Texto de Estudo

Mateus 7:1:

1 NÃO julgueis, para que não sejais julgados.

 

 

INTRODUÇÃO

O Sermão da Montanha contém as mais ricas orientações de Jesus aos seus seguidores. Ao passo que ele nos conduz às simplicidades e vicissitudes da vida, seus conselhos de conduta e fé tão profundos parecem, muitas vezes, inatingíveis. Mas o simples e profundo ensinamento de Jesus está firmado na vontade de Deus e, sim, seu ensino é atingível e praticável por aqueles que experimentaram o novo nascimento.

Em seu sermão, Jesus aborda, majestosamente, um tema tão atual para os seus discípulos naqueles dias quanto para nós hoje. O que Jesus quis dizer com “Não julgueis”? Muitas pessoas afirmam que não temos o direito de julgar o estilo de vida ou crenças de quem quer que seja. Com base nisso, muitas denominações têm permitido que seus membros adotem uma conduta de vida sem discussão, avaliação ou repreensão. A Igreja tem perdido a competência de julgar o mundo porque cada membro em particular tem perdido a competência de julgar a si mesmo.

O propósito deste estudo é expor que o cristão deve sim, nas circunstâncias devidas e com posicionamento justo, julgar. Os julgamentos são necessários e precisos. Tentemos descobrir qual era o objetivo de Jesus ao dizer: “Não julgueis para que não sejais julgados” (Mateus 7:1). Essa será a nossa tarefa, hoje.

 

JESUS CONDENA O JULGAMENTO HIPÓCRITA

Para termos uma melhor compreensão do termo “julgar”, é necessário fazer uma análise de seu significado no contexto em que foi utilizado por Jesus.

Em nossos dicionários, o termo “julgar” possui vários significados: julgar (judicialmente), condenar, discernir. O verbo julgar, no grego, é krinõ, e denota, primariamente, separar, selecionar, escolher, por conseguinte, determinar e, assim, julgar ou pronunciar julgamento. Os usos deste verbo no Novo Testamento se empregam àqueles que assumem o ofício de juiz (Mateus 7:1; João 3:17). 

Jesus Cristo dá uma enfática ordem para que seus discípulos não julguem nem censurem de maneira precipitada e injusta. Apesar de possuírem compromisso com ele e com o Reino de Deus, Jesus deixa bem claro aos discípulos que isso não os autoriza a executar qualquer ato julgatório antes que se faça uma autoanálise e retratação diante de Deus, aquele que determina todas as sentenças.

Não obstante, a ordem para “não julgar” não é uma exigência para que sejamos cegos, mas antes uma exortação a sermos generosos. Jesus não nos pede que deixemos de ser homens (deixando de lado o poder crítico que nos distingue dos animais), mas que renunciemos à ambição presunçosa de sermos Deus, colocando-nos na posição de juízes. 

Em outras palavras, a injunção de nosso Senhor para “não julgar” não pode ser entendida como uma ordem para suspendermos nossa faculdade crítica em relação a outras pessoas, ou fechar os olhos diante de suas faltas fingindo não percebê-las, ou nos abstermos de toda crítica, recusando-nos a discernir entre a verdade e o erro, entre o bem e o mal.

Lido isoladamente, o versículo 1 traz a ideia de que Jesus proíbe todo e qualquer tipo de julgamento. Contudo, quando se lê os versículos 2 a 5, entende-se que Jesus não proíbe todo julgamento, mas somente aquele de fundo hipócrita. No versículo 2, ele dá razão pela qual os seus discípulos não deveriam julgar: o padrão usado por eles seria o mesmo que os outros usariam para julgá-los. Eles não deveriam ignorar seus próprios pecados, enquanto condenavam os mesmos pecados nos outros. Fazer isto é julgar com padrão duplo, é julgar hipocritamente. Esta é a questão que Jesus estava colocando diante do povo. 

