Texto de Estudo

 Lucas 10:36-37

 

INTRODUÇÃO

Você tem medo de manchar sua reputação? Em outras palavras, receia o que as pessoas pensam a seu respeito caso faça algo considerado errado? Jesus entendeu muito esse sentimento. Em suas palavras, ele afirmou que fora acusado de ser beberrão, comilão, amigo de publicanos e pecadores. (Lucas 7:34)

De acordo com a opinião pública dos religiosos, Jesus tinha uma reputação péssima. Mas o Mestre rendeu-se às críticas? Não. Foi justamente por estabelecer uma amizade, uma proximidade com os pecadores, que ele conseguiu conquistá-los. E de fato amou e importou-se com aquelas pessoas!

Cada sociedade tem sua cota de ‘samaritanos’. Você tomaria a mesma iniciativa, em prol de uma alma? De maneira geral e superficial, diríamos que sim. Mas a realidade, em boa parte das vezes, é bem diferente. 

O texto de hoje vem nos desafiar a amar os outros e a sentir compaixão pelos que julgamos não serem dignos de compaixão e amor. Muito mais do que saber se você e eu estamos próximos de Deus, Jesus deseja saber o quanto estamos próximos dos perdidos. 

 

O CONTEXTO ANTES DA PARÁBOLA

Nosso texto começa com a nota levantada pelo evangelista Lucas, na qual apontou a verdadeira intenção da pergunta feita pelo intérprete da Lei (ou doutor da Lei). Interessantemente, certo jovem rico fez a mesma pergunta (Lucas 18:18-23; Mateus 19:16-22;  Marcos 10:17-22). Isso revela o quanto o assunto sobre a vida eterna era importante à comunidade judaica. 

Se era tão comum, então por que discutir? A matéria ganhou relevância nos diálogos de Jesus com alguns estudiosos da Tora. Quem se posicionava diante da Lei como justo estava acostumado a manter o foco numa lista de procedimentos legais que, em si mesma, não lhe poderia conceder tamanha recompensa. Uma melhor compreensão desta parábola depende do entendimento do contexto. Vejamos melhor:

 

a) Jesus é posto à prova. O teste a que Jesus foi sujeito, a saber dele, como rabino, qual sua relação de atos que poderiam lhe fazer uma pessoa justa a ponto de entrar na vida eterna. Os intérpretes da Lei não somente eram habilidosos quanto à Lei escrita, mas também quanto à oral. Como a tradição oral foi ganhando amplitude ao longo do tempo, comentários e mais comentários instigavam as mais variadas discussões sobre diversos assuntos da vida e da fé judaica. O intérprete da Lei de nossa passagem bíblica queria saber para onde a sabedoria rabínica de Jesus apontaria. Iremos descobrir, ao longo deste estudo, que muito mais do que fazer um teste, o doutor da Lei queria se justificar. 

b) Jesus põe o mestre da Lei à prova. Periciosamente, em vez de uma resposta, Jesus fez uma pergunta ao intérprete da Lei. E esta desencadeou uma gradação fantástica de pensamento. Jesus estava interessado em ouvir a opinião do indagador. Assim, as interpretações dadas por ambos poderiam ser equiparadas ou contrastadas. Era assim que se davam os debates sobre a Lei (ou leis). 

“Mestre, que farei para herdar a vida eterna?”. Eis a questão levantada.  Sabedor das opiniões de outros rabinos de projeção, o intérprete queria saber a posição de Jesus. Mas o que o teria motivado a fazer o teste? Possivelmente, os relatos sobre as atitudes e as falas de Jesus que, por sinal, devem ter deixado o experiente intérprete com uma interrogação! ‘Afinal de contas, a vida eterna está ou não disponível com a guarda da Lei?’, deve ter se questionado o inquiridor. 

