Texto de Estudo

Efésios 4:17:

17 E digo isto, e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade da sua mente.

 

INTRODUÇÃO

O verbo “andar” figura com destaque nos capítulos 4 a 6, nos quais Paulo dá orientações práticas aos leitores acerca da vida cristã. Note o uso em 4:1,17; 5:2,8,15. Em 4:1, o apóstolo exorta os cristãos a andarem dignamente de acordo com o chamado que receberam. Com 4:17, ele apresenta outro aspecto do andar cristão. Expresso em termos negativos, a determinação é para que eles não andem mais como andam também os outros gentios. Sob todos os aspectos, eles têm de abandonar o estilo de vida gentio e se entregar ao estilo de vida cristão. 

Os cristãos com quem Paulo está se correspondendo “vinham respirando desde a infância o ar poluído da forma mais corrupta de paganismo; e ainda estavam respirando”.  É imperativo que, pelo poder de Cristo, eles fujam dessa influência permanente. Ao procurar instigar uma conscientização relativa a este assunto, Paulo descreve a velha vida sem Cristo e a nova vida com ele (4.17-24). Em seguida, oferece diretivas específicas concernentes à nova vida (4.25-32). Em 4.17-24, o apóstolo não só explora mais a fundo o tema já apresentado em 2.1-10, mas aplica-o diretamente aos seus leitores gentios. Na seção anterior, ele se incluiu na descrição, mas nesta passagem ele fala de modo intencional e constante sobre a situação e experiência específicas em que se eles encontram.

 

A VIDA SEM CRISTO 

A conjunção e (17) está retomando o pensamento iniciado nos versículos 1 a 3. A longa explicação da unidade que o apóstolo expôs nos versículos 4 a 16 constitui uma divagação da exortação que fez nos primeiros três versículos. A expressão digo isto e testifico é paralela ã palavra “rogo-vos” no versículo 1. Os verbos gregos lego e martyromai estão corretamente traduzidos (testifico e digo), mas o significado verdadeiro não é transmitido em nosso idioma. Foi a forte convicção pessoal e solene de Paulo que desencadeou seu apelo. Esta tradução é próxima do sentido que Paulo diz: “Assim, eu vou afirmo, e no Senhor insisto” (cf. NTLH, NVI). No Senhor é interpretado de diversas maneiras: “pelo Senhor” (BV), ou “na autoridade do Senhor”, dando o sentido de “em comunhão com o Senhor”. Pelo visto, o escritor quer transmitir a ideia de que ele está se identificando com o Salvador, e que sua exortação é precisamente o que Cristo daria. A determinação é exarada na forma negativa: Não andeis mais como andam também os outros gentios. Conduzam-se de tal modo a mostrar a verdadeira diferença que existe entre vocês e os gentios incrédulos! O apóstolo se enfronha numa descrição concisa do estilo de vida gentio, a vida separada de Cristo, senão vejamos:

1. “Na Vaidade do seu Sentido” (v.17) Sentido (nous), no pensamento hebraico, é mais que a faculdade cognitiva; inclui também o entendimento, a consciência e os sentimentos. Assim, sentido refere-se a todos os aspectos do ser humano, que o capacitam a reconhecer valores morais e verdade espiritual (cf. Romanos 1:28; 7.23; 1 Timóteo 6:5). Vaidade (mataiotes) traz o significado de “falta de sentido”, “inutilidade” ou “vacuidade”. No contexto, a palavra conota “futilidade”, ilusão e degradação moral absoluta. Sem a iluminação do Espírito de Deus, o caminho do homem só leva ao que frustra, porque em essência ele “acaba se entregando a coisas destituídas de valor ou realidade”.  A experiência pessoal e a história da humanidade confirmam esta avaliação da vida do homem sem o Salvador.

2. “Entenebrecidos no Entendimento” (v. 18a) Com esta frase, Paulo explica o que acarreta a “vaidade” do versículo 17. Em primeiro lugar, inclui o escurecimento do entendimento (dianoia). Esta é “a escuridão interior causada pela incredulidade”, que deve ser contrastada com a iluminação interior pela qual Paulo ora em 1:18: “Oro [...] para que sejam iluminados os olhos do vosso entendimento”. Falando dos gentios em Romanos 1:21 Paulo afirma que “o seu coração insensato se obscureceu”. Os gentios pensam que eles são iluminados porque rejeitam a Bíblia e o conhecimento de Deus e creem na última filosofia, quando, na realidade, eles estão em trevas. O apóstolo Paulo diz: “Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos” (Romanos 1:22). Mas eles pensam que são sábios. Satanás cegou a mente deles (2 Coríntios 4:3-6). 

