Texto de Estudo

Mateus 21:31:

31 Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram-lhe eles: O primeiro. Disse-lhes Jesus: Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus.

 

INTRODUÇÃO

Existem pelo menos 39 parábolas contadas por Jesus, registradas nos evangelhos. Dez delas aparecem exclusivamente no Evangelho Segundo Mateus. Essa é uma delas. 

O enfoque desta narração tem a ver com a autoridade divina e com a maneira diferente de as pessoas reagirem frente à mesma autoridade. Trata-se, portanto, de um texto jurídico, um tipo específico de narrativa, duplamente indireta. É semelhante a Isaías 5 e a outras passagens veterotestamentárias, nas quais um profeta anuncia o juízo ao provocar a autocondenação por parte do(s) ouvintes(s), fazendo uso de algum tipo de ilustração. 

A parábola de Natã a Davi, em 2 Samuel 12:1-10, é o exemplo clássico desse gênero. Mateus 21:31 revela que os ouvintes condenaram-se a si próprios, e o versículo 32 explica por que esse juízo é válido. 

 

CONTEXTO HISTÓRICO

A nossa parábola ocorreu durante a última semana do ministério de Jesus na Terra, depois que entrara em Jerusalém para a Páscoa, e durante o tempo em que, corajosamente, confrontou líderes religiosos de Israel sobre uma série de questões religiosas e morais. 

No contexto do Evangelho, que aparece como a primeira de uma série de três parábolas (Lavradores Maus, 21:33-46; Grande Ceia, 22:1-14), foi entregue em resposta ao desafio dos principais sacerdotes, expressa em Mateus 21:23: “Com que autoridade fazes estas coisas? E quem te deu essa autoridade?”

 

OS DOIS FILHOS

“Que lhes parece?”, perguntou Jesus à comitiva do sumo sacerdote. “Havia um homem que tinha dois filhos. Ao primeiro, disse: vai hoje a trabalhar na vinha. Não quero ir, respondeu-lhe; mas depois, arrependido, foi. Ordenou o mesmo ao segundo, e este respondeu: Sim, senhor, eu vou; mas não foi. Qual dos dois obedeceu à vontade de seu pai?”. A resposta dos fariseus foi rápida: “O primeiro”. Desta vez, a resposta pareceu-lhes muito fácil e sem consequências. Todavia, enganaram-se.

O primeiro filho representava publicanos, prostitutas e pecadores. O segundo era um representante deles mesmos! Os publicanose os pecadores agiam de maneira cínica e não serviam ao Deus de Israel. Opunham-se à religião e não lhes importavam a piedade, nem a obediência a Deus. Só se interessavam por seus desejos pessoais e os próprios interesses. Mas, quando veio João Batista pregando o batismo do arrependimento, foram a ele, arrependeram-se, e ele batizou-os. Alguns dos fariseus e dos dirigentes também aceitaram que a pregação de João vinha de Deus e foram batizados.  

O segundo filho representava fariseus, saduceus e escribas, que trajavam as vestes e a insígnia da religião, mas estavam tão longe de Deus quanto os tidos por renegados e desprezados. Professavam ser do Senhor; no entanto, eram desobedientes e rebeldes em todos os aspectos mais profundos da vida. Esses religiosos deveriam ser, entre todos, quem de fato professasse e detivesse a verdadeira vida de Deus, mas isso não tinham. Por fora, eram corretos e justos, sempre com um obsequioso “Eu vou, Senhor”, na ponta da língua; porém, eram destituídos do desejo e da boa-vontade de obedecer. Tipificavam os hebreus do passado que disseram: “Tudo o que o Senhor falou, isso faremos”. (Êxodo 19:8 24:3,7) No entanto, a história demonstra que falharam. Israel era como o filho que disse ao pai “Eu vou, Senhor”, mas não foi.  Eles professavam obedecer ao Criador, mas não aceitavam seus enviados, tampouco obedeciam às mensagens que Deus mandou por intermédio deles. A religião formal que professavam, sem arrependimento, nada valia. A falsa obediência que praticavam, sem andar na justiça de Cristo, não tinha valor. 

Ambos os filhos ouviram a ordem do pai. Um recusou-se a obedecer; mas, em seguida, arrependeu-se. O outro prometeu obedecer, mas agiu em contrário. Este foi tão desobediente quanto se tivesse recusado obedecer logo de início e, embora a sua promessa de fazer a vontade do pai tenha enganado os que o ouviam, fazendo-os pensar que era um filho cumpridor dos deveres, o pai não pôde satisfazer-se com uma conduta tão contrária à promessa feita. Ao receber a orientação do pai para ir trabalhar na vinha, o primeiro filho, impulsivamente, recusou-se, mas logo se arrependeu e obedeceu. O outro, no entanto, prometeu obediência, mas efetivamente não o fez. 

