Texto de Estudo

Marcos 4:26-27:

26 E dizia: O reino de Deus é assim como se um homem lançasse semente à terra. 27 E dormisse, e se levantasse de noite ou de dia, e a semente brotasse e crescesse, não sabendo ele como.

Marcos 4:30-31:30 E dizia: A que assemelharemos o reino de Deus? ou com que parábola o representaremos? 31 É como um grão de mostarda, que, quando se semeia na terra, é a menor de todas as sementes que há na terra;

INTRODUÇÃO

 

As parábolas das sementes foram contadas por Jesus em seu ensino público e a mensagem delas tem em vista ensinar sobre o reino de Deus, tanto a da semente quanto a do grão de mostarda chamam a atenção para a realidade e o crescimento do reino de Deus, e para isso destaca-se alguns pontos relevantes que ajudam no entendimento. As duas parábolas tem o mesmo foco: expor o reino de Deus.  Nesta lição teremos  a oportunidade de analisar cada uma das partes propostas.  

 

CONTEXTO

Somente Marcos registrou a parábola da “Semente que Cresce em Secreto”, enquanto a Parábola do Grão de Mostarda foi escrita também por Mateus (13:31-32) e Lucas (13:18-19). Provavelmente Jesus a contou no início de seu ministério, quando seu ensino sobre o “Reino de Deus” era visto de maneira duvidosa devido a maneira simples como ele era apresentado e também por ter se iniciado entre as classes menos favorecidas da época; visto que seus primeiros seguidores eram pessoas simples como pescadores, e desprezíveis como publicanos. Muitos duvidaram que o ministério de Jesus seria bem sucedido. Então Jesus tomou como exemplo o processo de plantio e crescimento de uma semente para ilustrar como cresceria o reino inaugurado por ele. Para o presente estudo tomaremos as duas parábolas por parte:  

 

A SEMENTE QUE CRESCE EM SECRETO (4:26-29)

 

“Disse ainda: O reino de Deus é assim: como se um homem lançasse a semente à terra; depois, dormisse e se levantasse, de noite e de dia, e a semente germinasse e crescesse, não sabendo ele como”(vs. 26,27). Nada é dito sobre a identidade deste “homem”, poderia ser qualquer agricultor dos tantos que exerciam tal atividade no tempo de Jesus. No que diz respeito a ele a ênfase está sobre suas atividades, ele “semeia”, “dorme e levanta”. Há certa passividade em relação a ele, pois após lançar a semente nada mais poderá fazer a não ser esperar que a mesma germine e produza.

Em meio a tantas atividades diárias o homem agora precisa esperar, pois não pode fazer por seu esforço a semente germinar, esta cresce alheia ao seu conhecimento. Seria errado pensar que aqui estamos diante de um exemplo de “agricultor preguiçoso”, indiferente com a semeadura. Acontece exatamente o contrário: ele é indiferente para a semente. Aquilo de que ele precisa agora, que é o crescimento, é Deus quem dá. Só Deus pode dá-lo, e ele quer fazê-lo. Por isso o agricultor não se preocupa, não fica cavando atrás dos grãos, não toma providências tolas para apressar o processo, mas tem um dia normal e uma noite tranquila. Assim, a semente germina e cresce, não sem Deus, mas sem o agricultor. O crescimento acontece não só sem sua ajuda, mas até sem seu conhecimento: “não sabendo ele como”. É claro que o homem experiente sabe teoricamente que a semente brota e cresce, pois espera ansiosamente pela colheita. Mas ele não o sabe no sentido de que isto não ocupa constantemente sua consciência. A semente cresce às suas costas, sem que ele o veja . Não há nada que o homem possa fazer para acelerar a colheita, esta virá no tempo devido, então sem que o homem saiba como acontece a semente rompe a terra. Ele sabe que, sem ser preciso interferir, e mesmo que ele não perceba, a semente prosseguirá e cumprirá todas as fases de seu cres¬cimento. Os caminhos misteriosos de Deus podem estar além do nosso entendimento, mas podemos descansar no fato de que, embora, ele mui¬tas vezes se coloque fora de nossa vista, os seus propósitos estão amadurecendo. 

