Uma alegação feita pelos críticos da Bíblia é a diferença que existe entre Marcos e João ao relatarem a hora da crucificação (McKinsey, 2000, pp. 295-296; Wells, 2013). Marcos registra que o Senhor foi crucificado na terceira hora (15:25), enquanto João registra que Jesus foi julgado diante de Pilatos na sexta hora (19:14) - o que parece acontecer depois que Marcos diz que Jesus foi crucificado. A harmonização dessa diferença superficial é bastante simples e reforça ainda mais a sofisticação da inspiração bíblica.
Vivendo no século XXI, deixamos de lembrar ou reconhecer que o tempo nem sempre foi contado do jeito que é hoje em todo o mundo. Somos capazes de calcular rapidamente o tempo em qualquer lugar do mundo. Por exemplo, se são 9:00 da manhã em Montgomery, Alabama, são 10:00 da manhã em Nova York, 15:00 em Londres e meia-noite em Sydney, na Austrália. Não era assim na antiguidade. Os antigos usavam uma variedade de sistemas pelos quais eles contavam o tempo.
Um estudo cuidadoso do texto bíblico revela o fato de que João (que escreveu perto do final do primeiro século, vários anos depois dos escritores sinóticos, afastou-se da Palestina e se dirigiu a uma eclética audiência helenística) baseou seus cálculos no tempo civil romano. Mateus, Marcos e Lucas, por outro lado, computaram suas alusões a dias e horas de acordo com o tempo judaico (cf. Smith, 1869, 2:1102; Robertson, 1922, p. 285; Lockhart, 1901, p. 28; Geisler e Howe, 1992, p. 376; Brewer, 1941, pp. 330-331; McGarvey, 1892, 2:181-182).
À luz desses fatos, leia o contexto da alusão de João à “sexta hora”:
Ouvindo Pilatos estas palavras, trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado Pavimento, no hebraico Gabatá. E era a parasceve pascal, cerca da hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso rei. Eles, porém, clamavam: Fora! Fora! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso rei? Responderam os principais sacerdotes: Não temos rei, senão César! Então, Pilatos o entregou para ser crucificado.
João 19:13-16
Ouvindo Pilatos estas palavras, trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado Pavimento, no hebraico Gabatá. E era a parasceve pascal, cerca da hora sexta; e disse aos judeus: Eis aqui o vosso rei. Eles, porém, clamavam: Fora! Fora! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso rei? Responderam os principais sacerdotes: Não temos rei, senão César! Então, Pilatos o entregou para ser crucificado.João na verdade não se refere à hora da crucificação, mas apenas aos procedimentos que levaram à crucificação, especificamente, o cronograma geral quando Pilatos entregou Jesus aos guardas romanos para iniciar os procedimentos de execução. Nesse ponto, ainda havia a jornada tortuosa e demorada até o local da execução. Estes eventos começaram a ocorrer “cerca de” 6 horas da manhã.
O relato de Marcos é o seguinte:
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E obrigaram a Simão Cireneu, que passava, vindo do campo, pai de Alexandre e de Rufo, a carregar-lhe a cruz. E levaram Jesus para o Gólgota, que quer dizer Lugar da Caveira. Deram-lhe a beber vinho com mirra; ele, porém, não tomou. Então, o crucificaram e repartiram entre si as vestes dele, lançando-lhes sorte, para ver o que levaria cada um. Era a hora terceira quando o crucificaram.
Marcos 15:21-25
Usando o cálculo judaico, a “terceira hora” de Marcos é 9 horas da manhã - três horas depois da “sexta hora” de João (ver também Miller, 2007). Um amplo tempo é fornecido para os eventos que levaram à crucificação real, a sequência apropriada é preservada e a historicidade original da Bíblia é justificada.
É verdadeiramente trágico que os céticos estejam tão empenhados em descobrir discrepâncias no escrito inspirado que manifestam um preconceito tão extremo. Um indivíduo honesto e imparcial terá tempo para examinar os detalhes das Escrituras e estender uma audiência justa a seu registro - a mesma justiça que o cético deseja para si mesmo. Apesar do contínuo ataque daqueles que vêem a Bíblia com desdém - um ataque que dura dois milênios - a Bíblia permanece incólume na afirmação de sua origem divina.
REFERÊNCIAS
Brewer, G.C. (1941), Contending For the Faith (Nashville, TN: Gospel Advocate).
Geisler, Norman and Thomas Howe (1992), When Critics Ask (Wheaton: IL: Victor).
Lockhart, Clinton (1901), Principles of Interpretation (Delight, AR: Gospel Light), revised edition.
McGarvey, J.W. (1892), New Commentary on Acts of Apostles (Cincinnati, OH: Standard).
McKinsey, C. Dennis (2000), Biblical Errancy (Amherst, NY: Prometheus).
Miller, Dave (2007), "Sunday and the Lord's Supper," Apologetics Press, http://www.apologeticspress.org/APContent.aspx?category=11&article=1254&topic=288.
Robertson, A.T. (1922), A Harmony of the Gospels (New York: Harper & Row).
Smith, William (1869), Dictionary of the Bible, ed. H.B. Hackett (New York: Hurd & Houghton).
Wells, Steve (2013), The Skeptic’s Annotated Bible, http://www.skepticsannotatedbible.com/contra/hour.html.
Traduzido a partir de "At What Hour was Jesus Crucified?" <http://apologeticspress.org/APPubPage.aspx?pub=1&issue=1139§ion=0&article=2212&cat=164>.
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