Texto de Estudo

Então os homens de Israel tomaram da provisão deles e não pediram conselho ao SENHOR.   Josué 9:14

INTRODUÇÃO

Os oito primeiros capítulos do livro de Josué revelam o avanço israelita à conquista de Canaã. Claramente se observa que as nações que ali viviam estavam intimidadas pelo povo de Deus, que avançava sob o comando de Josué, realizando grandes conquistas. Afinal, haviam vencido as águas impetuosas do Jordão, desbaratado Jericó com seus muros imponentes e subjugado os corajosos habitantes de Ai. Parecia que nenhuma arma poderia prosperar contra Israel; nenhum inimigo seria capaz de se suster diante de sua força.

Mas surgiu um inimigo diferente diante dos hebreus; usando armas mais sofisticadas e perigosas, e o que seus compatriotas não puderam alcançar pela força, os gibeonitas tentaram pela astúcia. E funcionou! Josué e seus compatriotas foram enganados pela falsa aparência dos gibionitas.

J. R. Lima resumiu o que aconteceu nos relatos do capítulo nove:

 

Os homens vão nos surpreender sempre, às vezes pela grandeza de sua força, às vezes por sua fraqueza, ora por sua sagacidade, ora por sua ingenuidade. Ao ler sobre esse fato, fico me perguntando como foi possível um líder da envergadura de Josué precipitar-se tão ingenuamente em um acordo com os gibeonitas, incorrendo em três erros, no mínimo primários, para um grande líder.

 

Ao longo deste estudo, veremos os principais erros de Josué, os quais levaram à queda do povo de Israel. Veremos as consequências da aliança entre Israel e os gibeonitas. Por fim, analisaremos alguns aspectos da soberania divida.

 

A COALIZÃODOS REIS DE CANAÃ

As vitórias de Josué sobre os habitantes de Jericó e de Ai promoveram a formação de uma confederação entre heteus, amorreus, cananeus, ferezeus, heveus e jebuseus para lutar contra Israel. A união visava reunir um esforço vigoroso de forças para reprimir o progresso do exército vitorioso dos israelitas. A coalizão iniciou o ataque à cidade de Gibeão, quando o rei de Jerusalém ouviu que os gibeonitas tinham feito um pacto com Israel. Naquele local, aconteceu o primeiro confronto entre os cinco reis e Israel, conforme relatado em Josué 10:6-14.

 

Os gibeonitas

Esse povo era haveu e habitava Gibeom (Josué 9:7), cidade governada por um concílio de anciãos. (Josué 9:11) Alarmados com as notícias ouvidas acerca da destruição de Jericó e de Ai, os gibionitas desejaram estabelecer a paz com Israel. Pelos cálculos que fizeram, não tinham chance de subjugar os israelitas; sabiam que seriam mortos com filhos e mulheres, pois a ordem de Deus era clara: deveriam ser banidos da Terra Prometida. (Deuteronômio 7:1-6) Concluíram, então, que o único meio de se salvarem era forçar a nação eleita a fazer um pacto de não agressão a eles.

E recorreram ao artifício de serem embaixadores de uma terra longínqua. Os gibeonitas deram a impressão de que vinham de um local distante. As informações contidas nos versos um e dois mostram que se obrigavam a ocultar o fato de que viviam em Canaã. Se tal informação tivesse sido transmitida a Josué, não há dúvida de que o plano de um acordo de paz seria frustrado. Havia uma determinação, em Deuteronômio 20:10-15, que dava a Israel permissão para fazer alianças com povos de longe, diferentemente dos cananeus. Estes deveriam ser destruídos, pois não se permitia aliança com eles de nenhuma espécie. (Deuteronômio 7)

 

A TENTAÇÃO DOS ELOGIOS

Josué questionou a procedência daqueles “embaixadores”, que se apresentaram como servos de Israel. (Josué 9:8) Continuando a argumentação, os gibeonitas apelaram ao orgulho dos israelitas, apresentando como motivo de sua vinda os extraordinários feitos do Senhor, do que Israel “orgulhava-se”. Eles vinham na condição de embaixadores de um estado estrangeiro; considerando que isso agradaria aos príncipes de Israel e fariam com que se sentissem orgulhosos com a honra de serem cortejados por países distantes. Lemos que Ezequias mostrou-se lisonjeado por aqueles que vieram de um país distante. (Isaías 39:3) Eles não estavam acostumados a ser cortejados daquela forma.

Tudo parecia muito genuíno. Como poderiam Josué e seus companheiros pensar, de alguma maneira, que os gibeonitas pretendiam enganá-los? Eles foram convidados a examinar detidamente as provisões a fim de provarem que eram novos quando a jornada começara, mas a longa viagem havia desgastado. Em suma, fingiram ter passado pela fadiga de uma viagem muito longa e produziram uma demonstração ocular disso.