Invertidos os papéis, o indagador passou a indagado. Jesus perguntou: “Que está escrito na Lei? Como interpretas?”. E, em sua resposta, ele afirmou: “Amarás o senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e amarás o teu próximo como a ti mesmo” (v.27). A reposta não foi estranha. Encontramo-la na boca de Jesus, em Mateus 22:37-40. Mas isso não quer dizer que o intérprete da Lei simplesmente repetiu as palavras de Jesus. Como era um estudioso, ele conhecia os textos de Levíticos 19:18 e de Deuteronômio 6:5. Ao que parece, a combinação desses dois mandamentos, da forma como foram citados, tanto por Jesus como pelo intérprete, era comum. Ou seja, os rabinos da época de Jesus conheciam muito bem a combinação de mandamentos, resumindo perfeitamente nosso dever para com Deus e para com o próximo . Por isso, Jesus endossou e aprovou a resposta dada pelo doutor da Lei. 

E acrescentou: “Faze isto e viverás” (v.28). Perceba como o Mestre usou, propositadamente, o vocabulário do intérprete da Lei. Dê atenção à relação dos verbos “fazer  viver”. Pois o sábio doutor tinha relacionado “fazer herdar”. Digamos que Jesus dava “a linha” para o doutor ir mais longe, pois sabia que aquele homem interrogava-o, não por ignorância, mas por querer se justificar diante das obras da Lei (v.29). 

Jesus concordou que o resumo de tudo era AME. Fazendo isso, viverás. Mas o diálogo não parou. O doutor da Lei elevou o nível dou teste; não se tratava mais do que se tinha a fazer, mas quem deveria ser o objeto do amor resumido nos dois principais mandamentos. Os detalhes dessa reposta serão a matéria do próximo tópico.

 

A PARÁBOLA

A parábola foi contada por causa das limitações impostas pelo próprio intérprete da Lei. Isto é, ao responder a pergunta ‘Quem é meu próximo?’, ele sabia muito bem de quem se falava. O judeu tinha sua lista de próximos. Kistemaker assim explicou: 

 

O judeu vivia num círculo: o centro era ele mesmo, cercado por seus parentes mais próximos, então pelos outros parentes e, finalmente, pelo círculo daqueles que proclamavam descendência judaica e que se tinham convertido ao judaísmo. A palavra próximo tinha um sentido de reciprocidade: ele é meu irmão, e eu sou irmão dele. Assim se fecha o círculo de egocentrismo e etnocentrismo. Suas linhas tinham sido cuidadosamente traçadas a fim de assegurar o bem-estar dos que estavam dentro e negar ajuda aos que estavam fora. 

 

O texto de Levítico 19:18 parecia apontar para um círculo étnico, pois diz “os filhos do teu povo”. Percebamos, mais uma vez, que a pergunta do doutor da Lei não foi feita por ignorância; mas, sim, por querer saber a opinião de Jesus sobre o assunto, achando alguma falta. Queria saber se ele destoaria do consenso rabínico dominante. O estudioso procurou se justificar; muito similarmente ao jovem rico, desejava uma lista. (Mateus 19:18) O jovem queria uma lista dos mandamentos; e o doutor da Lei, uma relação de “quem é meu próximo”. Contudo, em vez de lhe dar uma lista, Jesus apresentou uma das mais elaboradas parábolas de toda a Bíblia. Vejamo-la em detalhes:

 

a) De Jerusalém a Jericó: assalto e espancamento. A parábola do Bom Samaritano contém uma estrutura literária e um peso cultural fantástico. Revela a mente afiada e a sabedoria perspicaz de Jesus. A abordagem pode ocorrer de várias formas, devido à riqueza de elementos e de personagens. E, para fins didáticos, detalharemos em três grandes cenas, demarcadas pelo trajeto e pelas ações tomadas pelas personagens. 

Em nossa primeira cena, o ponto alto da narrativa é o assalto, seguido de espancamento. Apesar de a identidade ‘étnico-cultural’ das personagens ser altamente relevante, Jesus não revelou a identidade do homem assaltado e surrado. Bailey afirmou que, uma vez que os ouvintes presentes eram judeus, presumivelmente, esses o identificaram como um judeu . Os salteadores também não são identificados. Mas isso é o que menos importa. 

A questão mais importante é o estado em que aquele homem ficou. Há uma gradação na sequencia de ações dos salteadores. Eles laçaram mão; quer dizer, caíram sobre ele. Possivelmente, houve uma resistência por parte do assaltado. Porém, por estar sozinho contra um grupo de ladrões, acabou sucumbindo ao ataque físico. Tão forte fora o ataque que quase morreu.

