Texto de Estudo 

Isaías 1:2:

2 Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, tu, ó terra; porque o SENHOR tem falado: Criei filhos, e engrandeci-os; mas eles se rebelaram contra mim.

INTRODUÇÃO

Depois de uma visão estonteante do trono de Deus e de ter recebido a missão de falar a um povo de coração endurecido, chegou a hora de Isaías conhecer a situação real. O contexto que o aguardava era o mais conturbado possível, pois havia muitas denúncias contra Judá. As palavras que Deus colocaria em sua boca confrontariam duramente o povo. Logo, não seria de se estranhar a recusa em relação à sua mensagem. 

A vocação de Isaías ocorreu no céu, mas sua missão seria desempenhada na Terra. Além da visão celestial do trono do Senhor, outro fato impactou-o bastante: a queda do reino do norte, Israel. O temor de que isso viesse a acontecer com Judá era muito mais do que mera especulação. O Senhor apontava essa certeza caso a situação não mudasse. Judá ainda estava de pé, mas por quanto tempo? E mais: que tipo de povo cercado de maus indícios viveria tranquilamente, como se tudo estivesse normal? 

Neste primeiro capítulo de Isaías, temos um resumo do perfil dos filhos que Deus ainda amava; porém, eles estavam prestes a receber o mesmo tipo de disciplina dada às tribos do norte. Entretanto, não é apenas o tom de ameaça que está presente na profecia de Isaías. Veremos que onde abunda o pecado superabunda a graça de Deus. 

QUE FILHOS SÃO ESTES?

O Senhor Todo-Poderoso, que havia criado céus e Terra, convoca os mesmos para serem testemunhas contra o povo de Judá. A quem mais o deveria recorrer para pleitear sua causa? Os habitantes da Terra estavam corrompidos da cabeça aos pés (vv. 5 e 6)!

Como é característico no gênero profético, temos aqui uma espécie de julgamento. Em primeiro lugar, somos colocados diante da lista de acusação contra Judá. O causa do Senhor era contra os próprios filhos. Deus havia criado, fundado, dado origem ao povo de Judá, que deveria ser fiel à identidade que lhe foi conferida, ou seja, a de filhos; contudo, com o tempo, atingiu um patamar de rebeldia catastrófico. O entendimento sobre o que Deus havia feito era praticamente nulo. Numa comparação simples, porém fustigante, o Senhor Deus diz que boi e jumento estão em vantagem em relação ao povo de Judá. Tais animais sabem reconhecer o dono devido a uma rotina de cuidado, de trato, de atenção. Mas como eles poderiam ser mais fiéis e entendidos que o povo de Deus? A resposta é: não poderiam. Deus provoca o povo para expor o tamanho do descaso cometido contra ele! 

 Na sequência, o Senhor dirige-se ao seu povo como se estivesse se referindo a uma nação estranha. O “Ai” inicial do verso 4 é mais comumente dirigido as demais nações quando Deus se levanta para julgá-las. Só que o grau de descompromisso e de infidelidade de Judá havia alcançado um ponto tão alto que Deus resolveu o tratar da mesma forma. A descrição é pesada: “povo carregado de iniquidade, raça de malignos, filhos corruptores” (v.4). 

A pergunta que o Senhor faz no verso 5 revela tom de frustração. Era como se dissesse: ‘Não adianta corrigir estes filhos. Por que continuar castigando-os, se não tem mais jeito?’. No contexto da História, significa que a nação do norte (Israel) estava prestes a ser levada para o cativeiro promovido pelos assírios (algo que aconteceu em 722 a.C). E mesmo Judá (a nação do sul), que assistiria a tudo isso, não se comoveria, nem se arrependeria. A profecia de destruição cumpriu-se em, aproximadamente, 586 a.C. quando a Babilônia levou Judá ao cativeiro. Devido a tal endurecimento, o Senhor entendeu que não adiantava castigar com o objetivo de evitar a destruição, a deserção. Nem mesmo a terra (que antes manava leite e mel) assolada, tanto por efeitos climáticos quanto pela invasão de estranhos, teve poder de persuasão forte a atrair o povo de volta para Deus.

O verso 8 diz que o golpe final ainda não havia atingido a nação do sul (Judá). Mas isso não colocava Judá em uma situação melhor do que as tribos do norte. Tal nação, apresentada como se fosse uma virgem (Filha de Sião):

...está agora desolada como um abrigo na vinha ou uma cabana em campo de melões, para servir de abrigo para a sentinela, longe das outras habitações humanas; de fato, como resultado de toda a devastação e insegurança do panorama, ela é ‘como cidade sitiada (embora realmente ela não esteja sob sítio), isolada de todo tráfego .

Esse era o retrato. Isaías percebeu que o último golpe ainda não fora dado devido à misericórdia. O verso 9 mostra que os sobreviventes só escaparam por causa da ação do Senhor dos Exércitos. 

