No ano de 1878 descobriu-se na cidade de Nazaré, em Israel, uma placa de mármore branco, contendo um decreto do imperador romano Cláudio, o qual governou entre os anos 41 e 54 d.C. O “Decreto de Nazaré”, de 60 centímetros de altura por 37,5 centímetros de largura, está hoje guardado na Bibliothèque Nationale, em Paris. Em seu conteúdo, escrito originalmente em latim e traduzido para o grego, ele determinava:

“Ordem de César. Desejo que os sepulcros e túmulos permaneçam para sempre intocados por aqueles que os construíram para o culto de seus ancestrais, filhos, ou membros de sua casa. Se, porém, alguém acusar outrem de tê-los demolido, ou tiver de qualquer forma retirado o morto, ou mesmo transferido maliciosamente o corpo para outros lugares, a fim de insultá-los, ou tiver deslocado o selo de outras pedras, eu ordeno que seja instituído um inquérito contra tal indivíduo, tanto com respeito aos deuses como com respeito ao culto dos mortais. Pois será muito mais obrigatório honrar os que foram sepultados. Fica absolutamente proibido, para quem quer que seja, perturbá-los. Em caso de violação, desejo que o ofensor seja sentenciado à pena capital sob acusação de violação de sepultura.”

Os estudiosos colocam a data da composição do decreto entre os anos 44 e 50 d.C. Algumas questões surgiram. Primeiramente, por que o decreto foi encontrado no obscuro povoado de Nazaré? Em segundo lugar, porque uma pena tão severa (a morte) para um crime aparentemente insignificante como o roubo de corpos de sepulturas? O castigo parece desproporcional em comparação com outros da Antiguidade.

Lemos nos Evangelhos que Jesus de Nazaré havia sido entregue pelos judeus e crucificado como um subversivo pelos soldados romanos. Mas no terceiro dia, Jesus ressuscitou dentre os mortos. Como explicar para a população o fato de que agora o Seu túmulo se encontrava vazio? O sinédrio judaico precisou inventar uma justificativa:

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“Enquanto as mulheres estavam a caminho, alguns dos guardas dirigiram-se à cidade e contaram aos chefes dos sacerdotes tudo o que havia acontecido. Quando os chefes dos sacerdotes se reuniram com os líderes religiosos, elaboraram um plano. Deram aos soldados grande soma de dinheiro, dizendo-lhes: ‘Vocês devem declarar o seguinte: Os discípulos dele vieram durante a noite e furtaram o corpo, enquanto estávamos dormindo. Se isso chegar aos ouvidos do governador, nós lhe daremos explicações e livraremos vocês de qualquer problema’. Assim, os soldados receberam o dinheiro e fizeram como tinham sido instruídos. E esta versão se divulgou entre os judeus até o dia de hoje.

Mateus 28:11-15

Sabemos de Justino Mártir (em “Diálogo com Trifão”, 150-160 d.C.) e de “Toledoth Yeshu” (obra judaica do século V d.C.) que a explicação do roubo do corpo de Jesus foi usada pelos judeus por bastante tempo. Mas tal explicação é coerente? Primeiramente, como os guardas poderiam saber que foram os discípulos que roubaram o corpo, se eles supostamente estavam dormindo? Em segundo lugar, quase todos os apóstolos sofreram terríveis perseguições e martírio por causa de sua pregação acerca da ressurreição de Jesus, mas jamais negaram que realmente viram o Cristo vivo. Quem estaria disposto a suportar torturas e morte por algo que sabe ser uma fraude?

Cláudio deve ter ficado sabendo por meio de uma carta recebida do procurador da Judeia ou da Síria a respeito da pregação da ressurreição de Cristo, bem como da explicação judaica de que na verdade os discípulos haviam roubado o corpo de Jesus de Nazaré. Irritado, deve ter expedido o decreto com a ordem expressa de ser colocado na cidade de Nazaré. Temos assim boas razões para pensar que essa inscrição é o monumento mais antigo relacionado ao ponto central da fé cristã (1 Coríntios 15:3-7). Seria uma prova do efeito que a pregação da ressurreição exerceu sobre o governo romano. Além disso, se houvesse alguma prova de que os discípulos realmente roubaram o corpo de Jesus, por que providências não foram tomadas nesse crime que podia então levar à pena de morte?

REFERÊNCIAS

  1. Alan Millard, Descobertas dos Tempos Bíblicos: Tesouros arqueológicos irradiam luz sobre a Bíblia, Vida, 1999.
  2. Fabricio Luís Lovato,A Ressurreição de Jesus. In: Lucas: O Evangelho do Filho do Homem, Curitiba, Conferência Batista do Sétimo Dia Brasileira, 2018. p. 195-198.
  3. Josh McDowell e Bill Wilson, Ele Andou Entre Nós: Evidências do Jesus Histórico, Editora Candeia, 1995.
  4. Peter S. Williams, Digging for Evidence: Archaeology and the Historical Reliability of the New Testament, Christian Evidence Society, 2016.
Placa de mármore branco, contendo um decreto do imperador romano Cláudio, conhecido como Decreto de Nazaré
Fonte: Peter S. Williams, Digging for Evidence, 2016.

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