Antes de Sua morte, Jesus passou por seis julgamentos: três judaicos (perante o Sinédrio, Caifás e Anás) e três romanos (perante Pilatos, Herodes e Pilatos novamente). O Direito hebraico era regulado por diversas leis, tanto pelas que haviam sido entregues por Deus ao profeta Moisés no Antigo Testamento, quanto pelas que se desenvolveram naturalmente ao longo da sua história e tradição. Contudo, no julgamento de Cristo, diversos desses princípios legais foram quebrados.

1) O Sinédrio (corte judaica) não podia criar acusações, apenas investigar e julgar as que lhe eram trazidas (cf. Edersheim). Jesus foi preso e julgado através de uma conspiração do Sinédrio (Mateus 26:57-59).

2) Era vedada a realização de prisões à noite (Mishná, Sinédrio 4:1), porém Jesus foi preso à noite, pois os judeus portavam tochas e lanternas (João 18:3).

3) O Sinédrio não podia realizar julgamentos à noite (Mishná, Sinédrio 4:1) e nem antes do oferecimento do sacrifício matinal (9 horas da manhã). O julgamento de Jesus ocorreu durante toda a noite (Marcos 15:1)

4) Para um julgamento ter início, deveria haver pelo menos duas ou três testemunhas que estivessem de acordo com a acusação. O testemunho de uma única testemunha não poderia ser aceito como prova (Deuteronômio 19:15).

Não havia nenhuma acusação formal quando Cristo foi preso. Além disso, o Sinédrio só foi atrás de testemunhas depois da prisão de Jesus, e apesar de várias testemunhas terem se apresentado, seus depoimentos não eram coerentes entre si (Mateus 26:59 e Marcos 14:56-59).

5) Jesus recebeu uma bofetada (João 18:22) e diversos atos de violência (Lucas 22:63). Contudo, pela lei (Números 35:9-15), os acusados deveriam ser protegidos até que sua culpa estivesse comprovada.

6) Os julgamentos judaicos deveriam ser públicos (Deuteronômio 16:18 Rute 4:1; cf. Maimônides), mas o julgamento de Jesus ocorreu em secreto (Mateus 26:57).

7) O Sinédrio não podia realizar julgamentos na véspera do Sábado nem de qualquer uma das sete festividades religiosas judaicas (Levíticos 23; Mishná, Sinédrio 5:1). A ação contra Jesus foi realizada na véspera do Sábado, primeiro dia da Festa dos Pães Ázimos e véspera da Páscoa (João 19:31).

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8) Um julgamento que resultasse em absolvição do acusado podia terminar no mesmo dia; mas para a sentença de condenação, deveria se levar pelo menos o dia seguinte (Mishná, Sinédrio 4:1). A sentença condenatória de Jesus foi dada na mesma noite do julgamento.

9) A autocondenação de uma pessoa não era aceita como prova, a menos que fosse confirmada por duas testemunhas. Se alguém se afirmasse culpado diante de um tribunal, tal confissão não deveria ser usada contra ele (cf. Maimônides). A autodeclaração de Jesus ser o Messias foi usada contra ele, sem necessidade de provas adicionais (Marcos 14:61-64).

10) O sumo-sacerdote não podia rasgar as suas vestes (Levíticos 21:10), mas Caifás rasgou as suas vestes no julgamento de Jesus (Marcos 14:63).

11) Houve unanimidade entre o Sinédrio quanto à questão da condenação de Jesus (Marcos 14:64). Contudo, segundo a lei hebraica (Mishná, Sinédrio 17a), um veredito unânime era um veredito inválido. Deveria haver alguma voz favorável ao acusado. Fica claro que pelo menos dois membros do Sinédrio favoráveis a Jesus (Nicodemos e José de Arimateia) foram deixados de fora dos procedimentos do julgamento.

12) O Sinédrio não podia executar a pena de morte. A pena capital era uma prerrogativa exclusiva do Império Romano. Por isso, as autoridades judaicas acusaram Jesus de incitar o povo contra o Império e de autoproclamar-se rei no lugar de César (João 19:12), considerados crimes de alta traição ("Perduellio"). Crimes contra a ordem pública e a segurança do Estado estavam previstos na lei romana das Doze Tábuas. Contudo, as acusações eram falsas. Jesus afirmou o dever de se dar a César o que é de César, referindo-se à tributação dos impostos (Marcos 12:13-17), bem como afirmou perante Pilatos que Ele era de fato rei, mas o Seu reino não era desse mundo (João 18:36), sendo portanto falsa a acusação de crime lesa-majestade.

Todos os pontos acima demonstram em primeiro lugar que, em seu ódio a Cristo, os homens não temem quebrar suas regras e tradições mais arraigadas. E em segundo lugar, apontam a forma exata pela qual se cumpriu a profecia de Isaías, feita séculos antes:

Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem, quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido.

Isaías 53:7-8

A tudo isso Cristo submeteu-se voluntariamente por amor a você e a mim.

Ele morreu por todos para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas vivam para aquele que morreu e foi ressuscitado para a salvação deles.

2 Coríntios 5:15

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