Em 2007, o documentário “Zeitgeist: O Filme” popularizou a ideia, desenvolvida por estudiosos amadores dos séculos XIX e XX (isto é, sem formação específica em áreas de estudo da História Antiga), de que os relatos da vida de Jesus conforme se apresentam nos Evangelhos (como o nascimento virginal, a visita dos magos, os 12 apóstolos, os milagres, a crucificação e a ressurreição) foram “copiados” a partir de relatos biográficos de outros deuses pagãos anteriores ao Cristianismo (como Osíris, Hórus, Átis, Dionísio, Krishna e Mitra). Muitas pessoas acabaram por “comprar” tais ideias, sem um estudo mais crítico.

Nesse artigo, iremos analisar o desafio apresentado pelo vídeo, apresentando citações de diversos estudiosos, tanto cristãos quanto não-cristãos. Os Evangelhos são, de fato, cópias do Paganismo?

“As histórias de deuses morrendo e depois voltando à vida, que já foram um tópico muito estudado por mestres da área, agora são entendidos como um erro cometido pela má interpretação de textos ambíguos.”

Z. Smith, Encyclopedia of Religion, v. 4, p. 521.

“A discussão sobre deuses que morrem e depois voltam à vida foi estudada por grande parte dos professores contemporâneos. Resumindo, quando analisamos detalhadamente esses mitos, vemos que não existe realmente uma morte, não há ressurreição, e não existe um deus!”

Gregory A. Boyd e Ron Rhodes, Lord or Legend? Wrestling with the Jesus Dilemma, p. 53.

“[...] o primeiro paralelo real de um deus que morre e ressuscita só aparece depois do ano 150 d.C., mais de cem anos depois da origem do Cristianismo. Desse modo, se houve qualquer influência de um sobre o outro, foi a influência do fato histórico do NT sobre a mitologia, e não o inverso. O único relato conhecido de um deus sobrevivendo à morte que seja anterior ao Cristianismo é o culto egípcio ao deus Osíris. Nesse mito, Osíris é cortado em 14 pedaços, espalhado por todo o Egito e, depois, remontado e trazido de volta à vida pela deusa Ísis. Contudo, Osíris não volta realmente à vida física, mas torna-se membro de um submundo de sombras. Como observam Gary Habermas e Michael Licona, ‘isso é muito diferente do relato da ressurreição de Jesus, no qual ele é o gloriosamente ressurreto Príncipe da vida que foi visto por outros na terra antes de sua ascensão ao céu’. Por fim, mesmo se existirem mitos sobre deuses morrendo e ressuscitando que sejam anteriores ao Cristianismo, isso não significa que os autores do NT copiaram esses mitos. [...] É preciso olhar para a evidência de cada relato para ver se é histórico ou mítico. Não há testemunhas oculares ou evidências que corroborem a historicidade da ressurreição de Osíris ou de qualquer outro deus pagão. Ninguém acredita que eles sejam realmente figuras históricas. Contudo, como vimos, existem fortes evidências de testemunhas oculares que corroboram a historicidade da morte e da ressurreição de Jesus Cristo.”

Norman Geisler e Frank Turek, I Don’t Have Enough Faith to be An Atheist, p. 312 

“Quais deuses de mistério realmente experimentaram uma ressurreição dentre os mortos? Certamente, nenhum texto antigo se refere a qualquer ressurreição de Átis. Tentativas de vincular a adoração de Adônis a uma ressurreição são igualmente fracas. Tampouco é o caso da ressurreição de Osíris mais forte. Depois que Ísis reuniu os pedaços do corpo desmembrado de Osíris, ele se tornou ‘Senhor do Submundo’. [...] E, é claro, não se pode afirmar que Mitra era um deus que morreu e ressuscitou. O estudioso francês Andre Boulanger conclui: ‘A concepção de que o deus morre e ressuscita para levar seus fiéis à vida eterna não está representada em nenhuma religião de mistério helenística.’”

Ronald Nash, The Gospel and the Greeks: Did the New Testament Borrow from Pagan Thought?, p. 161-162.