“A terra por si mesma frutifica...” (v. 28a). Uma vez lançada ao solo é uma questão apenas de tempo para que a semente comece a germinar, culminado em seu total desenvolvimento. “por si mesma” é a tradução de “atomate”, palavra grega de onde vem o termo “automático”, de forma “espontânea”. Refere-se àquilo que cresce ou acontece sem intervenção humana . Porém é digno de nota que nem a terra e nem a semente possuem poderes mágicos para se “auto produzirem” aparte de Deus ou alheios ao seu conhecimento e sua vontade. 

A sequencia do texto diz: “...primeiro a erva, depois a espiga, e, por fim, o grão cheio na espiga...” (v.28b). Qualquer pessoa que tenha o mínimo de conhecimento em agricultura sabe que a colheita é resultado final do plantio, por isso todo processo tem seu ponto de partida no “lançar da semente à terra” e que vai se desenvolvendo de forma gradual. Assim é o reino de Deus, que, da perspectiva humana vai tomando forma no desenrolar da história. As coisas do reino de Deus prosseguem, a despeito dos demônios e dos homens. Assim como as forças da natureza prosseguem de forma automática, também Deus continua sua obra sem qualquer interrupção . 

“E, quando o fruto já está maduro, logo se lhe mete a foice, porque é chegada a ceifa”. (v.29). O labor diário do homem fica subentendido no texto, ele lança a semente espera. O crescimento é o processo que acontece após o lançar da semente. Porém a safra final é determinada pelo momento certo da maturação, “não pelo calendário ou pelo relógio” chega a época certa para entrar em ação, para a garantia da colheita . 

A “colheita” sempre remonta a momentos festivos, de celebração, é o júbilo pelo resultado do trabalho e também da espera paciente por parte de quem semeia e acompanha todo o processo até a maturação do fruto. No entanto, deve-se levar em consideração que Jesus contou essa parábola para ilustrar o “Reino de Deus”, que tem seu crescimento sem que o homem interfira, a ênfase está na maneira como a semente se desenvolve, longe da compreensão humana, embora sendo “visto”, pois pode observar pela evidencia externa como erva, espiga e os grãos cheios na espiga. Assim pode-se considerar a “ceifa” como sendo anuncio de juízo também. O ensino de Cristo e de seus apóstolos torna evidente que há um propósito divino com relação às épocas. Aqui na parábola a “colheita” pode ser interpretada como a consumação de todas as coisas, quando Deus será tudo em todos. A colheita está relacionada com a consumação do reino de Deus, a consumação supremamente gloriosa quando, após o diabo ser derrotado para sempre, e o pecado completamente destruído, e com o surgimento de um novo céu e de uma nova terra, Jesus então entregará todas as coisas ao Pai . 

Esta parábola tem sido interpretada de várias maneiras ao longo da história. Alguns veem o semeador como sendo Deus semeando sua graça no coração do homem, outros acreditam que Jesus é o semeador que semeia o reino de Deus no coração das pessoas, existem aqueles que veem os discípulos como os que semeiam a Palavra de Deus. Há quem defenda que o semeador era João Batista e há outros que enxergam graus de maturidade na fé no desenvolver da semente. Lógico que tais interpretações não estão de todo erradas, mas uma palavra final se faz necessária no tocante a “Parábola da Semente que cresce em secreto”, que acredita-se ser a mais viável e que mais se aproxima da intenção de Jesus ao proferir essa parábola: 

Mesmo que seja oculto e não seja reconhecido, o Reino está presente e será plenamente revelado no tempo de Deus. A mensagem não é simplesmente que o reino está a caminho, já que a maioria dos judeus tinham essa expectativa, mas a parábola ensina que o processo do Reino já está em andamento com o ensino e com a obra de Jesus, bem como que a gloriosa revelação do Reino tem seu início, e está diretamente ligado àquilo que ele está fazendo. A parábola não se refere àquilo que os seres humanos poderiam ou deveriam fazer. O reino é de Deus e os homens não compreendem e nem causam seu processo. Esta parábola não instrui as pessoas acerca do que elas devem ou não fazer, não se deve enxerga-la de uma perspectiva psicológica afirmando-se que aborda o problema da pessoa viciada em trabalho, tampouco deve ser vista como incentivo a passividade. Ela também não deve ser espiritualizada, afim de que se torne uma hipótese desenvolvimentista da vida espiritual, nem fala a respeito do poder da pregação. As pessoas precisam lembrar de que esta é uma parábola do Reino. Apesar das aparências o processo do reino já foi iniciado e alcançará seu objetivo. Apesar das pessoas seguirem suas rotinas diária, o Reino continua presente e em ação, e a ceifa de Deus, juntamente com seu juízo, decerto virão. Os seres humanos são servos do Reino e não sua causa. A parábola ilustra as atitudes apropriadas diante do Reino e de sua colheita escatológica: a paciência, ele virá quando o tempo de Deus estiver amadurecido, confiança apesar das aparências, porque Deus é aquele que age e tudo está nas suas mãos . Independente de quando o Reino foi semeado ou se tal semeadura é tomada no geral ou em particular o fato é que o semear conduz inevitavelmente à ceifa e que o Reino de Deus está presente no mundo, ainda que nossa mente ainda não consiga entender toda sua dinâmica.  

