Texto de Estudo

Mateus 25:29:

29 Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado.

 

INTRODUÇÃO

É difícil quem não gosta de histórias e ilustrações. Quando são bem contadas, é como se fôssemos transportados para dentro da narrativa. Existem muitas narrações transmitidas de pais para filhos, contadas na família por muitas gerações. Porém, que nada se compara às histórias registradas na Bíblia, em especial as parábolas de Jesus. Elas atravessam épocas e culturas, transformando a vida de muitas pessoas. Podemos imaginar quão maravilhados todos ficavam ao ouvir as ilustrações! Que privilégio sentar sobre um gramado, à beira da praia, ou na casa de alguém, e ouvir durante horas ensinamentos tão preciosos, vindos diretamente dos lábios do nosso Salvador! Não tivemos esse prazer, mas Deus, em sua infinita sabedoria, deixou-nos sua Palavra com belas passagens para que sejamos edificados, direcionados, exortados em todas as áreas de nossa vida. Com certeza, sentimos a sua doce presença quando estudamos sua Palavra. Ao meditarmos sobre a Parábola dos Talentos, sejamos desafiados, direcionados e edificados pela mesma, assim como foram os primeiros ouvintes desta.

 

A PARÁBOLA

Em primeiro lugar, é importante que se esclareça que a Parábola dos Talentos, de Mateus 25:14-30, embora tenha muitas semelhanças com “As  dez Minas”, de Lucas 19:11-27, não trata da mesma história. A primeira foi contada em Jerusalém, segundo os relatos de Mateus, enquanto que a outra foi narrada em Jericó. 

Em As Minas, cada um dos 10 servos deveria negociar com a mesma quantia, mas cada um recebeu recompensas diferentes. Em Os Talentos, os servos receberam quantias diferentes e a mesma recompensa. Percebe-se que esta ensina a fidelidade no uso dos diversos dons, à medida que Deus dá oportunidades de servir. Alguns possuem grandes habilidades, de modo que Deus lhes dá grandes oportunidades. 

Na história das minas, cada servo recebe o mesmo valor que, provavelmente, representa a mensagem do Evangelho. (1 Tessalonicenses 2:4;1 Timóteo 1:11; 6:20) Nossos dons e nossas habilidades são diferentes; nosso trabalho, porém, é o mesmo: compartilhar a Palavra de Deus, de modo que se multiplique e propague-se pelo mundo. (1 Tessalonicenses 1:8; 2 Tessalonicenses 3:1)  Dito isso, voltemos à parábola de estudo.

A Parábola dos Talentos fala de quatro personagens, de dinheiro, obediência e negligência. Mas qual será o verdadeiro foco da história? Jesus queria apenas nos ensinar sobre empreendedorismo? Sobre como administrar os bens que nos são confiados? Não; definitivamente não! Há uma mensagem muito mais importante e urgente nas entrelinhas. Destacaremos alguns pontos que definem por que Jesus contou a parábola.

Jesus inicia o discurso do capítulo 25 de Mateus dizendo: “ENTÃO, o reino dos céus será semelhante a”. Ele conta a parábola das Dez Virgens e, no versículo 13, faz uma advertência: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia, nem a hora em que o Filho do homem há de vir”. O contexto é escatológico; por isso, vigiar é a primeira ação exigida no capítulo. Lembramos que, na parábola das virgens, as noivas deveriam aguardar o noivo com as lamparinas devidamente acesas, com óleo suficiente para mantê-las assim pelo tempo necessário. Já na Parábola dos Talentos, o Mestre ensina o que devemos fazer com os dons e os talentos que o Senhor confiou a cada um de nós, enquanto aguardamos a sua volta.

 

O CONTEXTO E OS PERSONAGENS

 

Personagem um 

O homem da parábola era, com certeza, alguém muito rico. Quando lemos que ele confiou oito talentos aos servos, talvez não saibamos o quanto isso vale. Segundo fontes históricas, o valor diferia de um lugar para outro e de uma época a outra, e também dependia do metal usado (cobre, prata ou ouro). Em média, um trabalhador comum precisava de quase 20 anos para ganhar um talento . 

Além de rico, o senhor era também bastante inteligente, pois não confiou toda a riqueza a apenas uma pessoa. Caso tivesse feito isso, e alguma falhasse, ele estaria arruinado. Ademais, soube identificar a capacidade de cada servo, confiando valores diferentes a cada um. Eis um homem que dava oportunidade para que a capacidade de cada pessoa fosse desenvolvida e que confiava em seus administradores.

 

Personagem dois 

O homem, aos olhos de seu senhor, era um servo capaz, ao ponto de receber o maior valor. Ele demonstrou isso quando o senhor retornou e, no acerto de contas, alegremente lhe devolveu os cinco talentos que a ele foram confiados, acrescentando mais cinco que havia granjeado com trabalho e dedicação. A recompensa foi além de elogios; ele foi convidado a festejar com o senhor e a desfrutar do lucro obtido nos negócios.