Jesus, então, disse aos seus ouvintes: “Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão” (v. 5). Julgar hipocritamente é errado. Hipocrisia significa fingimento, falsidade, fingir sentimentos, crenças ou virtudes que na realidade não se possui. Do grego hypokrisis,  esta palavra significava a condição dos atores que usavam máscaras no teatro, de acordo com o papel que representavam em uma peça. Portanto, hipócrita é alguém que oculta a realidade por meio de uma máscara de aparência. Um hipócrita muitas vezes finge possuir boas qualidades para ocultar os seus defeitos, e por isso é também conhecido como uma pessoa dissimulada. 

Jesus Cristo exorta seus discípulos a julgarem sem “máscara”, após examinarem-se a si mesmos. Isto não significa que não se pode julgar o outro por um pecado que uma vez já fora cometido; antes, significa que se deve estar certo de que não há mais vínculo com o pecado antes de se falar aos outros do pecado deles. Somente será possível colocar em prática os ensinamentos de Jesus Cristo, quando toda a arrogância e hipocrisia forem eliminadas do coração do homem.

 

JESUS CONDENA A ATITUDE NEGATIVA DO CENSOR

Algumas pessoas vivem para criticar, sempre procurando e destacando as falhas alheias. Tais pessoas influenciam outros a serem extremamente críticos também. Quando condenamos excessiva e injustamente as pequenas falhas de outros, sem considerar as nossas próprias, eles terão motivo para nos julgar. Foi por essa razão que Jesus nos alertou, dizendo: “Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós” (v. 2).

Encontrar a falha alheia não deve ser motivo de orgulho próprio, mas, sim, de entendimento de que Deus lhe confiou a belíssima missão de ajudar, acolher e edificar. Jamais deve se expor a vida de um irmão com intenção de humilhá-lo ou ridicularizá-lo. Cristo não nos ensina tal coisa. Pelo contrário, devemos exercer a correção com misericórdia, amor, cuidado, zelo e justiça. Necessitamos, em tais circunstâncias, desempenhar a função de agentes motivadores, incentivando à santidade, obediência, amor a Deus e ao próximo.

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Para consolidar o seu ensinamento, Jesus faz uso de uma metáfora do “corpo estranho” nos olhos das pessoas: partículas de pó de um lado e traves ou toras de outro. “Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu?” (vv. 3-5).

A figura de uma pessoa com a delicada operação de re¬mover um cisco do olho de um amigo, enquanto uma imensa tábua em seu próprio olho impede totalmente a sua visão, é ridícula ao extremo. Da mesma forma, temos uma tendência fatal de exagerar as faltas dos outros e diminuir a gravidade das nossas. Achamos impossível, quando nos comparamos com os outros, permanecer estrita-mente objetivos e imparciais. Pelo contrário, temos uma visão rósea de nós mesmos e uma deformada dos outros. Na verdade, o que geralmente acontece é que vemos nossas faltas nos outros e os julgamos vicariamente. Desse modo, experimentamos o prazer da justiça própria sem a dor do arrependimento.  No entanto, Jesus faz o alerta: “Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão” (v. 5).

 

JESUS NOS ENSINA O QUE DEVE SER JULGADO

A orientação do Senhor para “não julgar” é separar, selecionar, escolher. Portanto, determinar. E, então, julgar ou pronunciar julgamento. Em outras palavras, a advertência é para nós não nos postarmos como juízes e pronunciarmos sentença contra uma pessoa – e condená-la – particularmente se estamos usando a nós mesmos como padrão. Isso não significa, entretanto, que devemos deixar de observar os outros e formar opiniões sobre a validade de sua profissão de fé. Isso não significa que os pastores devam deixar de advertir seu rebanho sobre o erro doutrinário nos ministérios dos outros pastores. Uma das maiores mentiras do Diabo é que a unidade deve ser preservada por meio da abolição de toda a crítica.

Ninguém julga com perfeição. Mesmo os mais piedosos discordam quanto aos méritos referentes a questões ou modo como os julgamentos deveriam ser feitos. Contudo, se podemos concordar quanto aos princípios bíblicos, teremos uma base para fazer julgamentos. Estas são algumas diretrizes que nos ajudam a julgar de forma sensata.