Precisamos perceber que cada detalhe não pode ser visto de forma superficial. O fato de o homem ter ficado ‘semimorto’, ou ‘quase morto’, é determinante para as próximas cenas. Sem dinheiro, sem roupas e quase morto; eis o quadro. 

O estudioso Kenneth Bailey trouxe um bom pano de fundo sobre o alto índice de periculosidade da estrada (cerca de 25 quilômetros entre Jerusalém e Jericó), na qual o homem fora assaltado e espancado.  Isso serviu para mostrar que a parábola contada por Jesus não era fruto de uma invenção infundada. Ele arquitetou sua história de tal forma que os ouvintes, principalmente o doutor da Lei, não contestariam a razoabilidade.  

 

b) De Jerusalém a Jericó: afastamento. Nas próximas cenas, notamos um padrão. Os indivíduos passaram, olharam e seguiram. O sacerdote e o levita agiram de forma semelhante. Somente o samaritano quebrou o padrão. Mas antes de chegar a ele, é necessário nos determos aos indivíduos que o precederam.

Diferentemente do que fizera na primeira cena, Jesus identificou o primeiro viandante pós-incidente trágico, acontecido na estrada. Talvez não fosse de se espantar o trânsito uma vez que Jericó funcionava como uma espécie de cidade dormitório para os sacerdotes.  Fato é que desceu de lá um sacerdote que viu o homem caído e passou a largo. ‘E o que mais você esperava que ele fizesse?’, poderia ter raciocinado o doutor da Lei. 

O sacerdote exercia uma função muito importante no templo. As regras de pureza e a natureza de sua função davam-lhe o aval para passar distante (Levíticos 21). Como o homem estava semimorto, na avaliação do sacerdote poderia parecer mais morto do que vivo, nada poderia ser feito. Não foi falta de misericórdia; e, sim, obediência à Lei. Sem sombra de dúvida, para uma mente tão perspicaz e minuciosa como a do intérprete, a atitude do religioso foi louvável. Vale lembrar que não era apenas a Lei escrita que regia a atitude dos sacerdotes; havia uma densa tradição oral que demarcava cada atitude da vida e da fé de um pároco. 

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Mas a Lei dava também margem para acudir alguém, desde que fosse seu próximo. (Cf. Levíticos 21) Inclusive, isso foi citado anteriormente; os judeus tinham uma lista de pessoas consideradas seus “próximos”. Todavia, como aquele sacerdote poderia identificar o homem como um de seus próximos se o mesmo estava inanimado? Não seria sequer capaz de dizer quem era! 

Outro detalhe que poderia ter dado uma pista ao sacerdote eram as vestimentas. Contudo, os assaltantes haviam levado as roupas! Se o homem semimorto fosse um samaritano, facilmente identificável pelas roupas, o religioso o teria deixado ali mesmo. Em suma, como bem colocou Bailey: “O sacerdote era vítima de um sistema ético/teológico que era um livro de regras. A vida para ele era um sistema codificado de ‘faça’ e ‘não faça’ “.   

Havia um custo para o sacerdote e sua família caso ele tocasse em algo considerado imundo ou impuro. Se ficasse sem oficiar, não poderia receber sustento para a família. Além disso, ainda existia o custo da vergonha de ter de passar pelo ritual de purificação, um rito de exposição. 

Na cena seguinte, Jesus disse que um levita descia pela mesma estrada que o sacerdote. Isso pode ser um indício de que ambos encerraram seus turnos no templo e estavam voltando para casa. Um levita também exercia funções no templo, mas não as mesmas que os sacerdotes. Digamos que estavam em um patamar a baixo. Em 1Crônicas 6, vemos que uma de suas funções era dirigir os cânticos. Na época do Tabernáculo móvel, quando o povo peregrinava pelo deserto, tinham a responsabilidade de desmontar e montar o Tabernáculo, além de manusear os utensílios sagrados (Números 3:8). 

Na parábola, a ação do levita foi a mesma do sacerdote. Ele viu o homem no chão, mas também não quis ajudar. As razões, possivelmente, foram iguais. Sua função no templo e as demais regras fizeram-nos seguir caminho. 