QUE ADORADORES SÃO ESTES?

No tópico anterior, vimos um quadro geral da condição do povo. Então, o Senhor aprofunda-se nos detalhes e escancara o que estava acontecendo na vida espiritual dos seus filhos. O verso 10 enquadra-os em mais uma comparação. Foi necessário dizer que o povo não só contava com menos entendimento que um boi ou um jumento, mas tinha uma moral tão vil quanto a dos habitantes das memoráveis cidades de Sodoma e Gomorra cujas péssimas famas ficaram perpetuadas na História de Israel (Cf. Gênesis 18:16 a 19:22). Veja a que ponto chegou a vida espiritual do povo de Deus! 

O Senhor diz que não havia mais valor no comparecimento para adorar. Realmente eis uma missão difícil, colocada sobre os ombros de Isaías! Ele precisou confrontar todo o sistema religioso que funcionava há um tempo, algo tido como a base de sustentação da vida civil. O bem-estar da cidade dependia da manutenção da religião oficial. Nesse contexto, o profeta levantou a voz e denunciou a nulidade das ofertas, das reuniões de adoração e dos gestos e atos dos adoradores. 

Quanto às ofertas (v.11), o Senhor desabafou: ‘Estou farto’. Isso é mais um prova de que muito mais importante do que a oferta é o que está no coração do ofertante. As descrições indicam que o povo oferecia o melhor; todavia, Deus não aceitava. Interessante o Santo de Israel dizer que não se havia requerido aquelas ofertas (v.12), pois todo o sistema sacrificial antigo fora dado pelo Senhor. De fato, Deus havia estabelecido a forma como queria ser adorado: devia-se trazer o melhor da terra e do gado. Mas, quando o adorador estivesse enfermo em seu coração (v.5), de nada adiantaria a oferta das mãos. Digamos que as mãos devem oferecer aquilo de que está cheio o coração. 

Depois Isaías disse que as reuniões de adoração, ou rituais de celebração, marcados pela Lua Nova, e outras solenidades eram insuportáveis para o Senhor. Quando tais eventos ocorriam, Deus notava uma associação detestável: a iniquidade misturada a celebrações santas (v.13). O pesar do Senhor era tão grande por isso estar acontecendo que chegou a dizer: ‘estou cansado de as sofrer’ (v.14). Aquilo era um atentado contra o próprio Deus! O momento de fé era algo que Deus pretendia evitar. 

Por fim, Isaías denunciou o aspecto mais íntimo e subjetivo dos adoradores. Somente sendo enviado por Deus é que um profeta chegaria a tal patamar de confronto. O momento do exercício da fé é algo tão pessoal, tão particular... O estender das mãos e as orações também foram rejeitadas por Deus (v.15), pois havia maldade no coração do povo. E esta será mais descrita nos capítulos posteriores do livro do profeta. De forma geral, veremos que tem teor social, pois pobres e necessitados eram defraudados sem limites. Nas palavras do próprio Senhor: “Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela, que estava cheia de justiça! Nela, habitava a retidão, mas, agora, homicidas. A tua prata se tornou em escórias, o teu licor se misturou com água. Os teus príncipes são rebeldes e companheiros de ladrões; cada um deles ama o suborno e corre atrás de recompensas. Não defende o direito do órfão e, na chega, perante eles a causa das viúvas” (vv. 21-23). 

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Esse era o tipo de adorador que se apresentava diante de Deus, ou seja, a pior espécie de cidadão: corrupto, mentiroso e interesseiro. Por isso, o “três vezes Santo” apresenta o seguinte diagnóstico: “...este povo se aproxima de mim com a sua boca e com seus lábios me honra, mas seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente aprendeu...” (Isaías 29:13). 

QUE CONVITE É ESTE?

O Senhor foi muito claro quanto ao que sentia em relação a uma adoração hipócrita, que se detém ao exterior. Tal descaso não poderia ficar impune; por isso, prometeu que iria castigar o povo, tomaria satisfação de tudo (v.24). Deus dirigiria vingança contra os próprios filhos! 

Em termos de percepção humana, é difícil colocar na mesma frase “Deus” e “vingança”. Entretanto, sendo quem ele mesmo dizia ser - perfeito, santo e que não se alegrava com o mal -, era justo que castigasse quem amava. Muitas vezes, teria de usar a pedagogia do sofrimento. É aqui que entra nosso tópico. Antes de executar uma sentença tão trágica como a destruição de boa parte de seu povo , o Senhor estendeu um convite. Mas que convite foi esse?

Tratava-se de um convite para que o povo se lavasse e se purificasse, tirando a maldade do coração, aprendendo a fazer o bem e a repreender o opressor. Esses verbos estão relacionados à fé e à moral que devem andar sempre juntas. O arrependimento do povo iria se traduzir em atos; e, não, em palavra apenas. 

