Teste de Estudo

Efésios 5:18:

18 E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito;

 

INTRODUÇÃO

Um dos textos mais paradigmáticos com relação à essência de ser igreja é o de Atos dos Apóstolos 2:42-47. Ali encontramos o dia-a-dia da comunidade em seus primeiros passos. Bom é quando fazemos um paralelo dos primeiros anos daquela igreja com os anos posteriores. Isso nos ajuda a mapear a trajetória da Igreja de Cristo nos anos que se seguiram. Ajuda-nos, a saber, como foi que aqueles irmãos e irmãs conseguiram perseverar ao longo dos anos. Mas longe de querer apresentar uma cronologia sobre as primeiras décadas da Igreja Primitiva, sigo por outro viés, e chamo sua atenção para um fato curioso. 

Perceba a leve semelhança que há entre Atos dos Apóstolos 2:46-47, onde diz “Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam o pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo” (grifo nosso), e Efésios 5:18-20 “falando entre vós com salmos, (...) louvando de coração ao Senhor (...) dando sempre graças por tudo”. Se tomarmos por base a data mais antiga da redação da carta aos Efésios (que é 60 d.C.), veremos que o apóstolo Paulo exortava àquela igreja a manter a mesma rotina de alegria, comunhão e bom testemunho diante do mundo dos anos iniciais. Sabe o que isso revela? Revela unidade de pensamento de uma Igreja que tinha como bússola a verdade a respeito da vida, obra e ensinamentos de Jesus. Tudo o que os discípulos e apóstolos fizeram foi reproduzir os ensinamentos do Mestre. A atualidade das exortações de Paulo em Efésios 5:18-21 só será percebida quando a Igreja se perceber dentro desta unidade de propósito. Quando a igreja entende sua natureza e propósito reflete no mundo a exata luz de que o mundo precisa. 

Contudo, o cristão logo descobre o desconforto de se viver em um mundo de trevas, onde a desobediência gera filhos (2:2), num mundo de morte espiritual (2:1), e inimizade (2:16), num mundo que não pode oferecer o mínimo de vestimenta moral descente (4:22-24). O mundo o qual Paulo se refere está imerso na mentira (4:25), no furto (4:28), palavrões (4:29), amargura, cólera, ira, gritaria, blasfêmia e toda sorte de malícia (4:31). Como então poderá viver o cristão no meio disso tudo sem ser atingido pelo mal a ponto de abdicar de sua fé? A resposta de Paulo é: ser cheio do Espírito Santo.  

 

DOIS MANDAMENTOS: UM NEGATIVO E OUTRO POSITIVO

Paulo começa este novo parágrafo com dois mandamentos, sendo que o primeiro deles é negativo e o outro positivo. Senão, vejamos.

O primeiro mandamento é: “Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem” (v. 18). Paulo emprega uma imagem conhecida: a embriaguez. Quando os cristãos em Pentecostes foram cheios com o Espírito, a multidão acusou-os de estarem inebriados com vinho novo (Atos dos Apóstolos 2:13-15). Havia tamanha alegria no meio deles que os incrédulos não conseguiram pensar em uma comparação melhor. No entanto, podemos extrair algumas lições práticas importantes por meio de contrastes. Em primeiro lugar, o bêbado está sob o controle de outra força, uma vez que o álcool possui efeito sedativo. Experimenta uma sensação de grande alívio - todos os seus problemas se dissipam e tudo lhe parece perfeito. O bêbado não tem vergonha de se expressar (apesar de suas palavras e atitudes serem vergonhosas) e não consegue esconder o que está se passando em sua vida. 