O primeiro filho disse: “Não irei”. Ele recusou-se rudemente a obedecer ao pai, e de caso pensado. O segundo respondeu: “Eu vou, senhor, mas não foi”. Disse uma coisa e fez outra. Era contraditório. Havia um conflito entre o que dizia e o que fazia, entre o que prometia e o que cumpria. Na presença do pai, ocultou a decisão de não obedecer. Suas palavras aduladoras eram mentirosas. O irmão dissera “não”; porém, em seguida, arrependeu-se e foi. Nele, porém, não havia arrependimento. Professou-se obediente, mas não tinha intenção de obedecer; foi, pois, hipócrita. Ele disse “Senhor, Senhor”, mas não tinha o desejo de realizar a vontade do pai.  Esse filho lembra-nos as palavras de Jesus, em Mateus 7:21-23:

 

Nem todo aquele que me diz “Senhor, Senhor” entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão, naquele dia: “Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?”. Então, eu lhes direi claramente: “Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!

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Uma conduta externa de santidade não significa nada para Deus, se não for apoiada na verdadeira obediência à sua Palavra. O Senhor não se impressiona com cristãos professos que lhe cultuam apenas com os lábios. Eles só falam, mas não obedecem à Palavra. Há aqueles que percebem seu estado pecaminoso, e até podem inicialmente rejeitar a Deus e ao Evangelho; contudo, mais tarde, aceitam Cristo como Senhor e Salvador, obedecendo à sua Palavra. 

Todos os que professam ser cristãos, mas não têm interesse em estudar e obedecer À Palavra de Deus, devem fazer uma autoanálise. Não é o que falamos que nos torna cristãos, se não obedecemos à perfeita Palavra de Deus. Ocupar posições de liderança e participar de atos cristãos não irão nos tornar cristãos. É o pecador contrito, que sinceramente se arrepende dos pecados, segundo as Sagradas Escrituras, e a partir de então, tem sua vida totalmente transformada e faz a vontade do Pai celeste, que é verdadeiramente nascido de novo!

 

APENAS PALAVRAS

Às vezes, nossa vida ou ações não condizem com nossas palavras. Falar é fácil, mas as ações normalmente têm um preço. A mensagem central desta parábola poderia ser sumarizada na expressão “Você realmente acredita somente naquilo que você faz?”.  

Falar é fácil; porém, o agir é o que importa, sendo o único padrão de confiança à obediência. Dizer “Eu obedecerei a Ti, Senhor” e, de fato, agir em obediência são totalmente diferentes!

Os líderes religiosos da época de Jesus eram notórios por prestar a Deus um culto apenas com os lábios. Condená-los por essa falta, na verdade grave, é tarefa simples. Indubitavelmente, não há escassez de pessoas dispostas a apontar as falhas, tanto dos fariseus quanto dos saduceus. A censura para com qualquer um dos grupos é merecida. Mas, como estamos nós nessa mesma área? O que nossas ações revelam sobre o que realmente acreditamos? Será que você, alguma vez, prometeu fazer algo em prol do Reino de Deus, e não fez? Pode ter dito que iria visitar um irmão... Comprometeu-se a auxiliar o pastor, e não apareceu? Fez um voto a Deus, e não cumpriu? 

Isaías fala de um povo que adorava a Deus com os lábios, porém o coração estava distante: 

 

Esse povo aproxima-se de mim com a boca e honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. A adoração que me prestam só é feita de regras ensinadas por homens. Por isso, uma vez mais deixarei atônito esse povo com maravilha e mais maravilha; a sabedoria dos sábios perecerá, a inteligência dos inteligentes desvanecer-se-á. (Isaías 29:13-14, NVI)

 

Em nossos dias, não faltam pessoas nas igrejas que proclamam os caminhos do Senhor com grande fervor de discurso, mas elas têm os olhos impuros e o coração cheio de toda a sorte de maldade. Esses seres mantêm ações e obras contrastes com o discurso; são os mesmos que Jesus condenou na parábola de estudo. 

Uma pessoa cuja língua é cheia de paixão ardente por Deus, mas que abriga maldade no coração é como um recipiente de barro revestido de prata. A parábola Dois Filhos aborda o problema de dizer “sim, sim” com os lábios, mas “não, não” com as ações. Cuidado!

 

CONCLUSÃO

A parábola Dois Filhos, encontrada só em Mateus, não é tão conhecida como outras; todavia, de forma alguma é menos importante. Uma lição vital, aqui ensinada, é inimaginável: fazer a vontade de Deus é o bastante. Não é esse o ensino, tanto do Antigo quanto do Novo Testamento? 

“Qual dos dois fez a vontade do pai?”, Jesus perguntou-lhes. E, corretamente, responderam “o primeiro”. Mesmo para os fariseus, não era difícil discernir que a obediência significa fazer; e não apenas falar. Nós não estamos isentos de responder a Jesus tal pergunta: “Qual dos dois fez a vontade do seu pai?”. A única resposta razoável é que a pessoa que faz a vontade do Pai, e não aquela que apenas diz, é de fato o filho verdadeiro e obediente.

 

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