PERGUNTA

No último capítulo do livro do profeta Daniel, encontramos a seguinte profecia:

A partir do momento em que for abolido o sacrifício diário e for colocado o sacrilégio terrível, haverá mil e duzentos e noventa dias. Feliz aquele que esperar e alcançar o fim dos mil trezentos e trinta e cinco dias.

Daniel 12:11-12

Qual é o significado desses prazos de tempo proféticos?

RESPOSTA

Ao longo da história, diversas interpretações têm sido dadas às profecias simbólicas do livro de Daniel, e o mesmo se pode dizer quanto aos períodos de tempo mencionados em seu último capítulo. Para alguns, essas profecias já encontraram seu cumprimento no passado, enquanto para outros elas são ainda futuras. Destaco que não há qualquer fundamento exegético para se converter os períodos da profecia em 1290 ou 1335 anos (o chamado princípio dia-ano), conforme alguns já o fizeram.

Irei apresentar a seguir as duas interpretações que considero mais prováveis, as quais chamarei de interpretações grega e romana.

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Interpretação Grega:

Os prazos da profecia de Daniel 12 apresentam relação com a profecia de Daniel 8 a qual trata do rei sírio Antíoco Epifânio. No 2º século antes de Cristo, Antíoco proclamou-se divino, invadiu a Palestina, proibiu a circuncisão e a guarda do Sábado, queimou todas as Escrituras Sagradas que pôde encontrar, erigiu uma estátua de Zeus no templo judaico e profanou o Lugar Santíssimo com sangue de porcos que lá sacrificou. Matou dezenas de milhares de judeus fiéis. Ele “jogou por terra a verdade, e o que fez prosperou”, conforme declara a profecia (8:12). A crise nacional sob Antíoco foi o evento mais notável no período intertestamentário, com Antíoco quase exterminando a religião e a cultura dos judeus. (Leia mais a respeito em: Até Duas Mil e Trezentas Tardes e Manhãs e o Santuário Será Purificado)

O fim dos sacrifícios judaicos, com a desecração do Templo por meio de sacrifícios pagãos ocorreu em 168 a.C. (conforme relatado em 1 Macabeus 1:29-61; aqui, utilizamos Macabeus como registro histórico sobre o período, e não como obra divinamente inspirada). Contando-se 1290 dias dessa data, chegamos ao ano de 165 a.C., quando ocorreu a purificação do Santuário e o retorno dos sacrifícios judaicos (1 Macabeus 4:36-59). Contando mais 45 dias (finalizando assim os 1335 dias), chegamos ao ano 164 a.C., quando ocorreu a morte de Antíoco (1 Macabeus 6:1-16). A morte do opressor foi fonte de imensa alegria para o povo que havia sido tão atribulado.

Interpretação Romana:

Jesus realizou uma nova aplicação das profecias de Daniel às vindouras desolações de Jerusalém nas mãos dos romanos, entre os anos 66 e 70 d.C. (compare Mateus 24:15-21 e Lucas 21:20-24). Assim, alguns acreditam que a profecia de Daniel 12 se cumpre nesse período.

Em novembro do ano 66 d.C. os exércitos romanos cercaram a cidade de Jerusalém, conforme Jesus havia declarado. Contando-se 1290 dias dessa data, chegamos a agosto do ano 70 d.C., quando os sacrifícios no Templo chegaram ao seu término. Contando mais 45 dias (finalizando os 1335 dias), chegamos à data da destruição do Templo, em setembro do ano 70 d.C. Convém destacar que nenhum cristão pereceu no juízo da destruição de Jerusalém, pois todos fugiram após o primeiro cerco, em obediências às palavras de Jesus, nos textos dos Evangelhos citados. Esse fato é confirmado na obra História Eclesiástica, do historiador Eusébio de Cesareia.

Ambas as respostas são plausíveis historicamente, mas particularmente, fico com a posição da interpretação grega.

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