Ao transpor essa imagem para o cristão cheio do Espírito Santo, vemos que Deus controla sua vida; ele experimenta uma alegria profunda e não tem medo de se expressar para a glória de Deus. Claro que o bêbado está descontrolado, uma vez que o álcool afeta seu cérebro; mas o cristão experimenta um maravilhoso domínio próprio que, na verdade, é Deus no controle. O domínio próprio é um fruto do Espírito (Gálatas 5:23). "Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas" (1 Coríntios 14:32). O bêbado faz papel de tolo e causa embaraço para si mesmo, mas o cristão cheio do Espírito glorifica a Deus e está disposto a ser considerado "[louco] por causa de Cristo" (1 Coríntios 4:10). O bêbado chama a atenção para si mesmo, enquanto o cristão cheio do Espírito dá testemunho de Cristo. Por certo, não é difícil viver e trabalhar com alguém que é cheio do Espírito e alegre. Uma pessoa assim tem um cântico em seu coração e em seus lábios. Os bêbados costumam cantar, mas suas canções revelam apenas o estado corrompido de seu coração. O cântico do cristão cheio do Espírito vem de Deus e não pode ser entoado sem o poder do Espírito. Deus até lhe dá cânticos no meio da noite (SI 42:8). Apesar da dor e da vergonha, Paulo e Silas foram capazes de cantar louvores a Deus em uma prisão em Filipos (Atos dos Apóstolos 16:25), e o resultado foi a conversão do carcereiro e de sua família. Que grande alegria eles experimentaram no meio da noite... e nem precisaram se embriagar para desfrutá-la! 

Todavia, o resultado da plenitude do Espírito é totalmente diferente. Em vez de nos aviltar e embrutecer, o Espírito nos enobrece, enleva e eleva. Torna-nos mais humanos, mais parecidos com Jesus. Vejamos, então, o segundo mandamento: “Enchei-vos do Espírito”. A versão da NVI traduz melhor este verso quando diz: “mas deixem-se encher pelo Espírito”.

Prestem atenção a quatro aspectos importantes do verbo “encher” neste verso.

Em primeiro lugar, ele é conjugado no modo imperativo: “Enchei-vos. O cristão deve empenhar-se em manter a mente desanuviada. As experiências cotidianas do homem cristão devem ser cheias do Espírito. O verbo traduzido por enchei-vos está no imperativo presente, proporcionando esta tradução: “Enchei-vos continuamente do Espírito”. Os verbos gregos no tempo presente constantes nos versículos 19 a 21 dão a entender que Paulo não está chamando os leitores à crise de serem totalmente santificados, mas à vida subseqüente, na qual o Espírito Santo nos enche, momento a momento, já tendo nós sido “selados com o Espírito Santo da promessa” (1:13).  Pode parecer uma coisa puramente técnica. Mas não nos enganemos com isso. Ou seja, a gramática, neste caso, deixa claro que a enchimento do Espírito não era algo esporádico ou um evento único. Devemos buscar este enchimento diariamente. Isso faz muito sentido, quando relembramos que as tentações e desafios da vida cristã também são diários. O diabo sempre espera o momento oportuno para atacar. Nosso inimigo é incansável. Nós precisamos estar sempre abastecidos com a preciosa água do Espírito se quisermos “resistir no dia mau e, depois de terdes vencido, permanecer inabaláveis” (6:13). 

Ser cheio do Espírito Santo não é uma opção para os discípulos de Jesus. Aqueles que “antes eram trevas”, mas se tornaram “luz no Senhor” (5:8), só conseguirão se manter em tal estado se buscarem o enchimento do Espírito. Dependemos radicalmente do agir do Espírito Santo em nós. Não basta estarmos com seu selo (1:13) é preciso ser cheio dele constantemente. Esta é a diferença que muitos não entendem. Mas, deveriam entender. Muitos cristãos estão detidos apenas no estágio inicial de suas vidas espirituais. Não é de estranhar o fato de que muitos têm caído nas ciladas do diabo (6:11).  

Em segundo lugar, ele é conjugado na forma plural. O mesmo ocorre com o verbo anterior: “não vos embriagueis com vinho”. Os dois imperativos de Efésios 5:18, tanto a proibição como a ordem, são escritos para toda a comunidade cristã. Eles têm aplicação universal.