 

c) De Jerusalém a Jericó: aproximação e cuidado. O próximo personagem da parábola é o protagonista. Suas ações foram completamente diferentes dos antecessores. O fato de Jesus colocar um samaritano como o herói da história não visava salvar os samaritanos. O ódio era recíproco.  É bem possível até que, se Jesus estivesse contando a parábola a uma audiência de samaritanos, tivesse colocado um ‘bom judeu’ como herói, ou exemplo a ser seguido. O objetivo de Jesus não era desculpar uma raça e culpar outra. O ser humano está em condição decaída; não importa a raça da qual faça parte. Em seus discursos, Jesus gostava de usar personagens, lugares ou situações inesperadas para causar impacto em sua audiência. 

Apesar da rixa entre as raças, os samaritanos também seguiam a Torá , os primeiros cinco livros da Bíblia. Logo, guardavam regras de pureza. Todavia, sua ação foi surpreendente. Jesus acrescentou detalhes notáveis de seus atos. Percebamos a progressão das ações do samaritano: aproximou-se, tratou das feridas, colocou óleo e vinho,  colocou o ferido sobre seu animal para levá-lo para um lugar seguro. Todas essas ações podem ser resumidas numa única palavra – compaixão (ou misericórdia; v.33 e 37). Não há sombra de dúvida de que, na opinião dos fariseus e dos escribas que não gostavam de Jesus, a história seria o testemunho claro de que o Mestre era um transgressor da Lei. Quer dizer, sua forma de interpretá-la estava aquém do padrão de Moisés. Não demoraria muito para a indignação dos opositores de Jesus aumentar vulcanicamente! De verdade, o fato é que Jesus, como o Filho enviado por Deus, conseguia atingir o verdadeiro espírito da Lei! Ele não desobedecia; e, sim, cumpria o justo. 

Veja como começou a história... Um homem fazia seu trajeto tranquilamente. De repente, foi assaltado e surrado. Sua vida estava em perigo, sendo ele quase morto. Talvez fosse uma questão de tempo que viesse a óbito. Mas eis que, na outra ponta da parábola, todas as adversidades foram revertidas. Da pessoa de quem menos se esperava, veio uma ajuda salvadora! O samaritano prestou o socorro que o sacerdote e o levita eximiram-se. E restabeleceu a condição vital àquele que os salteadores haviam atacado. A atitude do samaritano desfez a ação violenta dos bandidos e a ação recalcitrante  dos religiosos. O ato de colocar o homem no lombo de seu animal também revelou o tamanho de sua compaixão. 

Bailey afirmou que um trajeto como esse, dificilmente, o sacerdote tinha feito a pé. Sua condição dava-lhe o privilégio de possuir animal para locomoção . E, subtendendo que um “reles” samaritano possuía um animal, o que dizer de um sacerdote?! Especulações à parte, o fato é que o cuidado abundante foi dado em dois momentos: na estrada e na hospedaria. 

Quando pensamos que o samaritano já havia feito o suficiente, Jesus acrescentou que ele ficou na hospedaria com o ferido. (v.35) Afinal, somente no dia seguinte, o samaritano partiu. E, antes, disse: “Cuida deste homem e, se alguma coisa gastares a mais, eu to indenizarei quando voltar”. (v.35) E seguiu sua viagem. Não sabemos quanto tempo passou entre sua partida e seu retorno pela mesma estrada. Ele disse que voltaria e pagaria os adicionais da hospedagem. 

Esta parábola é tão rica e contagiante que não cometeríamos um pecado se usássemos nossa imaginação para ir além do ponto final da história. Imagine você quando o homem acordou e percebeu-se numa hospedaria...

 

- Como vim parar aqui? O que aconteceu? Que ferimentos são esses? Ah, lembrei. Eu estava indo para casa, e uns bandidos me... Ei. Espera aí! Meu dinheiro, minhas roupas... Como vou fazer para sair daqui? Se estou hospedado, como pagarei a conta?!

- Não se preocupe! - diria o dono da hospedaria - Um bom homem me contou sobre você. Cuidou de você e trouxe-o para cá. E, acredite se quiser, pagou sua hospedagem e disse que, se precisasse de mais alguma coisa, ele pagaria na volta.

