Eu sou o bom Pastor; o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.    

João 10:11 

Uma das características do evangelho de João é que ele apresenta em seu texto a afirmação “Eu Sou”, usada por Jesus durante seus ensinos a respeito do Reino. Essa afirmação relembra as palavras de Êxodo 3:14, onde Deus se apresenta a Moisés como o grande “EU SOU”. Sabendo que um dos objetivos do evangelho joanino é apresentar Jesus como divino, não é contrastante o evangelista destacar em seu evangelho a reinvindicação deste título a Jesus. Em sete ocasiões Jesus se apresenta como o “Eu Sou” (8:12; 9:5; 10:7,9,11,14; 11:25; 14:6; 15:1,5).

Ao ler o texto de estudo de hoje percebemos que a ilustração de Jesus apresenta alguns personagens em seu enredo: ovelhas, ladrão e salteador, pastor das ovelhas, porteiro e o “estranho”, ou falso pastor. Nosso objetivo não é discorrer sobre cada um dos personagens, pois esse também não foi o objetivo de Jesus, mas destacar as comparações que Jesus fez de Si mesmo, tanto na parábola como na explanação da mesma.

 

O CONTEXTO DA PARÁBOLA

A parábola do bom pastor é apresentada apenas no evangelho de João o que a torna um pouco difícil de se localizar no contexto. Embora não exista um consenso entre os estudiosos, lendo os acontecimentos do capítulo 9 podemos ter uma ideia do porque Jesus contou tal parábola. O capítulo 9 narra o momento em que Jesus curou um cego de nascença, era um sábado. O homem que havia recebido a cura foi levado aos fariseus que, como sempre, reprovaram a ação de Jesus. O homem curado foi tratado de forma rude pelas autoridades religiosas e expulso da sinagoga. O que João escreve em seguida é, portanto, que muitos ladrões e assaltantes destroem as ovelhas, enquanto o bom pastor guia os seus para fora do aprisco e para dentro de seu próprio rebanho1. Ou seja, a parábola de Jesus vem como uma comparação entre a ação dEle e a ação dos fariseus. Jesus teve a atitude de um verdadeiro pastor, aquele que cuida e conduz com amor o rebanho. Os fariseus reivindicavam ser referência de líderes espirituais do povo, mas na verdade agiam como lobos que devoravam as ovelhas (Mateus 23:14). A parábola que Jesus contou soou aos ouvidos do homem curado como palavras de conforto e força, mas para os fariseus como palavras de julgamento e condenação.

A parábola ou ilustração (vv.1-5) que Jesus usou não era de todo nova para os Seus ouvintes. Em Ezequiel 34 aparece o mesmo exemplo do pastor e das ovelhas. Ali os governantes são condenados como negligentes, tirânicos, não se importando com as suas responsabilidades. Eles abusam da sua função e se alimentam, ao invés de alimentar as ovelhas. Como resultado, as ovelhas se espalham e tornam-se presas fáceis para todas as feras do campo. Foi este cenário que Jesus encontrou em Israel: “Vendo ele as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm um pastor” (Mateus 9:36). O mesmo cenário foi descrito pelo profeta Ezequiel. Consequentemente, Deus irá julgar os pastores indignos, e Ele mesmo irá reunir o rebanho desgarrado, alimentá-lo e dar-lhe abrigo.2

 

JESUS É O BOM PASTOR

Na parábola que estamos estudando hoje, percebemos que ora Jesus se apresenta como o pastor, ora como a porta do aprisco. Parece contraditório, mas na verdade Jesus aponta para cada elemento uma comparação sobre Si mesmo. Jesus não é só o pastor perfeito, mas a porta segura, o aprisco perfeito, o sentinela que não dorme, os pastos verdejantes, e assim por diante. Para o momento, analisaremos Jesus como sendo o bom pastor. E ele é o bom pastor, segundo o texto, pelos seguintes motivos:

 

Ele não é como ladrão ou salteador: ao iniciar a narrativa, Jesus faz um contraste entre “o bom pastor” e o “salteador”. O motivo e o método de abordagem do rebanho marcam as diferenças entre o ladrão e o pastor.3 O ladrão “vem para matar roubar e destruir” (v.10a), mas o pastor vem para que as ovelhas “tenham vida e a tenham em abundância” (v. 10b). O pastor entra pela porta, mas o salteador tenta pular a cerca do aprisco para saquear. O bom pastor é o proprietário das ovelhas, e para este o porteiro abre a porta do aprisco.

Ele conhece suas ovelhas: o texto diz que o bom pastor “chama pelo nome suas próprias ovelhas” (v.3). Nota-se aqui que o bom pastor não é alguém interessado apenas em um rebanho, mas alguém preocupado com ovelhas, ou seja, como se conhecesse cada uma delas, e de fato ele conhece.

Ele vai adiante do rebanho (v.4): o bom pastor não é alguém que fica atrás do rebanho e que ao menor sinal de perigo abandona as suas ovelhas. Pelo contrário, ele vai à frente disposto a conduzir o rebanho pelo melhor caminho. Pronto para enfrentar qualquer perigo que se ponha à frente das ovelhas. Ele vai à frente como um líder que transmite segurança e confiança aos seus liderados. Não é como o mercenário que ao ver o perigo abandona o rebanho por não ter nenhum cuidado com o mesmo (vs. 13,14)

Ele dá a vida por suas ovelhas (v.11): uma das características mais marcantes do bom pastor é que ele dá sua vida pelas ovelhas. Essa afirmação de Jesus não só descreve o seu amor imensurável por suas ovelhas, mas no texto é uma predição dos fatos que em breve ocorreriam, pois de fato o “Bom Pastor” entregou sua vida para salvar o rebanho.