 

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O GRÃO DE MOSTARDA (4:30-32)

 

“Disse mais: A que assemelharemos o reino de Deus? Ou com que parábola o apresentaremos”? (v.30). Pode-se imaginar Jesus diante de seus ouvintes lançando essa pergunta sobre de que maneira se compara o reino de Deus. Já havia entre eles um compreensão e conceito de “reino”, poderiam ter uma visão limitada e humana desse reino, mas mesmo assim Jesus não falava de algo totalmente estranho, dessa forma ele chama atenção ao perguntar como poderia apresentar o reino de Deus. Sobre isso, de forma sucinta porém esclarecedora, Adolf Pohl comenta sobre o que teria passado na mente daquelas pessoas ao ouvirem: “A que assemelharemos o reino de Deus? Ou com que parábola o apresentaremos”?  

 

“Talvez com o auxílio de uma montanha elevada como Daniel (Daniel 4:10 12, 20- 21) ou de uma árvore gigantesca como Ezequiel (Ezequiel 17:22-23; 31:6)? Nesta direção é que os pensamentos se voltavam automaticamente, naquela época. Jesus provoca com sua pergunta comunicativa dupla, para em seguida chocar seus ouvintes. Vista deste lado, esta parábola é um ápice apesar de ser tão curta” . 

 

Assim Jesus os conduz à resposta: “É como um grão de mostarda, que, quando semeado, é a menor de todas as sementes sobre a terra”(v.31). O grão de mostarda tornou-se símbolo de pequenez, e criou-se em torno dele um ditado proverbial para referir-se ao que é pequeno, Jesus usou seu exemplo para falar a respeito de uma fé pequena, mas que pode produzir grandes resultados (Mateus 17:21). Tanto no mundo judeu como no greco-romano, o grão de mostarda era conhecido por seu pequeno tamanho. As pessoas que fazem medição dessas sementes informam que o grão de mostarda tem um milímetro de diâmetro e são necessárias 725 a 760 unidades para chegar ao peso de um grama . De acordo com Herbert Lokier o que conhecemos como mostarda não cresce a ponto de ser chamada árvore. Mesmo havendo muitas espécies de semente de mostarda, botânicos acreditam que a espécie mencionada na parábola seja a cardá, termo árabe para "mostarda". Em razão do diminuto tamanho do grão, a semente simboliza pequenos começos, e denota pesos ou medidas muito pequenos. E equivalente a uma partícula, "de tão pequena" que é .

“Mas, uma vez semeada, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças”(v.32ª). Embora Mateus 13:32  acrescentar que o grão se tornou uma “árvore” não se deve supor que se tratava de uma árvore no sentido como entendemos hoje em nosso contexto do século XXI, pois era comum nos tempos de Jesus cada família ter sua própria horta, até mesmo era costume dar dízimos das hortaliças também (Mateus 23:23). A ênfase do texto está no contraste entre o tamanho da semente e o tamanho de “árvore” que ela produz, e comentaristas dão conta de que a mostarda é uma hortaliça grande, podendo atingir três a quatro metros de altura. 

“E deita grandes ramos, a ponto de as aves do céu poderem aninhar-se à sua sombra” (v.32b). Finalmente tem-se uma árvore frondosa e acolhedora cuja origem foi uma minúscula semente, mas essa conclusão tem gerado bastante controversa entre comentaristas, afinal, essa grande árvore simboliza o que? O fato de as aves aninhar-se às sua sombra é algo bom ou ruim? Algumas interpretações são feitas na tentativa de buscar entendimento do texto:

1.Essa é uma parábola de crescimento cujo o reino é comparado a uma semente. Os pássaros que surgem em bandos são pessoas de todas as nações que buscam abrigo em Jesus. Jesus satirizou o conceito de “forte” que tinha por base o cedro e para combater o orgulho e altivez Jesus então ensina que o reino surge a partir da fraqueza e não da força. 