Somos ordenados a julgar ensinos e condutas; comportamentos e atitudes pecaminosas. No entanto, os motivos pertencem a Deus e estão além do âmbito do nosso conhecimento e jurisdição. O fato de não sabermos os motivos dos outros não deve nos deter na avaliação de nossos próprios motivos. Devemos nos perguntar: “Por que estamos interessados em julgar? Quais são os nossos motivos para criticar os falsos mestres, o entretenimento e os estilos de vidas dos outros e de nós mesmos?”

Em primeiro lugar, nosso motivo deve ser nos guardar de erro. Recordando as palavras de Jesus sobre o cisco e a viga, temos de manter em mente que tirar a viga do nosso olho deve ser a prioridade. Estamos ansiosos em saber a verdade, porque estamos ansiosos em ser santos; desejamos agradar a Deus, e assim, queremos conhecer somente levando em conta o que acreditamos e como vivemos.

Quando julgarmos, devemos indicar um versículo bíblico ou um princípio bíblico que fundamente nossas opiniões. Afinal, estamos interessados pelo que Deus revelou, não por nossas preferências e convicções pessoais. Isso significa que nem sempre concordaremos com os outros cristãos sobre onde os limites devem ser traçados. Às vezes, acharemos que é quase impossível separarmo-nos da nossa cultura, formação ou temperamento, pois uma e outra vez somos arrastados e desviados por nossas reações instintivas, impensadas, frente a outros. Diz-se que às vezes, entre os gregos, quando se julgava alguém por alguma causa muito delicada, o julgamento se realizava às escuras, para que os juízes não pudessem ver o culpado e assim não serem influenciados por outra coisa que não fossem os fatos do caso.

No entanto, apesar de ser quase impossível ser imparcial, isto não deve nos impedir de fazer julgamentos bíblicos necessários numa época em que o discernimento é considerado como inimigo do amor. Pode ser que não concordemos nos detalhes, mas a Bíblia é suficientemente clara para nos ajudar a ficar dentro dos parâmetros divinamente ordenados. Nem devemos deixar de exercer discernimento, embora saibamos que só Deus conhece todos os fatos.

Quando fizermos julgamentos, temos de perguntar: que verdade bíblica está sendo negada? Que verdade está sendo substituída? Que verdade está sendo ignorada? Que verdade está fora de equilíbrio?

 

CONCLUSÃO

A maioria das pessoas pode achar que falar sobre julgamento se tornou algo que já não mais se enquadra na realidade dos tempos modernos. Fala-se muito em liberdade de expressão, no entanto, negligencia-se o fato de que os cristãos, com discernimento, devem exercer olhar crítico e julgar as circunstâncias conforme o padrão de Deus. E, para tanto, primeiramente é preciso viver de acordo com este padrão.

O que Jesus está condenando não é a crítica propriamente dita, mas, antes, a crítica desvinculada de uma concomitante autocrítica; não a correção propriamente dita, mas, antes, o desejo de corrigir os outros quando nós mesmos ainda não nos corrigimos.

Em todas as nossas atitudes e no comporta¬mento relativo a outras pessoas, nem devemos representar o juiz (severo, censurador e condenador), nem o hipócrita (que acusa os outros enquanto se justifica), mas o irmão, cuidando dos outros a ponto de primeiro acusar-nos e corrigir-nos para depois procurarmos ser construtivos na ajuda que lhes vamos dar.

Referindo-se a alguém que tinha pecado, Crisóstomo disse certa vez: “Corrija-o, mas não como um inimigo, nem como um adversário que exige o cumprimento da pena, mas como um médico que fornece o remédio”, e, ainda mais, como um irmão amoroso e ansioso em salvar e restaurar. Precisamos ser tão críticos conosco quanto somos geralmente com os outros, e tão generosos com os outros quanto sempre somos conosco. Assim cumpriremos a Regra Áurea que Jesus nos dá no versículo 12 e agi¬remos em relação aos outros como gostaríamos que eles fizessem conosco.

 

 

 

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