Texto de Estudo

Apocalipse 21:1-2:

1 E VI um novo céu, e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. 2 E eu, João, vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido.

 

INTRODUÇÃO

Como será a eternidade? Como será viver com Deus para todo o sempre? Este capítulo de Apocalipse fala sobre isso. Aponta que todas as coisas negativas do mundo serão vencidas e destruídas. Toda a poluição e as impurezas, toda a maldade e impiedade, toda a dor e o sofrimento, toda a corrupção e morte – tudo isso será destruído. 

O dia está chegando... Não haverá mais governo corrupto, religião corrompida, líderes maus, sofrimentos, pecados e tentações. Satanás, os impuros e os maus deste mundo serão destruídos. Deus fará um novo céu e uma nova Terra. E, quando assim fizer, não haverá mais lágrimas, nem choro, tampouco dor, tristeza, morte.

O que segue é apenas uma interpretação do nosso texto. Que este estudo leve-o a se esforçar para entender o "fim dos tempos" e como tudo isso se relaciona à época atual. 

 

PANO DE FUNDO HISTÓRICO

O texto de estudo faz uma alusão a Isaías 65:17-19 e 66:22. Séculos antes, o profeta também viu novo céu e nova Terra, com Jerusalém no centro. Para Isaías, isso era motivo de grande alegria para o povo de Deus, pois os sofrimentos antigos não mais existiriam. Tais sofrimentos incluíam a morte prematura de crianças e anciãos, a perda do lar, da terra e dos meios de subsistência para outros, sugerindo pobreza, injustiça econômica, opressão e perseguição.  Há também a promessa de paz universal. Todos viverão em segurança, sem medo. O autor de Apocalipse detém as mesmas promessas de realização em sua visão do futuro, no ato final da criação de Deus. 

Podemos interpretar que a visão de João, do fim da história, não é uma fuga da matéria, do tempo e do espaço, ou um transporte para um reino sobrenatural etéreo. Contrariamente à profecia popular, o livro de Apocalipse não ensina que o mundo atual está condenado à destruição, enquanto os poucos escolhidos são arrebatados para o céu. Em vez disso, o fim engloba a Terra e o céu. O mundo original que Deus criou e que recebeu dele o "muito bom” (Gênesis 1:31), agora, enfermo pelo pecado, não vai ser anulado ou expedido para o monte de cinzas. Em vez disso, Deus vai renovar, transformar e restaurar a criação original. A voz do trono declara: "Veja, eu estou fazendo novas todas as coisas" (21:5, BV). Não é dito: “Estou fazendo todas as coisas novas". Esta linha crê que, quando os propósitos de Deus forem completados, o céu e a Terra, vistos como opostos, serão unidos como um só. Isso será o cumprimento da oração de Jesus, "venha o teu reino, seja feita tua vontade, assim na terra como no céu." Notavelmente, não há mar no novo céu e Terra. Esta não é uma previsão de desastre ecológico (embora Deus possa permitir isso como consequência do pecado humano para a criação). Em Apocalipse, o mar é o reservatório do mal, do qual surge a besta (13:1). Na criação renovada, as forças do caos e do mal serão excluídas. É importante lembrar que essa futura transformação da criação já começou – em Abraão, correndo entre os profetas, Jesus e pela Igreja. 

A história da salvação original sempre previa não apenas a salvação de indivíduos, mas a formação de uma comunidade redimida (Israel, a Igreja) e, finalmente, a redenção de toda a ordem criada (Romanos 8:20-21, veja também Efésios 1:8-10.) O que os nossos textos preveem é o clímax desse longo drama da salvação em que a Igreja hoje se encontra.

Em contra partida o texto pode levar-nos a acreditar que Deus fará (ou já fez) um novo cosmos. Não será uma recriação, mas uma nova criação. Ou seja, os redimidos não habitarão numa Terra redimida, mas em um lugar diferente. Esta afirmação concorda com as palavras de Jesus aos seus discípulos: “Na casa de meu Pai há muitas moradas...vou preparar-vos lugar...virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também” (Jo14:2-3). Corrobora com esta ideia o texto de Mateus 24:34 que diz que os salvos herdarão o reino que está preparado desde a fundação do mundo. Logo, este reino não pode ser esta Terra, pois ele já está preparado e por isso não pode ser algo que acontecerá, como afirmam os que acreditam na restauração deste mundo.

 

UMA CIDADE E SEU CENTRO

 No centro do novo céu e da nova Terra, está uma cidade, a nova Jerusalém. Isso cumpre a promessa profética anterior de uma Jerusalém restaurada (Isaías 65:18-19). Além disso, no imaginário de Apocalipse, Jerusalém é a cidade piedosa, em contrapartida à corrupta e prostituída cidade da Babilônia (Roma, para os primeiros leitores), que tem perseguido a Igreja fiel (17:6). Ao contrário da Babilônia, nessa cidade, as pessoas fiéis a Deus habitarão, e haverá um relacionamento íntimo e fiel com o verdadeiro Senhor, como uma noiva. Vale a pena refletir sobre o significado de uma cidade como o cerne do novo mundo de Deus.

O QUE FAZ UMA CIDADE?