Esta ordem é dada a todos os membros do corpo de Cristo. O “enchei-vos” não se aplica somente a pastores e os demais oficiais da igreja. A amplitude desta ordem é importantíssima. Pois, que corpo inferior não terá a igreja que cresce ou é cheia do Espírito em apenas algumas partes? Jesus subiu aos céus para “encher todas as coisas” (4.10). Ele concedeu dons aos homens “... até que todos” cheguem “... à unidade da fé”. O corpo, do qual Cristo é a cabeça, só cresce de forma sadia se houver “justa cooperação de cada parte” (4:16). 

Em terceiro lugar, o verbo está conjugado na voz passiva: “Sede enchidos”. Uma outra tradução seria: “Deixai-vos encher pelo Espírito”. É preciso ser dito que a voz do verbo usada por Paulo é passiva. Isto significa que o enchimento não depende só do cristão. De fato, deve haver a responsabilidade por parte do cristão em buscar este enchimento. Porém, quem atende a esta busca é o Espírito Santo. O papel do cristão é se colocar à disposição do Espírito, o papel do Espírito é nos encher e usar-nos para o louvor da glória de Deus!

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Em quarto lugar, o verbo está no tempo presente. É bem sabido que, na língua grega, se o imperativo está no aoristo (passado perfeito), ele se refere a uma ação única; se está no presente, é uma ação contínua. O tempo do verbo, o presente do imperativo no grego, deve ser observado, estando implícito que a experiência de receber o Espírito Santo de forma a cada parte da vida ser permeada e controlada por ele não é uma experiência que ocorre de “uma vez por todas”. Nos primeiros capítulos de Atos dos Apóstolos repete-se inúmeras vezes que os mesmos apóstolos ficaram “cheios com o Espírito Santo”. A implicação prática é que o cristão deve deixar sua vida aberta para ser constante e repetidamente cheia pelo Espírito divino. 

Moule parafraseia: “Deixem que o Santo, que os selou e os santificou, os envolva e os possua de tal forma que vocês sejam como vasos imergidos na sua corrente pura; e depois, entregando o coração sem reservas a ele, vocês sejam vasos imersos, mas abertos; ‘nele’ e ‘cheios’ nele, quando ele recebe continuamente, ocupa continuamente e consagra todas as partes da natureza de vocês, todos os departamentos da vida de vocês” 

Por fim, e não menos importante, se faz necessário saber o porquê Paulo comparou o ser cheio do Espírito, usando como contrapartida negativa, o ser cheio de vinho? Alguns estudiosos acreditam que isso possa ter alguma ligação com a festa (ou culto) do vinho dedicada a Dionísio . Como os cidadãos de Éfeso estiveram envolvidos com este aspecto religioso e cultural da cidade, Paulo achou por bem utilizar-se deste “gancho” para ser mais bem entendido por seus destinatários. Outros acham que estava acontecendo em Éfeso o mesmo problema a que Paulo fez referência em 1 Coríntios 11:21. Nesta passagem bíblica, Paulo denuncia os exageros cometidos por aqueles que até na celebração da Ceia do Senhor estavam completamente dominados pelo vinho. Apesar de serem possíveis, não podemos dizer com certeza se estas sugestões são prováveis. Paulo era um homem de mente fértil. Sua didática não era diferente da de Jesus, que utilizava fatos e elementos do cotidiano para ensinar algo. Mesmo que fossem elementos controversos ao parecer da audiência. Entendo que Paulo se valeu do vinho e de seus efeitos quando ingerido em plenitude para demonstrar àqueles cristãos, que eram consumidores de vinho, o quanto uma pessoa fica dominada por ele. Obviamente que Paulo trata a embriaguez como algo negativo. E por isso, a contrapartida positiva é ser cheio do Espírito. Sob o efeito ou domínio do Espírito o cristão atende a vontade do Senhor (5:17). 