3. “Separados da Vida de Deus” (v.18b) Martin vê nesta frase uma referência à queda do homem. O estado atual do homem é “resultado, não só de separar-se de Deus, mas de alienar-se ativamente”.   A vida sem Deus representa uma “divergência [infinitamente trágica] da verdadeira natureza do homem”. Alienar-se de Deus significa morte espiritual, porque Deus é a única fonte de vida para o gênero humano.  A resposta cristã para esta condição é “reconciliação com Deus” (2 Coríntios 5:17-21; Colossenses 1:20-21). João apoia Paulo com esta declaração: “Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1 João 5:12). O estado de morte e futilidade, no qual os gentios se acham, não é acidental, mas é resultado de ignorância e dureza de coração. Ignorância (agnoia), às vezes, significa ignorância perdoável, aquilo causado por circunstâncias além do controle (Atos dos Apóstolos 17:30). A ignorância culpável é expressa pelo termo grego agnosia, como em 1 Pedro 2:15. Mas aqui, agnoia toma esta conotação. Não é intenção de Paulo sugerir que a condição espiritual gentia não acarreta culpa. A frase seguinte, corretamente traduzida por dureza ou calosidade do seu coração, indica “a rigidez deliberada da vontade contra todo impulso até que os homens deixam de ter sentimento”. 7 A palavra grega que Paulo usa ara dureza é porosis. Póros era uma pedra mais dura do que o mármore. Essa palavra era usada na medicina para calo ou formação óssea nas juntas. Quer dizer petrificar, tornar duro e insensível. O termo chegou a ter o sentido de perda de toda capacidade sensitiva. Paulo diz que a mente deles se tornou dura como pedra, e a consciência ficou cauterizada. Nesse coração duro como pedra não há lugar para Deus nem para os lídimos valores morais. Paulo diz que os pagãos chegam a ponto de perder a sensibilidade O pior dos efeitos do pecado é seu efeito petrificador. No começo, a pessoa sente vergonha ao pecar. Depois, perde o pudor, o temor e o horror. Peca sem remorso nem pesar. A consciência petrifica-se. 

4. “Havendo Perdido todo o Sentimento” (v. 19). Insensibilidade moral significa cinismo, descaramento, arrogância diante de Deus e dos homens, e vida sem a restrição da consciência. O resultado final é irresponsabilidade moral, na qual o pecado corre desenfreado pela vida. Paulo diz que os gentios se entregaram ao pecado. Nada os refreia de satisfazer seu desejo imundo. A dureza de coração leva, primeiro, às trevas mentais; depois, à insensibilidade da alma e, finalmente, à vida desenfreada. Devassidão ou lascívia, aqui, é a tradução da palavra grega aselgeia, que é a disponibilidade para qualquer prazer. O homem sempre procura ocultar seu pecado, mas o que tem aselgeia em sua alma não tem cuidado o choque que seu pecado possa causar na opinião pública. Ele perde a decência e a vergonha. Hoje em dia, a sensualidade sofisticada é, não raro, promulgada em nome da liberdade e maturidade cultural. Ambas são anticristãs e degradantes para a sociedade. Esse é o retrato da sociedade contemporânea. Essa imagem está estampada em todos os jornais e noticiários. Vemô-la nas esquinas das ruas. Em cada canto da cidade há outdoors fazendo propaganda do pecado sem nenhum pudor. A sociedade está falida moralmente. 

Paulo urge a seus convertidos a terminar com esse tipo de vida. Diz-lhes graficamente: "Despojem-se da passada maneira de viver assim como despojem-se de um vestido velho; vistam-se de uma maneira nova; despojem-se de seus pecados e vistam-se da justiça e santidade que Deus lhes pode dar." São poucas as passagens que mostrem assim a terrível fealdade do pecado e que insistem com maior insistência a abandonar a vida do mundo para empreender o caminho de Deus. Vejamos, então, algumas questões práticas no tocante à santidade. 

 

A VIDA EM SANTIDADE DIÁRIA NA PRÁTICA

A palavra “santo” essencialmente significa “separado”. Esse termo, tanto no hebraico (qodesh) quanto no grego (hagiazo), literalmente significa “separar”. Todavia o substantivo santificação (gr. hagiasmos) não ocorre no Antigo Testamento, mas é encontrado 10 vezes no Novo Testamento. 

Em síntese, o verbo “separar” tem três significados: 1) venerar ou reconhecer que é venerável, ou seja, reverenciar (cf. Mateus 6:9; Lucas 11;2; 1 Pedro 3:15); 2) separar das coisas profanas e dedicar a Deus, isto é, consagrar (cf. Mateus 23:17-19; João 17:19 10:36; 2 Timóteo 2:21); 3) purificar; em outras palavras, limpar (cf. Efésios 5:26; 1 Tessalonicenses 5:23; Hebreus 2:11; 9:13; 13:12). Com base nesses três significados teológicos, podemos definir a santificação em quatro níveis espirituais: 1) separação para Deus; 2) imputação de Cristo como nossa santidade; 3) purificação do mal moral; 4) e conformidade com a imagem de Cristo. 