Cidade é um lugar de vitalidade, ruído, agitação, criatividade; uma festa de estímulo para olhos e ouvidos, mente e coração. As cidades são centros de cultura, música, arte, comércio, indústria, alimentos, aprendizagem, etc. E também, cosmopolita em sua população, sendo feitas de um mosaico de etnias, línguas e culturas. Claro, as cidades são também lugares de pobreza, imoralidade e decadência, mas esses defeitos estarão ausentes na nova Jerusalém. O fato de uma cidade estar no centro do novo mundo de Deus sugere que o melhor empreendimento humano, a criatividade, a cultura e a diversidade irão florescer por lá. A vida vai ser ocupada, desafiadora, energética, gratificante. Indo além do texto escolhido, também se pode ver que a nova Jerusalém é imensa em seu tamanho e riqueza (21:15-21). Um comentarista escreveu: 

A cidade de Deus é para ser um refúgio para todos os fiéis de todo o mundo. Na cidade de Deus, não há favelas, nem bairros! Não existem políticas governamentais para manter as pessoas fora ou quaisquer normas econômicas que excluem os marginalizados da participação efetiva no mercado. Deus construiu a cidade para o mundo inteiro! 

 

VINDA DOS CÉUS

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Observe que a Nova Jerusalém desce do céu à Terra. Pode ser que no final da presente história, nós não "iremos para estar com Deus" em algum reino espiritual de outro mundo. Em vez disso, Deus "virá para estar conosco", como já o fez na encarnação e no envio do Espírito Santo. Além disso, o movimento descendente da cidade sugere que é um dom de Deus, um ato culminante de graça.  

Capítulos anteriores de Apocalipse insinuam que as boas obras dos fiéis em nome de Jesus não são feitas em vão, mas permanecem após a morte do cristão (14:13). Apocalipse não aborda diretamente a questão do que acontece com os que morrem antes do novo céu e da nova Terra virem; no entanto, mostra aqueles que morreram em Cristo "debaixo do altar" (6:9). Estes salvos serão ressuscitados , no final (20:4), para habitarem na nova Terra. 

 

A PRESENÇA DE DEUS

Deus habitará plenamente nesta cidade. O anúncio “Veja, agora, a morada de Deus está entre os seres humanos...” (v. 3, BV) tem precedentes em Jesus, o Verbo Encarnado, que “se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.” (João 1:14), e em Jesus e o Pai vindo fazer morada no cristão (João 14:23). Sem lágrimas, com segurança.

Isaías tinha previsto que o Senhor enxugaria as lágrimas (Isaías 25:8 notadamente, no contexto de uma festa para todas as pessoas, não apenas a Israel). Além disso, o escritor do Apocalipse prometeu a libertação do sofrimento à Igreja fiel (7:17). Aqui, as "lágrimas" provavelmente não se referem às provações e dores do ser humano (por exemplo, doença, perda, morte natural), mas aos sofrimentos infligidos sobre aqueles que permanecem leais a Jesus (morte, luto, choro, dor). A boa notícia: os que sofrem e morrem por sua fidelidade a Cristo, nestes perigosos "fins dos tempos", um dia vão encontrar a libertação, a cura e a segurança.

 

SEM TEMPLO

Nenhuma casa de adoração, nenhum templo, na nova Jerusalém. Não há necessidade de nenhum deles, pois Deus estará pessoalmente presente! Alguém poderia dizer que a cidade toda é uma igreja, ou seja, o lugar onde Deus é louvado e adorado. 

Deus – não uma torre financeira, um shopping center, uma catedral, ou qualquer memorial – será o centro da cidade, enchendo a todos com sua luz e seu Espírito. A implicação disso é que, habitando na presença plena de Deus, as pessoas também viverão em paz, harmonia e segurança, umas com as outras.

 

REINOS E NAÇÕES

É digno de nota que as "nações" (ethnos, povos) e "reis" aparecem na nova Jerusalém, uma vez que, em Apocalipse, tendem a se aliar com os poderes satânicos contra a Igreja (11:8-10, 14:8; 17:1-6; 18:3). A nova Jerusalém também terá "principados e potestades", como reis e nações, mas eles serão restaurados ao seu lugar original, de subordinação ao Cordeiro reinante. Não haverá "choque de civilizações". Estruturas econômicas e sociais funcionarão como foram planejadas para trabalhar, sob o comando de Deus, organizando o mundo de uma maneira que traga liberdade, integridade e vida, ao invés de coerção, quebranto e morte. 

 

ÁRVORE PARA CURA

A imagem faz alusão ao Éden (Gênesis 1) e à visão de Ezequiel (47:7-12). A árvore da vida (ou seja, duas árvores), agora, não está fora do alcance da humanidade, mas torna-se acessível. O rio de cura flui para fora, e é para a cura e bênção das nações (povos), assim como Israel estava destinado a ser (Gênesis 12:3). A família humana será curada de qualquer coisa que cause inimizade e divisão, tal como o orgulho nacionalista, o tribalismo étnico e a violência. Diversidade de língua e cultura tornar-se-á uma bênção, não uma maldição. Eis a maravilha de um Deus fenomenalmente criativo, a ser celebrada e desfrutada. Em suma, o novo céu e a nova Terra são a criação como Deus quer que seja. Será uma ordem social, econômica, política e religiosa transformada, liberta do pecado e da morte, na qual todas as pessoas estarão em relacionamento correto com Deus, em "shalom" (paz) com os outros e com a criação. Essa é a esperança cristã final, e ela já tomou forma na morte, ressurreição de Jesus e no Espírito trabalhando na Igreja e no mundo.

 

CONCLUSÃO

A forma como vivemos agora dá-nos a direção e o fim para o qual a História está se movendo sob Deus? Apocalipse (e a maior parte do Novo Testamento) não permite que os cristãos sentem-se passivamente e relaxem, porque "ele virá com tudo certo no final.". Ao contrário, eles são chamados a participar ativamente e a sentirem “o sofrimento com paciência” (Apocalipse 1:9), no presente. Assim como a flor do açafrão, mesmo no auge do inverno, anuncia a chegada da primavera, o povo de Deus é chamado a trabalhar observando os sinais, pois o futuro tão aguardado está chegando.

 

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