O fato é que os relatos contados pelos gibeonitas funcionou. E faltou a Josué a clarividência de Paulo para perceber que nem todos que falam bem de nós são dos nossos. (conf. Atos dos Apóstolos 16:17-18) Na verdade, não era devoção, admiração ou temor ao Senhor que motivavam os gibeonitas, mas medo de perder a vida.

 

A ALIANÇA É CONCRETIZADA.

O pacto foi realizado sem muita formalidade. O propósito do tratado era conservar a vida dos gibeonitas. Juraram, solenemente, pelo Deus de Israel, a paz. Esse acordo não foi celebrado apenas por Josué, mas pelos príncipes também, demonstrando que Israel inteiro estava representado.

Um aspecto importante no ardil do gibeonitas é terem ponderado que os israelitas eram um povo de justiça e lealdade, servidor de Deus justo. A estratégia era, portanto, envolver os hebreus no próprio conceito de justiça e lealdade que o povo de Deus possuía. Paralelamente, sabiam que, ao serem descobertos como povos que viviam em Canaã, os israelitas não poderiam invalidar o juramento. Assim foi, pois, descobrindo Josué que fora enganado, apesar da indignação de todos, nada pôde fazer contra os gibeonitas, pois os anciãos também haviam participado da aliança, havendo jurado em nome do Senhor.

As consequências dessa união foram danosas a Israel; mais tarde, os hebreussentiram-se na obrigação de defender, durante uma guerra, aqueles a quem receberam ordens divinas para destruir! (Josué 10:6-11) Por muitos anos depois, Israel ainda sofreria por sua decisão inconsequente, pois, em muitas ocasiões, os gibeonitas causaram grandes angústias aos filhos de Abraão, como observamos em Juízes 3:1-3 e em 2 Samuel 21:1 2. De acordo com (série cultura bíblica) “O engano de Israel no estabelecimento desse tratado relembra as advertências neotestamentárias contra fazer juramentos que podem colocar o cristão em situação de ter de fazer concessões(Mateus 5:33-37; Tiago 4:13-17)

 

Não consultaram o Senhor...

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A maior falha de Israel foi negligenciar o relacionamento com o Senhor dos Exércitos. O versículo 14 é taxativo: “Então, aqueles homens israelitas tomaram de sua provisão e não pediram conselho à boca do Senhor”. Josué e os anciãos não oraram; mostraram-se presunçosos e arrogantes, esquecidos de que as esplendorosas vitórias em Jericó e em Ai foram obras de Deus.

O problema da autossuficiência na vida do ser humano leva-o a tomar atitudes de desobediência aos ordenamentos divinos. Lloyd-Jones, ao explanar sobre o pecado original, afirmou que o cúmulo do pecado é a pessoa não sentir necessidade da graça de Deus. Não há maior erro que acreditar que somos independentes do Senhor.

Os seres humanos sempre acharam que são autossuficientes, que têm os poderes necessários e que só precisam pô-los em prática para criarem um mundo e uma vida perfeitos para si. Acreditam que são competentes para comandarem seus interesses da maneira certa e que não necessitam de ajuda, nem de assistência.

De acordo com Lloyd-Jones, essa faceta humana é uma das causas de não entendermos a doutrina da graça de Deus. Somos salvos unicamente pelo Criador; nós, como um mendigo espiritual, temos de aceitar que a salvação é uma dádiva divina. Assim, o autor afirmou:

 

O homem autônomo é o que se pensa do homem que todos os modos pode gerir todos os seus interesses e que não precisa de ajuda, nem de assistência de parte alguma, nem mesmo de Deus! O homem autônomo, o homem auto-suficiente, o homem auto-determinativo, o homem independente, o homem como deus, o homem como o senhor do universo, o homem no trono e sobre um pedestal!

 

Convivendo com o engano.

O salmista Davi disse, em um de seus salmos: “Livra-nos, Senhor, porque faltam os homens benignos; porque são poucos os fiéis entre os filhos dos homens. Cada um fala com falsidade ao seu próximo: falam com lábios lisonjeiros e coração dobrado”. (Salmos 12:1-2) A sensação de habitar no meio de enganadores é pior que ser enganado. O apóstolo Paulo, preocupado com o perigo do engano, afimou: “...em perigo dos da minha nação, em perigo dos gentios... em perigo entre os falsos irmãos”. (2 Coríntios 11:26)

Depois de haver feito um pacto com os gibeonitas, o povo de Israel foi forçado a conviver com esse grupo. O fermento já havia sido lançado no meio da massa. Paulo disse que “um pouco de fermento faz levedar toda a massa” (1 Coríntios 5:6), e isso Israel teve de carregar ao longo de muitos anos.