“Muitos dos supostos paralelos com esse evento são, na verdade, histórias apoteóticas, como a divinização e a ascensão do herói ao céu (Hércules, Rômulo). Outras são histórias de desaparecimento, afirmando que o herói foi para uma esfera maior (Apolônio de Tiana, Empédocles). Ainda outros são símbolos sazonais para o ciclo de colheita, ao a vegetação morrer na estação seca e voltar à vida na estação chuvosa (Tamuz, Osíris, Adônis). Alguns são expressões políticas de adoração ao imperador (Júlio César, César Augusto). Nenhum desses é paralelo à ideia judaica da ressurreição dos mortos. David Aune, que é especialista de literatura comparativa do Antigo Oriente Próximo, conclui: ‘nenhum paralelo a elas [tradições de ressurreição] é encontrado na biografia Greco-Romana.’”

William Lane Craig, Jesus e a Mitologia Pagã, disponível em:  <https://pt.reasonablefaith.org/artigos/pergunta-da-semana/jesus-e-a-mitologia-pagae>. 

“Zeitgeist nos informa que os ‘três reis’ são as três estrelas mais brilhantes no cinturão da constelação de Órion, que se alinham com Sírius (a Estrela do Oriente) para apontar para o local do nascer do Sol (nascimento do Sol). O filme nos assegura que: ‘Essas três estrelas brilhantes são chamadas hoje como eram chamadas nos tempos antigos: Os Três Reis’. No entanto, o mesmo problema antigo: nenhuma fonte, exceto seus autores de estimação do século XIX; nada antes de 1822.”

Joel McDurmon, Zeitgeist The Movie Exposed: Is Jesus an Astrological Myth?, p. 42. 

“O nascimento virginal do deus pagão Dionísio é atestado apenas em fontes pós-cristãs [...] vários séculos depois de Cristo.” 

Daniel B. Wallace, Reinventing Jesus, p. 242. 

“Apesar das alegações de paralelos óbvios e profundos entre o Cristianismo e o Mitraísmo, quando se olha para as evidências, surge um quadro completamente diferente. Primeiro, Mitra não era pensado como nascido de uma virgem nos mitos mais antigos; antes, ele surgiu espontaneamente de uma rocha em uma caverna.” 

Edwin Yamauchi, citado em Reinventing Jesus, p. 242. 

 “Alegações de uma dependência cristã sobre o Mitraísmo foram rejeitadas por muitos motivos. O Mitraísmo não tinha o conceito da morte e ressurreição de seu deus e não havia lugar para nenhum conceito de renascimento - pelo menos durante seus estágios iniciais [...] Durante os estágios iniciais do culto, a noção de renascimento teria sido estranha à sua perspectiva básica [...] Além disso, o Mitraísmo era basicamente um culto militar. Portanto, é preciso ser cético em relação às sugestões de que ela atraiu pessoas não-militares como os primeiros cristãos.”

Ronald Nash, Christianity and the Hellenistic World, p. 144. 

“Fica, então, claro que a ênfase do Novo Testamento sobre o derramamento de sangue não deve ser ligada a nenhuma fonte pagã. O ensino do Novo Testamento deve ser considerado no contexto do pano de fundo do Antigo Testamento — a Páscoa e os sacrifícios do templo.”

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Ronald Nash, Christianity and the Hellenistic World, p. 156.

“Que deuses misteriosos experimentaram realmente uma ressurreição dos mortos? Com certeza, nenhum texto primitivo se refere a qualquer ressurreição de Átis. As tentativas de ligar a adoração de Adônis a uma ressurreição são igualmente fracas. O caso para a ressurreição de Osíris também não é forte. Depois de Ísis ter recolhido os pedaços do corpo desmembrado de Osíris, ele tornou-se o ‘Senhor do Mundo Subterrâneo’ (Inferno). Nas palavras de Metzger: ‘Se isto pode ser chamado corretamente de ressurreição é duvidoso, especialmente porque, segundo Plutarco, era desejo piedoso dos devotos serem enterrados no mesmo lugar em que, segundo a tradição local, o corpo de Osíris ainda jazia’. Só se pode, então, falar de ‘ressurreição’ nas histórias de Osíris, Átis e Adônis num sentido mais amplo. Não se pode naturalmente afirmar que Mitra fosse um deus que morresse e se levantasse.”

