Apocalipse 19:1:

1 E, DEPOIS destas coisas ouvi no céu como que uma grande voz de uma grande multidão, que dizia: Aleluia! Salvação, e glória, e honra, e poder pertencem ao Senhor nosso Deus;

 

INTRODUÇÃO

Normalmente, quando pensamos no livro de Apocalipse, vem à mente um livro de imagens fortes, de tragédias, de guerra. Algumas das cenas e personagens descritas são, realmente, inimagináveis. Entretanto, este livro singular da Bíblia é também de louvor. Há várias passagens que exalam adoração. A convocação ao louvor e ao regozijo, em Apocalipse 18 e 20, diz respeito a todos os santos, apóstolos e profetas; enfim, a todo o céu. O capítulo 19 começa com um interlúdio que descreve como esses servos de Deus responderam com quatro grandes “aleluias”, tributando toda glória e louvor a Deus.  É isso que veremos hoje.

 

A CELEBRAÇÃO DO TRIUNFO (V.1-6)

Por três vezes, neste livro, encontramos a multidão, sempre no céu, adorando ao Senhor (7:9-10; 19:1; 19:6). Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são do nosso Deus! A palavra “aleluia”, embora comum em expressões de louvor em nossos dias, aparece em apenas dois livros da Bíblia – os Salmos e o Apocalipse. Vem do hebraico e significa “louve a Deus” . No Apocalipse, a forma grega da palavra aparece apenas quatro vezes; todas neste capítulo (19:1,3,4,6). Não é um termo comum ou uma mera interjeição; e, sim, uma expressão de adoração ao Senhor.

A meretriz que corrompia a Terra e matava os servos de Deus está sendo julgada (19:2). A condenação eterna do mal e dos malfeitores é um julgamento justo e verdadeiro. Deus não pode premiar o mal, pois é ético. Quando a Babilônia caiu, a ordem foi dada no céu: "Exultai sobre ela, ó céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque Deus contra ela julgou a vossa causa" (18:20). Ao mesmo tempo, a religião prostituída diz: Ai, Ai; a noiva do Cordeiro... A Igreja aponta: Aleluia! 

O poder do mundo, que é transitório, está caindo (19:1). A grande meretriz, os sistemas religioso, político e econômico que dominaram o mundo e ostentaram sua riqueza, poder e luxúria entram em colapso. O mundo passa. Na segunda vinda de Cristo, esse sistema será completamente destruído.  

Os céus regozijam-se, porque Deus está julgando os inimigos. Ele está no trono. Dele são a salvação, a glória e o poder. O poder da falsa religião caiu. As máscaras da falsa religião caíram. A grande meretriz, o falso sistema religioso é condenado por dois motivos. Primeiramente, corrompeu a Terra com a prostituição (19:2). E levou as nações a se curvarem diante de ídolos. Ademais, desviou as pessoas do Deus verdadeiro e ensinou falsas doutrinas. El esforçou-se para produzir apóstatas em vez de discípulos de Cristo. Segundo, a meretriz matou os servos de Deus (19:2). A falsa religião sempre se opôs à verdade e perseguiu os arautos da verdade. Matou os santos, os profetas, os apóstolos e muitos mártires ao longo da História.

 

A CELEBRAÇÃO DAS BODAS (6-10)

João ouve vozes, as quais não identifica especificamente (v. 6), cantando o último dos cânticos.  O cântico tem uma razão: o dragão queria reinar, mas não conseguiu. A besta achava-se única, porém sua autoridade duraria pouco tempo (13:4-5). A meretriz dominava os reis do mundo, mas ela caiu (17:18; 18:2). Das 10 vezes que a palavra traduzida por “Todo-Poderoso”  aparece no Novo Testamento, nove estão no Apocalipse (1:8; 4:8; 11:17; 15:3; 16:7,14; 19:6,15; 21:22).

Não houve outro momento na História em que os cristãos foram chamados a suportar tantos sofrimentos, ou a viver, constantemente, perante a perspectiva iminente de uma morte violenta. E é, entretanto, na mesma época, que João chama a Deus de “Todo-Poderoso”, quando pensa nele como o único em cuja mão há o poder de todas as coisas. João nunca imaginou que Deus tinha perdido o controle da situação. Permanecem a fé e a confiança; e a ideia central desta passagem é que fé e confiança serão vistas e justificadas. Poderia parecer que o mal trunfava, mas a última palavra sempre fora a de Deus. 

Na sequência do texto, vemos a celebração das Bodas do Cordeiro. A Terra tem sua última oportunidade para aceitar ou rejeitar Cristo. A noiva é, evidentemente, a Igreja (2 Coríntios 11:2; Efésios 5:223-3); e Jesus Cristo, o Cordeiro, o Noivo (João 3:29). Nas cerimônias de casamento, normalmente, o centro das atenções é a noiva; contudo, aqui, o Noivo recebe a honra! “Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória” (v.7).  A noiva está ataviada, mas as vestes lhe foram dadas; as vestes da esposa do Cordeiro são o mais limpo, o mais puro e o mais fino dos linhos. A Igreja santifica-se, e essa santificação vem do Senhor. A Igreja desenvolve a sua salvação, mas é Deus quem opera tanto o querer como o realizar.