 

JESUS É A PORTA DO APRISCO

Outra comparação relacionada com o contexto da parábola, que Jesus faz de si mesmo, é que Ele é a porta das ovelhas. Não é incomum o Mestre fazer uma comparação ilustrativa de Si mesmo usando seres inanimados. Ele disse: “Eu sou o pão da vida” (João 6:35), “Eu sou a luz do mundo” ( João 8:12), “Eu sou a videira verdadeira” (João 15:1).

No texto que estamos discorrendo hoje, Jesus afirma: “Eu sou a porta das ovelhas” (10:7). Essa afirmação lembra-nos do que Ele disse algum tempo depois do caso estudado hoje: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai senão por mim” (14:6). Se em João 14 Jesus se apresenta como “o único caminho”, anteriormente, como temos visto no texto de hoje, Ele se apresenta como a única porta. Jesus não disse “eu sou uma das portas”, Ele disse: “Eu sou a porta das ovelhas”. Ele é a única porta das ovelhas. Mas que porta é esta? É a porta de acesso ao aprisco, e aquele que entrar por ela terá acesso a duas coisas: salvação e pastos verdejantes. E que isso significa? Que Jesus é porta de entrada para a vida eterna. Mas não só isso, além de encontrarmos em Jesus a salvação para nossas vidas, temos nEle a fonte de prosperidade para os dias que antecedem a Sua vinda, pois Ele veio para que tenhamos “vida em abundancia” (v.10). Somente por Jesus nós podemos encontrar o alimento que nos alimenta diariamente, seja física ou espiritualmente.

 

AS OVELHAS

Embora o foco da parábola não seja as ovelhas e sim o pastor, cabe a nós, como ovelhas pertencentes ao Bom Pastor, perceber o comportamento das mesmas em relação ao seu pastor. Em primeiro lugar, precisamos entender que as ovelhas do Bom Pastor conhecem a voz do seu dono. Elas sabem a quem pertencem. A parábola que Jesus contou descreve bem a cena da pecuária dos Seus dias: não existia um sistema de estábulos e pastagens como nós o conhecemos. Ovelhas de diversos proprietários eram mantidas a céu aberto em pátios, ou seja, em locais murados. Ao pátio dava acesso um portão, que era vigiado por um porteiro, sobretudo à noite. Do pátio, os animais eram conduzidos para fora pelo proprietário e pastor para procurar seu alimento nas terras da região. O pastor chegava à entrada deste pátio e chamava por suas ovelhas, que mesmo estando misturadas com outros rebanhos começavam a se separar dos tais e juntar-se ao redor do seu pastor.

Assim devemos nos comportar diante da voz de Jesus. Estamos no mundo, mas não pertencemos a ele (João 15:19). Devemos estar sempre prontos e preparados para ouvir a voz do nosso Pastor. Em segundo lugar, percebemos que se Jesus é o nosso Bom Pastor, nós precisamos estar dispostos a segui-lO sem questionar. O texto diz que o pastor “vai adiante delas, e elas o seguem” (v.4). Muitas pessoas desejam fazer parte do aprisco do Senhor Jesus e querem desfrutar das bênçãos e dos cuidados dEle, mas não querem segui-lO. Isso ocorre porque tais pessoas conhecem sobre o Pastor, mas de fato não conhecem o Pastor. Jesus disse que não só Ele conhece as Suas ovelhas, mas as mesmas O conhecem (v.14) e por isso não seguem o estranho e tampouco Lhe dão ouvidos.

 

CONCLUSÃO

Impossível ler está parábola sem lembrar do Salmos 23 Parece que o texto de hoje é um antítipo do texto de Davi. Jesus é Bom Pastor e por Ele somos supridos de todas as nossas necessidades e por isso não sentimos falta de nada. Ele nos guia por pastos verdejantes e nos leva a águas tranquilas. Somente nEle podemos ter proteção contra o ladrão e salteador que procura saquear a nossa alma. Jesus não apenas é o “bom pastor que dá a vida por suas ovelhas”, Ele é o Bom Pastor que deu a vida pelo Seu rebanho para que hoje tenhamos vida em abundância. O que vamos fazer a respeito disso? Vivermos como ovelhas que não têm um pastor ou ouvir a Sua doce voz nos convidando a segui-lO?

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QUESTÕES PARA ESTUDO EM CLASSE

1 - Segundo o estudo de hoje, o que motivou Jesus a contar a parábola do bom pastor? (ver capítulo 9)

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2 - A lição vai apontar pelo menos quatro motivos pelos quais podemos afirmar que Jesus é o Bom Pastor. Quais são eles?

R._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

3 - Qual a intenção de Jesus em afirmar que Ele é a porta das ovelhas? O que podemos encontrar ao acessar por ela?

R._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

4 - Em relação ao comportamento das ovelhas diante do seu pastor, que lições importantes podemos aprender no que refere ao nosso relacionamento com Jesus?

R._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

5 - Ao ler o texto de hoje e também o de Ezequiel 34 o que podemos aprender sobre a forma que os líderes espirituais da igreja (pastores) devem conduzir a mesma?

R._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

 

6 - Como a parábola estudada hoje tem uma relação com o Salmos 23? Quais as similaridades?

R._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

1 CARSON, D.A. O Comentário de João. São Paulo. Shedd, 2007, p. 380.

2 Comentário Bíblico Beacon: João a Atos. Rio de Janeiro. CPAD, 2006, p.95.

3 Comentário Bíblico Beacon. 2006, p.95.

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