Os sacerdotes que estavam acostumados às oblações e demais rituais de purificação, que requisitavam um ingrediente indispensável – a água –, agora eram convocados a se submeterem a uma limpeza espiritual. Os líderes políticos que carregavam a missão de promover a justiça no âmbito social deveriam rever seus valores. Havia um descompasso entre a vocação e as ações. Como o povo de Deus seria reconhecido como justo se a pobreza, a esperteza, as tramoias e a corrupção corroíam como um câncer todos os patamares do tecido social?! 

Apesar de sua ira, o Senhor abriu espaço em seu conjunto de denúncias para que o povo pudesse raciocinar. Parece que ele não desejava que os fiéis fossem ouvintes passivos. Não queria que apenas ouvisse, mas também que pensassem. Assim: “Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor” (v.18). Como bem afirma Champlin, “A ideia do versículo é a correção por meio de uma discussão arrazoada na qual a verdadeira natureza das coisas é exposta, e o desejo pela mudança é instilado” . 

O estrondoso discurso da graça, presente no convite, torna-se notório quando vemos a forma como o pecado é descrito. A escarlata é uma tintura de cor vermelha. O pecado vem associado a tal cor, possivelmente devido ao sangue que injustamente fora derramado pelos líderes e pelo povo, tanto quanto se apresentavam diante de Deus para adorar, quanto alimentavam um sistema de governança corrupto. 

Mas, ainda que o esse fosse o retrato, o Senhor convidou o povo ao arrependimento. O vermelho é contraposto ao branco da neve. Isso indica o tamanho da reforma espiritual pretendida. Porém, para uma radical transformação, o povo teria de buscar o Senhor: “Se quiserdes e me ouvirdes...” (v.19). Sim; teria de fazer tal escolha. Deus não poderia fazer por ele o que cada pessoa deveria de fazer por si mesma. A limpeza seria profunda! A Senhor disse: “Voltarei contra ti a minha mão, purificar-te-ei como com potassa das tuas escórias e tirarei de ti todo metal impuro. Restituir-te-ei os teus juízes, como eram antigamente, os teus conselheiros; depois, chamar-te-ão cidade de justiça, cidade fiel” (v.v 25 e 26). 

Como se pode perceber, a linguagem simbólica é riquíssima. Haveria transformação de um tecido vermelho para um branco; de um metal com escórias para um limpo e reluzente. Que contrastes! 

Caso viessem a se arrepender, o Senhor prometeu as mesmas bênçãos de antes: “comereis o melhor desta terra” (v.19). O programa de restauração do Senhor atingiu todos os âmbitos, tanto individual quanto coletivo. De acordo com Isaías 1:25-31, o quadro inteiro de injustiça seria revertido. Os transgressores precisariam ser removidos, como a escória da prata, quando refinada pelo fogo. A ausência desse tipo de pessoa faria a cidade reluzir a justiça. 

Do verso 29 ao 31, fica estampada a futilidade da idolatria. “Os idólatras ficarão envergonhados, porque os carvalhos e os jardins consagrados aos rituais de fertilidade e de adoração aos ídolos não conseguirão salvá-los quando o juízo for executado” (Isaías 65:3) . A profecia anunciava mais um jogo de contrastes. Mesmo que os jardins, onde aconteciam os rituais de idolatria, fossem viçosos e um ícone de fertilidade, o povo iria se tornar totalmente o oposto, como árvores secas, como floresta sem água. Eis as marcas da mão do juízo de Deus. Nada estava oculto aos olhos do Santo de Israel, daquele que estava em seu trono, apesar de os idólatras pensarem o contrário: “Ai dos que escondem profundamente o seu propósito do Senhor, e as suas próprias obras fazem às escuras, e dizem: Quem nos vê? Quem nos conhece?” (Isaías 29:15). 

Contudo, vale lembrar que isso foi anunciado como um futuro. O grande interesse do Senhor estava em evitar que tal juízo atingisse seu povo. A redenção de Judá estava nas mãos de Deus. 

CONCLUSÃO

O perigo estava às portas; assim profetizava Isaías para um povo acomodado à situação que construíra. Mas o povo andava ocupado demais com o serviço de adoração e a alimentação de um sistema social injusto para ouvir o que Deus tinha a lhe dizer. Era bem mais fácil para os moradores de Jerusalém acharem que Isaías inventara tudo aquilo só para conturbar a “ordem e o progresso”. 

A missão de Isaías mostra que a verdade sempre irá doer quando for lançada num contexto de desobediência. O estilo de vida daquele povo deixa evidente quão nocivo pode ser a religiosidade superficial. Porém, o amor de Deus aponta que tudo é possível aos que se submetem ao processo de restauração do Senhor. Aprendamos com esses erros do passado. Deus nos dá, todos os dias, a oportunidade de repensarmos nossa vida, de nos arrependermos dos pecados, de corrigir nossa visão. Lembremos que  “o Senhor é bom e a sua misericórdia dura para sempre!” (Salmos 110:5

 

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