da ajuda e da proteção divinas e, consequentemente, não resiste aos inimigos. Jamais olvidemos que nada fica oculto aos olhos do Senhor; ele é onisciente (Salmos 139:1-6), onipresente (Salmos 139:7-12) e onipotente (Salmos 139:13-18).

2. Josué clama a Deus. (Josué 7:6-9) Josué ficou abatido pelo choque e manifestou seu abatimento valendo-se das expressões costumeiras de tristeza, como rasgar as vestes e pôr terra sobre a cabeça. A vívida descrição do narrador potencializa a pungência da cena, ampliando a imagem da gravidade da ofensa que acarretou essa derrota assombrosa. O comandante de Israel não podia compreender o que estava acontecendo! Após extraordinária vitória contra Jericó, nada poderia explicar o desbaratamento de suas tropas diante do outro pequeno exército adversário. Haveria algo de errado com suas estratégias? Devia ter enviado uma quantidade maior de soldados? Teria sido melhor se tivessem ficado dalém do Jordão? Por que Deus não os assistira? Na condição de eficiente líder, ele sentiu o peso da responsabilidade e pôs-se a interceder humildemente por Israel.

Em nossas derrotas, fracassos, prejuízos e outros sofrimentos, devemos buscar o Senhor, suplicar a sua direção e pedir socorro. Assim como Josué e outros líderes, devemos nos humilhar para que possamos ouvir a voz do Senhor. Josué sentiu-se desanimado e deprimido com aquela derrota, mas o Senhor concedeu-lhe direção e novo ânimo: "Levanta-te!". (v.10) Demonstra-se a marca da verdadeira espiritualidade quando é a glória de Deus que motiva a vida do servo.

3. O pecado oculto é descoberto. (Josué 7:14-15) A maneira pela qual as tribos das famílias foram selecionadas não é revelada. O povo de Israel costumava "lançar sortes" (Josué 18:10; Números 33:54; Juízes 1:3), por meio de pedras ou do "Urim e Tumim". (Êx 28:30) Era dessa forma que as escolhas eram feitas e as decisões mais importantes tomadas, sob a direção do Senhor.

Como vemos no episódio, tribos e famílias foram sendo apresentadas, até que se chegou à pessoa em pecado, envolvida diretamente com o anátema (v.14). Todos tiveram oportunidade de refletir sobre a gravidade daquele pecado. Até então, Acã não havia confessado sua transgressão, nem demonstrado qualquer resquício de arrependimento (v.21). Quando chegou a vez de sua tribo e família (vv.17-20), não havia mais como se esconder e ele teve de confessar e assumir, juntamente de toda a família, a terrível consequência de seu pecado. Foram sentenciados com a morte. (Josué 7:22-26)

Um pecado não tratado no meio da Igreja traz sobre ela a ira Deus. Por isso, nunca devemos nos acomodar com o pecado em nosso meio. Ao contrário, precisamos tratar da ferida antes que ela destrua todo o corpo, antes que prejudique a Igreja toda.

 

A NECESSIDADE DE SANTIDADE

Deus abençoa seu povo quando ele age com fidelidade. E, quando vive conforme os padrões estipulados por ele, redunda em grandiosa graça. Mas tudo isso perde o valor se tivermos no meio da Igreja um pecado oculto, pessoas vivendo deliberadamente na prática de pecado. Se tal pessoa tem um ministério, a situação fica pior ainda. Um líder desobediente e em pecado não tem autoridade para abençoar ninguém. Isso é muito sério! O pecado tem de ser extirpado e a santidade, restaurada.

O texto diz que o povo prevaricou, agiu infielmente contra o Senhor. Negou a justiça de Deus, o caminho de retidão e tornou-se igual aos perversos. E, quando isso acontece no meio do povo da Aliança, Deus exige purificação no meio do povo. O Senhor não deixa o povo viver em rebeldia e impureza. A Igreja de Cristo deve viver em santidade para que a ira divina não venha sobre ela. Que o pecado de Acã sirva de exemplo e alerta para toda a Igreja: nós não somos tratados como indivíduos isolados, mas como um corpo orgânico – o corpo de Cristo. E Cristo julgará a sua Igreja conforme as suas ações. Por isso, deve reinar sempre.

 

LIÇÕES PRÁTICAS

            Paul Hoff propôs quatro lições práticas que podemos extrair dessa passagem das Escrituras Sagradas; são elas:

1)    Deus exige que seus soldados sejam puros; se não forem, perderão as batalhas. A santidade é uma condição indispensável ao triunfo.

2)    Não existe algo tão insignificante que não possa derrotar o povo de Deus quando ele não tem a ajuda divina. Ai era um lugar muito pequeno.

3)    O pecado de um indivíduo pode trazer tristes consequências para todos. “Nenhum de nós vive para si”. (Romanos 14:7) Trinta e seis homens morreram, e a comunidade ficou manchada e vencida pelo pecado de uma família.

4)    A oração não anula o castigo quando há pecado no acampamento. Nada torna a oração tão ineficaz do que o pecado oculto.

 

CONCLUSÃO

O final dessa história é sinistro! "O salário do pecado é a morte". (Romanos 6:23) Acã foi morto com sua família, e todos os seus bens foram destruídos pelo fogo. Os israelitas que conquistaram Jericó jamais deveriam sucumbir à tentação do anátema, mas vencê-la com fé e heroísmo. Assim, também o cristão não deve ceder à tentação das riquezas deste mundo, mas seguir fielmente em direção à Terra Prometida.

Todo pecado oculto deve ser extirpado do nosso meio. Há diferença entre a pessoa que peca, arrepende-se, confessa seu pecado e muda de vida, e aquela que vive na prática do erro, sabe que está em pecado, mente, aparenta santidade dentro da igreja, mas vive pecando dentro da própria Igreja. Não podemos esquecer: isso é abominação para o Senhor e não vai ficar sem juízo. Vamos viver a Aliança que Deus tem conosco em santidade de vida.

 

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