 

A FARSA FOI DESCOBERTA

Após três dias do encontro, a verdade foi descoberta. A língua mentirosa dura um momento. (Pv. 12:19) Ou os próprios observadores, ou algum destacamento que saía para se familiarizar com o país, ou talvez alguns desertores que vieram a eles da parte do inimigo, informaram a verdade nessa questão.

Apesar da descoberta, Josué não podia invalidar o acordo feito em nome do Senhor. Os israelitas tiveram de se submeter às restrições estabelecidas no pacto e não destruíram as cidades dos gibeonitas. Ocorreram muitas murmurações contra os príncipes, que fizeram bastante esforço para pacificar o povo. Os líderes decidiram poupar as vidas dos gibionitas, pois haviam jurado que os deixariam viver. Para Matthew Henry:

 

(...) nunca devemos ser intimidados, nem pela majestade, nem pela multidão para fazer uma coisa pecaminosa e ir contra nossa consciência. Embora eles tivessem sido atraídos para essa aliança por meio do engano, e tivessem um pretexto muito plausível para declará-la nula e inválida, eles permaneceram fiéis a ela.

 

Depois do erro cometido, a melhor atitude é reconhecê-lo, assumi-lo e procurar amenizar as consequências; foi o que fizeram Josué e os príncipes. Assim, pouparam os gibeonitas da morte, impondo a seguinte condição: seriam rachadores de lenha e tiradores de água para toda a congregação e para o altar do Senhor. E começaram a viver uma situação análoga à escravidão; de qualquer maneira, uma condição melhor que a morte. Diante de tal saída, a congregação descontente foi pacificada:

 

Os que estavam irados pelo fato de os gibeonitas estarem vivos puderam ficar contentes quando os viram condenados a fazer aquilo que, na opinião geral, era pior do que a morte, ou seja, a servidão perpétua. Os que estavam irados pelo fato de os gibeonitas não terem sido saqueados puderam ficar contentes quando o serviço à congregação mostrou ser mais proveitoso do que seus melhores efeitos poderiam ser; e, em resumo, os israelitas não se tornaram perdedores no que diz respeito à honra ou ao lucro pelo tratado de paz com os gibeonitas. Convença-os disso, e eles ficarão satisfeitos.

 

Para os gibeonitas, a dura servidão significou a fuga do extermínio. Conscientes da falta por mentirem e enganarem, e cientes também de quão próximos estavam da morte, reconheceram a bondade de Deus ao poupá-los e sugeriram outra proposta: deixar os israelitas fazeremo que lhes parecia bom e reto. Era melhor viver em servidão, especialmente uma servidão como aquela, do que não viver.

A história indica que Deus favoreceu os ajustes promovidos por Josué, e essa aliança foi honrada durante a existência de Israel. Quando Saul descumpriu-a (2 Samuel 21:1-2), o país sofreu, até que a restituição foi feita aos gibeonitas. Ao mesmo tempo, benefícios surgiram desse acordo: os gibeonitas forneceram suprimentos, uma base de operação realizada por pessoas que estavam sob fortes obrigações, dispostas e até mesmo ansiosas por executar suas tarefas, além de realizar vários trabalhos comuns. Aquela mão de obra rendeu a Josué vantagens materiais e bélicas em operações de ofensiva futuras. Além disso, o fato de trabalharem nessa condição talvez servisse como outro “monumento” para ajudar Israel a se lembrar do que Deus ordenou quanto ao relacionamento dos israelitas com o povo de Canaã. Deus fazia o melhor a partir de uma situação provocada por um erro humano. “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto.” (Romanos 8:28)

 

CONCLUSÃO

Ao longo do capítulo nove, o autor esclarece que Josué e os israelitas erraram por não consultarem o Senhor e colocaram, com essa atitude, a santidade de Israel em risco, pois passaria a compartilhar o território com um povo pagão. Sob outra perspectiva, devemos lembrar que “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim, renovam-se cada manhã”. (Lamentações 3:22-23, NVI)

O grande amor imutável de Deus em proteger Israel, e hoje aos que invocam o seu nome, é descrito com zelo, cuidado e proteção pelo profeta. As misericórdias divinas, que expressam bênção, revelam o sentimento de compaixão para com o povo, o que impede sua ira (julgamento) de agir imediatamente, propiciando um tempo para que todo o pecador se arrependa dos pecados e das maldades. E assim continua sendo até hoje.

 

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