Os bem-aventurados convidados para as bodas e a esposa são a mesma pessoa (19:9). É uma sobreposição de imagens. A noiva é a Igreja; e os convidados, todos aqueles que fazem parte dela. Os convidados e a noiva são uma e a mesma coisa. A Igreja é o povo mais feliz do universo! A eternidade será uma festa que nunca acabará! 

A mensagem é a quarta das sete bem-aventuranças do livro. Quem são as pessoas abençoadas? Os vencedores, os obedientes, os santos, os que não amaram a própria vida e ofereceram-se totalmente ao Senhor. Neste contexto, a aplicação primária deve ser feita aos vencedores no contexto da perseguição romana. A figura do casamento de Cristo com sua Igreja, porém, estende-se aos outros fiéis (1 Coríntios 11:2; Efésios 5:27). Os mártires da época de João acham a sua vindicação na derrota da meretriz e, logo em seguida, na queda das bestas e do dragão. A Igreja de todos os lugares, e de todas as épocas, realiza a sua vitória ao chegar à presença do Senhor – ou pela morte dos fiéis (2 Timóteo 4:6-8), ou pela segunda vinda de Jesus (1 Tessalonicenses 4:16-18).

Esse trecho do Apocalipse é compreendido de forma melhor quando entendemos a cultura dos hebreus quanto ao casamento. Essa solenidade hebraica tinha quatro fases distintas. Em primeiro lugar, o noivado. Era algo mais profundo do que o significado de um compromisso para nós. A obrigação do matrimônio era aceita na presença de testemunhas, e a bênção divina era pronunciada sobre a união. Desde esse dia, os noivos legalmente estavam casados (2 Coríntios 11:2).   Portanto, o noivado era um compromisso sério e só poderia ser rompido por meio de um tipo de divórcio. Qualquer infidelidade era considerada adultério.

Artigos Relacionados

Existem apóstolos nos dias de hoje? Existem apóstolos nos dias de hoje?
Nas últimas décadas, especialmente dentro de algumas alas do movimento Pentecostal/Neopentecostal,...
Karl Barth sobre o Batismo Karl Barth sobre o Batismo
A palavra grega ‘baptizein’ e o termo alemão ‘taufen’ (de ‘Tiefe’), originalmente e com propriedade...
Jesus: O Centro das Promessas do Antigo Testamento Jesus: O Centro das Promessas do Antigo Testamento
Jesus Cristo é o cumprimento das promessas e profecias do Antigo Testamento. Ele é a semente...
Jesus e o Yom Kippur Jesus e o Yom Kippur
Milhões de judeus em todo o mundo celebram anualmente o "Yom Kippur" (o "Dia da Expiação"). Essa...

Em segundo lugar, havia o intervalo. Durante esse período, o esposo pagava ao pai da noiva um dote. Enquanto isso, a noiva preparava-se e ataviava-se para receber o noivo. Ela deveria apresentar-se a ele como noiva santa, pura, sem mácula. Depois, vinha a fase da procissão para a casa da noiva. O noivo, em seu melhor traje, era acompanhado de amigos que cantavam, levando tochas e seguiam em direção à casa da noiva. O noivo recebia a noiva e levava-a, ainda em procissão, ao seu lar.  

Por fim, ocorriam as bodas propriamente ditas. O noivo levava a noiva para a casa dele, local em que era realizado um banquete com todos os convidados e com o casal feliz.   As comemorações chegavam a durar de sete a 14 dias. Assim, a Igreja está desposada com Cristo; ele já pagou o dote por ela. E comprou a sua esposa com seu sangue. O intervalo é o período que a noiva tem para se preparar. Ao final desse tempo, o noivo vem acompanhado dos anjos para receber a noiva, a igreja. E começam as bodas. O texto registra este glorioso encontro: "Alegremo-nos e exultemos e demos-lhe glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou" (v.7). As bodas continuam não por uma semana, mas por toda a eternidade. Oh, dia glorioso será aquele! 

 

CELEBRAÇÃO DA VINDA TRIUNFAL DO NOIVO (V. 11-21)

Há alguns aspectos dignos de nota e destaque ainda.  Em primeiro lugar, a aparição do Noivo, o Rei dos reis (19:11). João vê Jesus vindo vitoriosamente do céu. O céu abre-se. Desta vez, está aberto não para João entrar (4:1), mas para Jesus e seus exércitos saírem (19:11). A última cena da história está para acontecer! Jesus virá para a última batalha. E aparece como o supremo conquistador, repentinamente, em majestade e glória!