Embora sejamos exortados a “seguir a santificação” (Hebreus 12:14), não devemos cair no erro de imaginar que a mesma resulta do esforço humano. É claro que a cooperação humana faz parte do desenvolvimento de uma vida de santidade, mas é por intervenção divina que a santificação acontece. Conforme bem observa Franklin, “a santificação é uma obra realizada pelo Espírito Santo, não é algo que fazemos por nós mesmos”.  Portanto, podemos entender santificação como sendo a obra contínua do Espírito Santo pela qual ele vai conformando o fiel à imagem de Cristo (Romanos 8:29-30; 2 Coríntios 3:18). 

Outro texto que merece destaque é o de 1 Pedro 1:15-16, em que lemos: “Como é santo aquele que vos chamou, sede também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo”. Com base nesse texto, podemos destacar, pelo menos, duas razões pelas quais a santidade deve ser nosso objetivo principal de vida: Em primeiro lugar, devemos ser santos por causa da “santidade divina”: “Como é santo aquele que vos chamou”; e, em segundo lugar, por causa da “ordem divina”: “Sede também santos”. 

 

A NATUREZA DA SANTIFICAÇÃO PESSOAL

A santificação pessoal é uma etapa imprescindível no processo de salvação, que, tendo iniciado na justificação pela fé em Cristo, será concluído com a glorificação, na volta de Jesus. Mas qual a natureza da santificação? Como a Bíblia Sagrada a conceitua? Conhecer esses princípios espirituais certamente é um grande passo para a prática eficiente da santificação pessoal.

A ideia de santificação aplicada aos cristãos pode ser analisada sob três perspectivas. Vejamos:

1. Santificação posicional. Significa que no ato da regeneração os cristãos são santificados, e, portanto, são santos porque já estão separados para Deus e foram purificados (Romanos 1:7; Hebreus 2:11; 10:10,14,29).  Nesse sentido a santificação é “a liberdade do domínio da velha natureza, que foi crucificada com Cristo”.  Este é, sem dúvida, o mais impactante tipo de santificação, pois Paulo afirma que “somos santificados em Cristo Jesus, e, por isso, chamados para ser santos” (1 Coríntios 1:2). Esse tipo de santificação é obtido unicamente pela fé em Cristo (cf. Atos dos Apóstolos 26:18), e é também realizado de uma vez por todas. Desta forma, o salvo pode afirmar que foi, definitivamente, justificado, santificado e redimido, desde que realmente se mantenha revestido da justiça e da santidade de Cristo, pela fé. 

2. A santificação progressiva. O cristão está santificado em Cristo, mas o Espírito Santo continua atuando em sua vida, moldando seu caráter, desenvolvendo sua personalidade, o purificando e santificando diariamente. Essa santificação progressiva nos exorta a nos santificarmos ainda mais (Efésios 4:17-32, 1 Coríntios 3:1-17; 1 Tessalonicenses 5:23). Portanto na santificação progressiva o salvo desenvolve a santificação iniciada após sua justificação em Cristo Jesus. É um processo de crescimento diário. A santificação representa “uma luta em busca do crescimento na fé. É um processo de crescimento espiritual”.  Neste processo, o cristão “coopera” na sua santificação por meio da “mortificação dos desejos pecaminosos, e em levar o ser interior à obediência a Cristo às normas apresentadas em sua palavra” (Romanos 8:13; Colossenses 3:5). 

Diferentemente da santificação que provém da cruz de Cristo, essa se desenvolve por toda a vida e só será consumada na volta de Jesus.

3. A santificação futura. A santificação futura diz respeito ao processo final, quando finalmente seremos aperfeiçoados diante de Deus e seremos semelhantes a Jesus (1 João 3:2-3). É nesse momento que ocorrerá a transformação do corpo corruptível em um corpo incorruptível (Romanos 8:11-23). Na vinda de Cristo, cada cristão receberá um corpo novo que estará sem pecado. O Cristão não terá mais de resistir ao pecado ou de crescer para a perfeição. Sua santificação estará completa. Ele estará inteira e eternamente separado do pecado e para Deus.

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A santificação ocorre em duas esferas. A primeira é a mortificação do velho homem, onde o corpo do pecado é desfeito (Colossenses 3:1-5; Rm. 8:13), assim, o cristão faz “morrer sua velha natureza”, o velho homem com seus feitos. A outra esfera é a vivificação, que consiste em viver em novidade de vida (Romanos 6:4). Tanto a mortificação como a vivificação acontece de forma simultânea. Paulo exemplifica esse princípio, quando afirma: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus” (Gálatas 6:20).

