Nas últimas décadas, especialmente dentro de algumas alas do movimento Pentecostal/Neopentecostal, alguns têm apregoado que o Espírito Santo está mais uma vez levantando “apóstolos” para dirigir a Igreja do Senhor Jesus (por exemplo, a “Nova Reforma Apostólica” de C. Peter Wagner e grupos ligados ao G12/M12). C. Peter Wagner (1930-2016) chegou mesmo a afirmar em um de seus escritos que os “apóstolos modernos” têm a mesma autoridade que os apóstolos originais para a apresentação de novas doutrinas e revelações de Deus.
Tal posicionamento está longe tanto das Escrituras quanto da história eclesiástica. Há um simbolismo no número “12” escolhido por Jesus. Assim como 12 patriarcas (os filhos de Jacó) deram origem às 12 tribos da comunidade de Israel, 12 apóstolos dariam origem à comunidade da nova aliança, o “novo Israel”, a Igreja. Vejo também um outro paralelo interessante: José deu origem a duas tribos (Efraim e Manassés), assim teríamos na verdade 13 grupos tribais no Antigo Testamento. Paulo foi chamado por Jesus como um 13º apóstolo, o apóstolo dos gentios!
Não vemos na Bíblia os apóstolos nomeando sucessores ou “novos apóstolos”, com a mesma autoridade que possuíam. Após a sua morte, Judas Iscariotes foi substituído por Matias, conforme Atos dos Apóstolos 1:16-26. Mas Tiago não foi substituído quando morreu: “Por aquele tempo, mandou o rei Herodes prender alguns da igreja para os maltratar, fazendo passar a fio de espada a Tiago, irmão de João.” (Atos dos Apóstolos 12:1-2) Por quê?
“Tu, Senhor, que conheces o coração de todos, revela-nos qual destes dois tens escolhido para preencher a vaga neste ministério e apostolado, do qual Judas se transviou [...]” Judas teve de ser substituído porque se desviou do colégio apostólico designado por Jesus, não porque morreu.
A Bíblia destaca um importante requisito que deveria ser cumprido pelos apóstolos da Igreja primitiva: o testemunho ocular de Jesus..
... dos homens que nos acompanharam todo o tempo que o Senhor Jesus andou entre nós, começando no batismo de João, até ao dia em que dentre nós foi levado às alturas, um destes se torne testemunha conosco da sua ressurreição.
Atos dos Apóstolos 1:21-22Artigos Relacionados
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Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor?
1 Coríntios 9:1
Aliás, Paulo se apresenta como o último a ver Jesus: “Depois apareceu a Tiago e, então, a todos os apóstolos; depois destes apareceu também a mim, como a um que nasceu fora de tempo.” (1 Coríntios 15:7-8) Nenhum pretenso apóstolo de nossos dias pode afirmar cumprir tal requisito essencial.
Os apóstolos originais foram autenticados por sinais sobrenaturais específicos. Como Paulo disse, “as marcas de um apóstolo — sinais, maravilhas e milagres — foram demonstradas entre vocês, com grande perseverança.” (2 Coríntios 12:12) Pedro (Atos dos Apóstolos 9:36-43) e Paulo (Atos dos Apóstolos 20:7-12) inclusive ressuscitaram mortos!
A posição singular dos apóstolos originais é também apontada pela posição que seus nomes ocuparão na Nova Jerusalém celestial: “A muralha da cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre estes os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.” (Apocalipse 21:14)
O ofício apostólico, juntamente com o ofício profético, desempenhou o seu papel na fundação da Igreja Cristã, enquanto a doutrina estava sendo revelada e assentada por escrito no que hoje é o Novo Testamento. Por isso, Efésios 2:19-20 afirma que “já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular.” (Efésios 2:19-20) Nas palavras do Comentário Bíblico Moody sobre esse texto, “a Igreja, que é o corpo de Cristo, está sendo apresentada aqui como um grande edifício, o templo de Deus. Os apóstolos foram homens especialmente designados pelo Senhor Jesus Cristo no começo da Igreja. Eles não tiveram sucessores.”
Vemos mais uma evidência da cessação do ofício apostólico através da literatura cristã primitiva. Os escritos cristãos dos primeiros séculos (Didaquê, Inácio, Barnabé, Policarpo, Justino, Tertuliano, Orígenes etc.) mencionam bispos e diáconos como ofícios eclesiásticos, mas não reconhecem novos “apóstolos” com autoridade em suas gerações. Por exemplo, Inácio de Antioquia, em sua epístola aos Romanos, declarou de si mesmo: “Não é como Pedro e Paulo, que vos ordeno. Eles eram apóstolos, eu um condenado; aqueles, livres, e eu até agora escravo.”
Que sejamos como os apóstolos, não no sentido de buscarmos uma ostentação (indevida) desse título, mas no seguir o seu exemplo de abnegação, de entrega, de sacrifício por amor ao Senhor Jesus, mesmo em face das piores adversidades. E que com o auxílio das Escrituras, tenhamos cuidado com aqueles “que se aproximam de vós disfarçados de ovelhas, mas no seu íntimo são como lobos devoradores.” (Mateus 7:15)
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