 

Personagem três 

O servo que recebeu dois talentos empenhou-se para obter bons rendimentos com os valores recebidos; ele não ficou remoendo o porquê de o senhor ter dado cinco ao companheiro e apenas dois para ele. Antes, trabalhou diligentemente para mostrar que era digno de confiança e capaz de conseguir bons resultados, independentemente dos valores que lhe fossem confiados. E conseguiu! Quando seu senhor retornou, ele foi recompensado com elogios e festas, da mesma forma que o servo dos cinco talentos.

 

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Personagem quatro 

O trabalhador que recebeu um talento não agiu como seus companheiros e não se empenhou em multiplicar a renda. Mas quais foram os motivos para agir assim? Foi amor por seu senhor a fim de que algum ladrão não viesse e roubasse o que lhe pertencia? Porventura timidez, um sentimento de inferioridade, corroborado pela consideração de que lhe fora confiado menos que aos outros? A luz dos versículos 24-27, aprendemos que não foi nada disso. Tratou-se de uma injustificada suspeita, bem como indiferença. Ao dizer que o seu senhor era um homem duro, que colhe onde não plantou, o que o servo incompetente diz equivale ao seguinte: “Se, ao negociar com o talento que me confiaste, eu o tivesse perdido, tu de qualquer modo o terias exigido de mim. Esse é o tipo de homem que tu és. Portanto, tive medo. Esse medo realmente não é por culpa minha, mas tua. Tu o fizeste de tal modo que a única coisa que me restou foi cavar um buraco no chão e esconder o talento.”. 

E, assim, chamando a atenção do senhor para a bolsa do dinheiro, ele acrescentou: “Eis [aqui] te devolvo o que é teu”. Seria o mesmo que: “Não retive nada. Deveria ficar agradecido por eu mantê-lo intacto e devolver-te tudo o que é teu”. 

Naquele momento da história, ao invés de elogios e festa, o que tivemos foi a justa condenação. O senhor diz, no verso 28: “Tirai-lhe, pois, o talento e deem-no ao que tem os 10 talentos.”. A sociedade continuou com os outros dois servos, enquanto que o terceiro sabia que não era mais um dos sócios. Era visto como devedor que tinha de pagar juros sobre o dinheiro que tivera nas mãos. O senhor, então, voltando-se para o servo, procurou recuperar o que de direito lhe pertencia, isto é, os lucros esperados: “mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado”. (v.29) Assim, todas as propriedades do servo lhe foram tomadas. 

O servo era inútil para o seu senhor. Foi lançado fora, nas trevas, onde “ali haverá pranto e ranger de dentes”. (v. 30)   "As trevas", em Mateus 25:30 não se referem necessariamente ao inferno, mesmo que esse costume ser o caso nos evangelhos. (Mateus 8:12; 22:13) É arriscado desenvolver uma teologia com base em parábolas, pois o propósito delas é ilustrar verdades com mais clareza. O servo foi tratado com severidade pelo senhor, perdeu a oportunidade de servir e não recebeu recompensa alguma.  

 

APLICAÇÃO

Quando os discípulos ouviram esta parábola, podem ter pensado que se aplicava não a eles, mas aos contemporâneos. Aos judeus, tinha sido confiada a verdadeira Palavra de Deus. Eles podiam ver o paralelo entre o senhor e seus servos, associando Deus a Israel. Deus dera ao povo judeu a Palavra e esperava que ele tornasse sua revelação conhecida em todos os lugares. Os discípulos de Jesus talvez tenham visto os fariseus defensores da Lei; e os mestres da Lei, personificados no servo que enterrou o único talento que seu mestre havia lhe dado.

Aos líderes religiosos de Israel, tinha sido confiado um depósito sagrado; no entanto, muitos falharam, deixando de usá-lo de modo apropriado. Eles sentiam-se satisfeitos de poder devolvê-lo a Deus, dizendo “temos guardado a lei” e guardaram para si o depósito. Fazendo isso falharam, pois não o puseram para render.  

A Parábola dos Talentos foi, primeiramente, direcionada aos discípulos de Jesus, os únicos a quem o Evangelho das boas-novas havia sido confiado. A eles, fora dito que pregassem o arrependimento e o perdão, em nome de Cristo, a todas as nações, começando por Jerusalém. Mas sabemos que o ensinamento do texto não se limita aos discípulos; hoje, ela dialoga com todos os cristãos professos. É nosso dever pensar nos detalhes dessa narração e examinarmos nossas vidas para não incorrermos no erro do servo negligente.

Assim como o senhor da história, nosso Senhor Jesus partiu por um período de tempo dessa Terra, mas deixou seus bens confiados a nós para que usemos da melhor forma possível. Como na parábola, um dia, ele voltará, e compareceremos perante ele para o acerto de contas. O Senhor sabe o quanto de talento tem dado a cada um de nós; a questão é se nós temos usado os recursos recebidos de modo a trazer lucro para nosso Senhor, ou se estamos como o homem que enterrou o talento que lhe fora confiado...