Ronald Nash, Christianity and the Hellenistic World, p. 172-173. 

“[A crucificação de Krishna] é absoluta e completamente sem sentido. Não há absolutamente nenhuma menção em nenhum lugar que alude a uma crucificação. Krishna foi morto por uma flecha de um caçador que acidentalmente atirou nele no calcanhar. Ele morreu e ascendeu. Não foi uma ressurreição.”

Edwin Bryant, professor de Hinduísmo na Universidade Rutgers, citado por Mike Licona, A Refutation of Acharya S's book, The Christ Conspiracy

“Não existe nenhuma evidência para um Átis ressuscitado, e mesmo Osíris permanece com os mortos.”

Walter Burkert, Ancient Mystery Cults, p. 75.

“Os eruditos modernos salientaram que a história cristã sobre a morte e a ressurreição é muito diferente do simbolismo do ciclo da colheita que constituiu o núcleo das antigas religiões de fertilidade. Sob um exame mais cuidadoso, os paralelos são pouco importantes.”

Ian Wilson, Jesus: The Evidence, p. 141.

“O paralelo com visões de Ísis e Asclépio [..] não é suficientemente próximo. Essas eram figuras míticas do passado distante. Nas aparições de Jesus, estamos falando de um homem que morrera somente alguns dias antes.”

James D. G. Dunn, The Evidence for Jesus, p. 71.

“Não há evidência alguma, que eu saiba, de as religiões misteriosas terem tido qualquer influência na Palestina nas primeiras décadas do século I. E a diferença entre as experiências mitológicas dessas figuras nebulosas e a crucificação ‘sob Pôncio Pilatos’ de alguém sobre quem as testemunhas oculares deram testemunho, tanto da morte quanto da ressurreição, é novamente óbvia.”

Norman Anderson, Christianity and World Religions, p. 53-54. 

“Tanto o ambiente geral dos evangelhos quanto os aspectos específicos das narrativas da ressurreição dão evidência esmagadora de que a igreja primitiva estava arraigada no judaísmo. Jesus, a igreja primitiva e seus escritos nasceram em solo judeu e a influência gentia foi mínima.” 

P. Moreland, Scaling the Secular City, p. 181.

“O fato de alguns autores modernos continuarem a sugerir que o evangelho se fundamenta em um mito é, na melhor das hipóteses, irresponsável, e na pior das hipóteses, deliberadamente fraudulento.”

Ed Komoszewski, M. James Sawyer, Daniel B. Wallace, Reinventing Jesus, p. 237. 

“Foi somente após o surgimento do cristianismo que as religiões misteriosas começaram a se parecer, de forma suspeita, com a fé cristã. Quando o cristianismo se tornou conhecido, muitos dos cultos de mistério adotaram conscientemente as ideias cristãs, no intuito de que suas divindades fossem consideradas compatíveis com Jesus.”

Ed Komoszewski, M. James Sawyer, Daniel B. Wallace, Reinventing Jesus, p. 234. 

“A artificialidade dos supostos paralelos é apenas uma indicação de que a mitologia pagã é o contexto interpretativo errado para entender a crença dos discípulos na ressurreição de Jesus.”

William Lane Craig,  Reasonable Faith, p. 391.

“Qual é, por exemplo, a prova de que Osíris nasceu em 25 de dezembro na presença de três pastores? Ou de que ele foi crucificado? E de que sua morte fez expiação pelos pecados? Ou de que ele retornou à vida na Terra sendo ressuscitado dos mortos? Na verdade, nenhuma fonte antiga diz nada disso sobre Osíris (ou sobre os outros deuses). [...] Não se trata de erudição histórica séria.”

Bart D. Ehrman, Did Jesus Exist?, p. 25.

 

“Os autores [que afirmam que Jesus é uma cópia de outros deuses] não fornecem qualquer evidência para suas afirmações com relação à mitologia padrão dos homens-deuses. Não citam nenhuma fonte do mundo antigo que possa ser verificada. O problema não reside no fato de que eles apresentaram uma interpretação alternativa das evidências disponíveis, mas sim no fato de que nem citaram as evidências disponíveis. E por uma boa razão. Essas evidências não existem.” Bart D. Ehrman, Did Jesus Exist?, p. 26.

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