- Pagaria na volta? – iria balbuciar o homem, ainda sem acreditar - E ele disse 

seu nome? – indagaria o abismado hóspede.

- Não. Só sei que era um samaritano.

- Um samaritano?! - mais abismado ainda ficaria o ex-semimorto – Mas, sendo 

ele um samaritano, como cuidou assim de mim, um judeu?!

- Impressionante, não é? Costumo chamar isso de compaixão, ou ato de 

misericórdia se preferir. 

 

Deixando a imaginação de lado, chegamos à parte final da conversa de Jesus com o doutor da Lei. Depois de ter feito uma verdadeira reconstituição mental, ocasionada por essa história, o quieto doutor foi interrogado: “Qual destes três te parece ter sido o próximo do homem que caiu nas mãos dos salteadores?”. (v.36) Respondeu ele a Jesus: “O que usou de misericórdia para com ele”. (v.37) Acrescentou Jesus: “Vai e procede tu de igual forma”. (v.37)

Será que o doutor ainda se via como justo? Os requisitos da Lei que pensava cumprir eram limitados em comparação ao que Jesus pediu. Esse é o problema de ser um minucioso cumpridor de regras. Ontem e hoje, o convite de Jesus é para que rompamos os limites. 

O intérprete teve a chance de entender que quem espera receber a vida eterna pelo cumprimente rigoroso e criterioso da Lei jamais a alcançará. Ele pensava que, com sua lista de “próximos”, estava seguro. Jesus deu-lhe um novo significado acerca de “quem é o próximo”. Se ele quisesse viver pela Lei, teria de acrescentar um novo elemento. 

A interpretação de Jesus sobre o amor a Deus e ao próximo não invalidou o que a Lei dizia, antes a confirmou e mostrou como era desafiadora em exemplos vivos. O meu próximo é todo aquele está em necessidade! Até mesmo um inimigo, um impuro, um pecador! 

A nova pergunta inquietante que poderia surgir na mente do doutor era: “De quem eu devo me tornar próximo?”.  Como rabino, Jesus ultrapassou a compreensão dos rabinos de maior peso e respeito da comunidade judaica de seu tempo. Não é à toa que as pessoas maravilhavam-se diante de suas exposições e davam glórias a Deus. 

 

CONCLUSÃO

Muitos leitores da Bíblia, e até mesmo cristãos confessos, sentem muito desconforto com o fato de Deus afirmar que castiga os desobedientes e que, um dia, derramará sua ira e indignação, num futuro juízo universal. Isso escandaliza a muitos! 

Por outro lado, afirmo que a graça e a misericórdia divina também escandalizam! Quando paramos para pensar sobre o ministério terreno de Jesus, não há como não associar sua conduta à do samaritano. Jesus veio e encontrou-nos em um estado deplorável (ainda que não estivéssemos conscientes disso); ele sarou nossas feridas, pagou a conta e comprometeu-se em voltar. É claro que o relacionamento com Deus está vinculado a algumas condições, senão todo o mundo poderia fazer o que quisesse e, ainda assim, dizer que anda com Deus. 

Mas, quando a Bíblia apresenta retratos de um deus que se revela em atos de amor, sem condição prévia para que se ame, aponta para a inaugurabilidade do amor divino. Ele dirigiu-se primeiramente a nós; e, não, nós a Ele. O amor que inaugura nossa relação com ele deve ser incondicional. Senão, nunca entraríamos numa relação com Jesus. 

E quanto aos pecados que cometemos? Ficam impunes? Não. Tudo tem de ir para algum lugar. E, nesse caso, os pecados foram colocados sobre Jesus. Ele pagou o preço dos nossos pecados, porque muito nos amou. 

Se, nesta parábola, um homem que descia de Jerusalém ficou ferido; em Isaías 53, Jesus é quem fica tomado de feridas, que lhe fizemos por causa de nossos pecados! Uma vez que tenhamos entregado nossa vida ao misericordioso Filho de Deus, devemos corresponder ao seu amor. Nesse caso, precisamos de condições de respeito, cuidado e de sacrifícios pessoais para selarmos o compromisso, dia após dia. Antes de pensar no motivo, devemos amar o ‘outro’, mesmo o não amável. Pensemos por que Deus nos ama!

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