É importante refletirmos sobre os talentos. Na história de hoje, eles representam o dinheiro. Talvez Deus nos dê posses, bens, fazendo-nos prósperos. Mas como temos usado esses recursos? Empregamos como se fosse nosso, sem nos importarmos com o menos favorecido? Temos sido generosos nas ofertas missionárias e nos dízimos? Lembremos: “...riquezas e glória vêm de diante de ti, e tu dominas sobre tudo, e na tua mão há força e poder; e na tua mão está o engrandecer e o dar força a tudo”. (1 Crônicas 29:12)

Se o Senhor confiou-nos riquezas, é porque acredita que somos capazes de administrá-las, sem perder de vista que tudo é dele. Um dia, deveremos prestar contas. Talvez o talento que Deus tenha nos conferido não seja riquezas. Somos dotados de uma capacidade de pregar a palavra, cantar, tocar, aconselhar, organizar, recepcionar, hospedar, ensinar, evangelizar, orar, ou tantos outros dons importantíssimos para o crescimento do Reino de Deus. Devemos usar esses dons da melhor maneira possível, seguindo a orientação de Paulo: “Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino. Ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria”. (Romanos 12:7-8)

Muitas pessoas não valorizam o seu dom e acabam enterrando o talento que lhe foi confiado, assim como o servo da parábola. Alguns de nós gostaríamos de ter algum talento que outros possuem, porque talvez achemos que o do outro seja mais importante que o nosso. Todavia, perante Deus e para a Igreja, todos os dons são importantes e necessários. Deus conhece a capacidade de cada um, e ninguém, dentro do Reino, fica sem pelo menos “um” talento para ser empregado no trabalho cristão. É um erro achar que alguém que tem mais de um dom terá um galardão maior. A Palavra diz: “E a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou muito mais se lhe pedirá”. (Lucas 12:48) A única coisa que será maior para quem muito for dado é a cobrança, pois a recompensa será igual para o que tem um e para aquele que tem mais de um talento.

Há uma ilustração interessante para o momento. A história diz que um pastor sempre olhava uma senhora sentada no último banco da igreja; ele sentia-se incomodado, pois nunca vinha às atividades evangelísticas que ele organizava. E nunca a vira ministrar um curso bíblico, tocar ou cantar um hino, tampouco dirigir um culto. Então, de vez em quando, o pastor pregava, direcionando a mensagem à pobre senhora. Sua mensagem dizia que não adiantava estar na igreja e não fazer nada. E assim foi, até que aquela senhora morreu. Tempos depois, o pastor também morreu e tamanha foi a surpresa que ele teve ao chegar ao céu! Encontrou a senhora por lá. Inconformado, foi questionar a Deus sobre estar ali, se havia tido uma vida tão infrutífera. O Senhor respondeu: “Essa mulher que você achava infrutífera não deixou de orar por você e por seus ministérios, nem um dia sequer. Foi a oração dela que o livrou de tantos laços e fez seu ministério próspero.”.

Por isso, subjugar o nosso irmão que não tem o dom que possuímos, achando que nossa ação é mais importante, está errado. Muitas pessoas são tão impactadas por uma boa recepção na igreja quanto por uma boa mensagem por parte do pastor. Deus nos dá tarefas e oportunidades de acordo com nossas capacidades. Recebemos as incumbências ministeriais de acordo com as capacidades e os dons cedidos por Deus. É nosso privilégio servir ao Senhor e multiplicar os talentos.

Imagine o quanto o Reino pode ser expandido se quem enterrara seus talentos desenterrarem-nos e começarem a trabalhar com dedicação a fim de multiplicar! 

Tudo o que temos, sejam oportunidades, seja a capacidade para usá-las com proveito, pertencem a Deus. Nós somos os depositários. Deus é o dono. O que temos continua sendo “propriedade dele”. Somos administradores. O Senhor concede oportunidades de serviço em concordância com a capacidade de fazer uso delas. Consequentemente, visto nem todos terem a mesma capacidade, nem todos têm as mesmas, ou igual número de oportunidades. No Dia do Juízo, não importará o número de chances; a questão será apenas esta: Temos sido fiéis no uso delas?  

 

CONCLUSÃO

A essência da parábola, pois, é esta: cada um deve ser fiel no uso das oportunidades de serviço que o Senhor lhe deu. Tais oportunidades, concedidas a cada um segundo sua capacidade (dadas por Deus), por gratidão a Deus, deveriam ser aperfeiçoadas de tal forma que a glória do Deus Triúno seja promovida, seu Reino estenda-se, e seus “pequeninos” sejam beneficiados.

Devemos sempre lembrar que a negligência é castigada; e a diligência, recompensada.

 

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