 

EVIDÊNCIAS  DA  PLENITUDE  DO  ESPÍRITO SANTO

Depois do que vimos acima, que evidências podem demonstrar uma vida que está sendo cheia do Espírito? Paulo responde a esta pergunta com uma série de imperativos e verbos no particípio que atendem bem ao propósito que ele quer alcançar: vida cristã na prática. A grande verdade é que nem sempre temos dúvidas do que fazer, mas sim em como fazer. É por isso que esta parte da carta se reveste da mais significativa importância. Paulo contrasta os resultados entre ser cheio de vinho e ser cheio do Espírito. Enquanto a embriaguez gerada pelo vinho leva a dissolução (do grego asotia ), o abastecimento do Espírito leva-nos ao louvor, gratidão e submissão.  As evidências apontadas por Paulo de uma vida controlada ou governada pelo Espírito são:

“Falando entre vós com salmos...”. A primeira coisa que Paulo destaca é o ‘falar salmos’. Os salmos são construções poéticas e sapienciais cantadas . Eles falam de sentimentos, falam de histórias. Muitos deles falavam do Messias, do comportamento da realeza e da postura que o adorador deve manter no meio das mais variadas circunstâncias da vida.  Toda este material (ou seja, o saltério) tinha o fino objetivo de promover a edificação através da instrução e aconselhamento mútuo (cf. Colossenses 3:16). O “entre vós” deste verso é significativo. Fala do compromisso que os cristãos têm uns com os outros. Isso é igreja. 

O cristão cheio do Espírito não vive resmungando, reclamando da sorte, criando intrigas, cheio de amargura, inveja e ressentimento; sua comunicação é só de enlevo espiritual para a vida do irmão. O enchimento do Espírito é remédio de Deus para toda sorte de divisão na igreja. A falta de comunhão na igreja é carnalidade e infantilidade espiritual (1 Coríntios 3:1-3). No culto público, quem é cheio do Espírito Santo edifica o irmão, sendo bênção em sua vida. 

 “Entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais”. O povo de Deus é um povo que canta sua fé uns para outros, mas também direcionam essas canções para Deus. Assim Paulo abarca tanto a dimensão horizontal quanto a vertical. Ele indica isso quando menciona “de coração ao Senhor”. Aqui, o cântico não é entre vós, mas, sim, ao Senhor. Pois de que adiantaria uma igreja que canta de si para si, mas não canta e se expressa em louvor de si para Deus? O que Deus é e o que ele faz deveria ser a fonte de nossas canções. Outra coisa importante é que estes hinos e cânticos espirituais deveriam vir do coração. Bem sabemos que o coração é enganoso (Jeremias 17:9). Mas quando o mesmo está sendo cheio com o Espírito Santo produz coisas agradáveis a Deus. Passa a ser algo precioso, que deve ser guardado com muita segurança, pois já dizia o sábio “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Provérbios 4:23). 

A adoração de quem é cheio do Espírito Santo não é fria e sem entusiasmo. O cristão cheio do Espírito adora a Deus da sua forma, no seu estilo, mas com entusiasmo e profusa alegria. Ele usa toda sua mente, emoção e vontade para adorar a Deus. Um culto vivo não é carnal nem morto. Não podemos confundir entusiasmo com barulho carnal nem com emocionalismo. O culto verdadeiro é em espírito e em verdade. É um culto cristocêntrico, alegre, reverente e vivo.  Os cristãos cheios do Espírito têm um cântico de alegria no coração, e o culto público cheio do Espírito é uma celebração jubilosa dos atos poderosos de Deus. 257

Por fim pontuo a nota de que alguns acadêmicos têm questionado sobre uma possível diferença técnica entre “salmos”, “hinos” e “cânticos espirituais”. O erudito R. P. Martin sugere que os “salmos” referem-se a Odes Cristãs que tinham como padrão o saltério (isto é, os livros dos Salmos) do Antigo Testamento. Os “hinos” seriam composições mais longas e os “cânticos espirituais” seriam canções espontâneas impelidas pelo Espírito Santo.  Já para James D.G. Dunn os três termos se referiam a uma hinódia carismática. Segundo ele a distinção entre salmo e hinos, por um lado, e cânticos espirituais por outro lado, nada tem a ver com formas litúrgicas estabelecidas tradicionalmente e canções espontâneas. Antes tem relação com a distinção entre cânticos de palavras inteligíveis e versos familiares cantados em línguas.   