2.Essa parábola é um contraste entre a aparente insignificância do ministério de Jesus como grande reino formado a partir desse ministério .  Alguns veem a igreja em expansão, mas essa interpretação confunde o “reino” com a igreja e tal entendimento não tem apoio nas Escrituras.

3.Para Adolf Pohl a árvore com sua copa ampla e cheia de vida até as pontas, prefigura um grande reino, no qual todos convivem em paz. As aves, neste contexto, não são de Satanás como na Parábola do Semeador (Marcos 4:4), mas como em Ezequiel 31:6 “todos os grandes povos”. O conceito do reinado escatológico de Deus requer a inclusão dos povos pagãos. A sombra, no contexto, certamente não é a da morte, mas a proteção contra o sol abrasador (Salmos 121:6) ao qual as criaturas, de outra forma, estariam expostas sem misericórdia. A vida se torna possível em todo lugar . 

4.A interpretação oposta das mais populares diz que “a igreja organizada erroneamente mudou a ênfase de semente semeada para a árvore que cresce. Em vez de espalhar as sementes com toda humildade, a igreja ficou mais preocupada com a elaboração de grandes denominações, instituições e ordens. Essa linha vê os pássaros, ou aves do céu, como quem simbolizam Satanás e seu poderio. As “aves do céu” não representam homens e nações, mas o maligno. Satanás, o príncipe da potestade do ar, que observa a misteriosa disseminação do reino, desde o seu pequeno começo até a sua grandeza, e que sempre buscou abrigar-se nele, o que conseguiu rapidamente, por meio dos falsos irmãos que se tornaram parte da igreja desatenta. A história mostra que o crescimento externo da igreja abrigou o mal, e que hoje admite muitos cultos e organizações contrárias à sua verdadeira natureza. A Parábola da Mostarda corresponde à época destacada pela carta à igreja em Pérgamo (Apocalipse 2), quando a cristandade, primeiramente plantada em mansidão e humildade, assumiu a aparência das grandezas mundanas, e passou de alvo da poderosa perseguição do Império Romano a objeto de sua proteção, no reinado de Constantino, o Grande. Esse crescimento rápido, porém frágil, indigno de confiança e degenerado do cristianismo professo não estava no ensinamento do Fundador do cristianismo . 

Como vimos, há diferentes interpretações. O mais sábio é nos determos no foco da parábola que é demonstrar a simplicidade com que o reino se inicia, mas o seu crescimento é certo e seu poder é maior do que tudo.

   

CONCLUSÃO

Esta parábola ilustra o reino de Deus que, embora tenha tido origem “insignificante”, está em expansão no mundo e atingirá sua etapa final na consumação de todas as coisas e “Deus será tudo em todos” (1 Coríntios 15:28). A alusão ao fato de as aves poderem abrigar-se às sombras da árvore não enfatiza as aves propriamente dita, mas alude ao tamanho da árvore e sua natureza de proteção. É no Reino de Deus que as pessoas encontram abrigo.  A parábola não foca a Igreja, ela é apenas parte do reino e não o reino em si, por isso não se deve procurar no texto apoio para o “crescimento acelerado” da igreja, é o Reino de Deus, que uma vez plantado no mundo atingirá seu ápice no plano escatológico divino.

 

Tanto a “Parábola da semente que cresce em secreto” quanto a “Parábola do grão de mostarda” trazem ensinos sobre a confiança, o descansar em Deus. A primeira ensina que o homem não tem poder sobre o as coisas do reino de Deus e portanto não poderá fazer nada para que o mesmo cresça ou deixe de crescer, ele é como uma semente que germina e cresce sem interferência humana. A segunda ensina a não desprezar as coisas pequenas e insignificantes, pois o reino de Deus não vem em poderio humano, não precisa de força ou acordos políticos/eclesiásticos para fazê-lo crescer. O propósito final de Deus é que em seu reino todos possam encontrar abrigo e socorro em tempo oportuno. 

 

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