Em segundo lugar, a descrição do Noivo, o Rei dos reis (19:11-13,15-16). Ele é fiel e verdadeiro (19:11), em contraste ao anticristo, falso e enganador. E é aquele que a tudo perscruta (19:12). Seus olhos são como chama de fogo. Nada ficará oculto de seu profundo julgamento. Vai julgar suas palavras, obras e os segredos do coração. Aqueles que escaparam do juízo dos homens não escaparão do juízo de Deus. Ele é o vencedor supremo (19:12b)! “Na sua cabeça há muitos diademas".  Ele tem, na sua cabeça, a coroa do vencedor e do conquistador. 

Quando entrou em Jerusalém, Jesus montou um jumentinho. Entrou como servo. Mas, agora, cavalga um cavalo branco e usa muitas coroas, símbolo da suprema vitória. Ele é insondável em seu ser (v.12). Isso revela que nós jamais vamos esgotar completamente o seu conhecimento. 

Ele é a Palavra de Deus em ação (v.13). Deus criou o universo por meio da Palavra. Agora, julgará o mundo por meio da sua Palavra também. Jesus é o grande juiz de toda a Terra. É o amado da Igreja e o vingador de seus inimigos (vv.13,15). Vem para o julgamento, para colocar os inimigos debaixo dos seus pés. Vem para recolher os salvos na ceifa e pisar os ímpios como numa lagaragem de uvas (14:17-20). Ele vem para julgar as nações (Mateus 25:31-46). 

Em terceiro lugar, os exércitos ou acompanhantes do Noivo, o Rei dos reis (19:14). O rei virá em glória, ao som retumbante da trombeta de Deus. Cristo descerá do céu, e todo o olho verá. Virá de forma pessoal, física, visível, audível, poderosa e triunfante. O rei virá com sua comitiva: os anjos e os remidos (Mateus 24:31; Marcos 13:27; Lucas 9:26; 1 Tessalonicenses 4:13-18; 2 Tessalonicenses 1:7-10). Um exército de anjos descerá. Os salvos reunir-se-ão com ele. Todos estarão trajando vestiduras brancas. 

Em quarto lugar, a derrota dos inimigos pelo Rei dos reis é descrita de forma hedionda (vv. 17-18). Enquanto os remidos são convidados a entrarem no banquete das bodas do Cordeiro, as aves são convidadas a se banquetearem com as carnes de reis, poderosos, comandantes, cavalos e cavaleiros. Há um contraste entre esses dois banquetes; o primeiro é o da ceia nupcial do Cordeiro, ao qual todos os santos são convidados (vv.7-9). O segundo, o banquete dos vencidos, ao qual as aves de rapina são convocadas. Isso indica que todo o poder terreno chegou ao fim. A vitória de Cristo é completa!

Em quinto lugar, o Rei dos reis triunfa sobre seus inimigos na batalha final, o Armagedom (vv.19-21). Essa será a peleja do Grande Dia do Deus Todo-Poderoso. Os exércitos que acompanham Cristo não lutam. Mas Jesus Cristo destruirá o anticristo com o sopro da sua boca, pela manifestação da vinda (2 Tessalonicenses 2:8). Todas as nações da Terra poderão vê-lo e lamentarão sobre ele (1:7). Quando os inimigos do Cordeiro reunirem-se, então, sua derrota será total e final. Esta batalha Jesus vence não com armas, mas com a Palavra, a espada afiada que sai da sua boca (v.15).

Aquele dia será dia de trevas; e, não, de luz para os inimigos de Deus. Ninguém poderá escapar. Aquele será o grande dia da ira do Cordeiro e do juízo divino. O anticristo e o falso profeta serão lançados no lago de fogo, as duas bestas também serão derrotadas e lançadas no mesmo local. Os poderes seculares e todas as falsas religiões terão o mesmo destino, destruídos para sempre. Enquanto isso, a Igreja desfrutará da intimidade de Cristo nas bodas do Cordeiro para todo o sempre.

 

CONCLUSÃO

Em breve, Cristo voltará como o Rei dos reis e Senhor dos senhores. É Cristo o senhor da sua vida, atualmente? Você está preparado para se encontrar com ele? Vigie para que o grande dia não apanhe você de surpresa.

 

Artigos Relacionados

Jesus: O Centro das Promessas do Antigo Testamento Jesus: O Centro das Promessas do Antigo Testamento
Jesus Cristo é o cumprimento das promessas e profecias do Antigo Testamento...
As Sete Igrejas do Apocalipse e a História do Povo de Israel As Sete Igrejas do Apocalipse e a História do Povo de Israel
Ao contrário da visão popular entre alguns cristãos de que as 7 igrejas de Apocalipse 2 e 3  (Éfeso...
A Morte do Messias no Livro de Daniel A Morte do Messias no Livro de Daniel
Depois das sessenta e duas semanas [de anos], será morto o Messias e já não estará [...] Ele fará...
Mito: A Igreja Medieval Proibia a Dissecação Humana? Mito: A Igreja Medieval Proibia a Dissecação Humana?
"A maioria das autoridades na igreja medieval não somente toleravam, mas encorajavam a abertura e...