Contudo, o mais provável é que Paulo esteja tratando desta questão. Paulo usou termos sinônimos para falar de formas diferentes de canções. O mais importante é como estes “entoação” e “louvação” eram caracterizadas pelo adjetivo “espirituais”. Eram cações inspiradas pelo Espírito visando o fortalecimento e instrução dos que seguem a Cristo. 

“Dando sempre graças por tudo...”.  Esta frase aponta que outra evidência de uma vida cheia do Espírito Santo é a gratidão. Devemos dar graças a Deus por tudo, e sempre. Note como é ampla esta orientação. O que temos recebido do Senhor é o que deve promover a gratidão em nossos corações. No entanto, estamos cientes que além de coisas como segurança, trabalho, família, salvação, dons, etc. Deus também permite que coisas ruins aconteçam. E nem por isso deveríamos deixar de ser menos gratos. Na Bíblia está escrito: “Em tudo, daí graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1 Tessalonicenses 5:18). Veja também a posição de Jesus na nossa relação com Deus. Paulo entende que é “em nome de nosso Senhor Jesus Cristo” que devemos dar graças a Deus. Ah! Se não fosse Jesus, há muito seríamos órfãos, e estaríamos pobres, cegos e nus! Veja mais uma coisa. Falei do Pai e do Filho. Agora entendamos que o papel do Espírito é da mesma fundamental importância. O Espírito é quem nos capacita a termos um coração grato. Ele é quem nos ajuda em nossas fraquezas. E você sabe muito bem que fraquejamos bastante quando o assunto é “sempre dar graças a Deus”. É uma ação ininterrupta. Você não vive e então agradece, você agradece e então vive! 

“Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”. Uma pessoa cheia do Espírito não pode ser altiva, arrogante nem soberba. Os que são cheios do Espírito Santo têm o caráter de Cristo, são mansos e humildes de coração. Que esta é uma exortação adequada para a vida dentro da igreja não temos dúvidas. A questão é que muitos estudiosos relacionam o verso 21 com o verso 22 e seguintes. Quer seja para os versos anteriores, quer para os posteriores o fato que a vida daqueles irmãos deveria conter o elemento da sujeição mútua. Esta sujeição está intimamente ligada com a ideia de servir. Paulo entende que a sujeição é outra evidência de uma vida cheia do Espírito Santo. O temor de Cristo seria o meio adequado para a promoção desta sujeição. É muito possível que Paulo estivesse vislumbrando uma desobediência aos líderes da comunidade, ou ao líder familiar ou aos senhores de escravos. Os versos 22 e seguintes nos dão respaldo para isso. Paulo sabia que o segredo de manter a comunhão de alegria na comunidade era a ordem e a disciplina que vêm da submissão espontânea de uns aos outros. O versículo 21 é um versículo de transição e forma a ponte entre as duas seções desse capítulo. Não devemos pensar que a submissão que Paulo recomenda às esposas, às crianças e aos servos seja outra palavra para inferioridade. Igualdade de valor não é identidade de papel.  Sabemos que tal atitude não é fácil de ser praticada. Que o Espírito nos encha do temor do Senhor, pois este é o princípio da sabedoria.

 

CONCLUSÃO

Não percamos de vista o fato de que os lares passaram a ser os principais ambientes onde a vida cristã se desenvolveria. Aos poucos a crescente comunidade cristã foi se adaptando a um novo local de encontro com Deus, um ambiente fora do Templo (Lembremo-nos das palavras de Jesus a samaritana em João 4:21-24). Prova disso é o teor das exortações encontradas a partir do verso 22. Exortações estas que focalizam os relacionamentos dentro de casa  como, por exemplo, marido e mulher (5:22-33), pais e filhos (6:1-4) e patrões e empregados (6:5-9). Somos orientados constantemente sobre a importância de uma comunicação sadia nesta esfera de vida. O cristão é um protagonista da vida e não apenas de partes dela. Tudo o que ele é e faz deve transparecer uma vida sob nova direção. Que assim seja, e que as misericórdias do Senhor nos acompanhem. 

 

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