 

O PROCESSO DA SANTIFICAÇÃO PESSOAL

1. Entendendo o processo: Já aprendemos que a santificação começa na regeneração, quando assumimos uma nova posição diante do Pai, por meio da fé em Cristo. Porém, ela não para por aí. De acordo com Grudem, a “santificação é uma obra progressiva da parte de Deus e do homem que nos torna cada vez mais livres do pecado e semelhantes a Cristo em nossa vida presente”.  Destacamos, aqui, o fato de que ela é uma obra progressiva, um processo contínuo que se dá passo a passo e dura por toda a vida.

É, basicamente, uma batalha que travamos contra o pecado e, à medida que o vencemos, tornamo-nos mais e mais parecidos com Cristo: no caráter, nos pensamentos, nos sentimentos e nas ações. Antes, éramos escravos do pecado e caminhávamos na direção contrária a Deus. Agora, libertos por Cristo, passamos a caminhar em direção a Deus. Assim começa a caminhada cristã e há um longo caminho a percorrer, até que cheguemos “à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4:13). 

Embora não sejamos mais escravos do pecado (Romanos 6:18), ele insiste em permanecer presente. O  desejo de nosso Deus é que vençamos o pecado a cada dia e caminhemos para perfeição, pois segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo (1 Pedro 1:15-16).Observe, por favor, o versículo 15 da primeira carta de Pedro, que acabamos de citar. Há dois ensinos preciosos nele:  o primeiro e mais importante é que Deus é santo, ou seja, ele é separado, sem pecado, puro e perfeito. O segundo ensino é que ele nos chamou, isto é, nos convocou para sermos participantes com ele de sua santidade. Todos nós, cristãos, fomos chamados para trilhar o caminho da santificação, abandonando o pecado, tornando-nos cada vez mais santos e identificando-nos cada vez mais com o nosso Deus, que é Santo! Nesses  dois versículos, há dois mandamentos, “tornai-vos” e “sede”; ambos indicam que há, realmente, um processo pelo o qual nos tornamos santos; porém, esse processo não é automático em nós; está sujeito à resposta que damos ao chamado de Deus.  É preciso que nos esforcemos e nos apresentemos diante de Senhor com o desejo de crescer espiritualmente. Paulo disse: Rogo-vos pois (...) apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Romanos 12:1). A santificação é resultado de um trabalho conjunto entre Deus e o cristão. Para o cristão, é imprescindível desejar e buscar para realmente alcançá-la. Entretanto, somente por seu esforço, não experimentará nenhum avanço e jamais irá alcançá-la. Sem Jesus, nada podemos fazer (João 15:5). A santificação se realiza-se na dependência de Cristo. É ele quem nos purifica de todo pecado, é a ele que devemos nos confessar, pois, é fiel e justo para nos perdoar e nos purificar de toda injustiça (1 João 1:9). 

Nosso coração deve arder pelo desejo de ser mais parecido com Jesus. É esse desejo que nos impulsionará a superar, dia a dia, a força que o pecado exerce em alguma área da nossa vida. 

2. Avançando no processo: É certo que, quanto mais o cristão avança no processo de santificação pessoal, mais diminui seu grau de pecado. O apóstolo Paulo tinha este conceito em mente, quando disse aos coríntios:  ... purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus (2 Coríntios 7:1b). Todo cristão deve e pode progredir em sua vida espiritual. Neste versículo, Paulo se refere a dois princípios básicos para avançarmos no processo da santificação pessoal. 

O primeiro princípio que encontramos no versículo é a necessidade de purificação. Para experimentarmos o avanço e o crescimento, é fundamental que nos purifiquemos, ou seja: é necessário livrarmo-nos da contaminação do pecado, limparmo-nos da iniquidade, consagrarmo-nos e dedicarmo-nos somente a Deus. Isso envolve todas as áreas da vida. Precisamos nos limpar de toda impureza, tanto da carne como do espírito.Note que a expressão é imperativa; é uma ordem bíblica: Afastemo-nos de tudo o que está errado, diz a tradução da Bíblia Viva. 

O segundo princípio é a necessidade de aperfeiçoamento. A santidade em nós não é um processo concluído, mas algo que necessita de um contínuo aperfeiçoamento. O termo traduzido por “aperfeiçoando” (epiteleo - gr.) significa “levar até um fim, terminar, completar”.  Paulo está incentivando os cristãos de Corinto a permanecerem avançando na santificação pessoal e a se esforçarem para completá-la. Esse texto mostra claramente que a santificação pessoal deve ser encarada como uma ação contínua de consagração a Deus. 

Esse pensamento fica bem evidenciado quando lemos que todos nós (...) somos transformados, de glória em glória (2 Coríntios 3:18). A vida cristã é totalmente contrária a qualquer tipo de estagnação, inércia, imobilidade. Não há espaço, no cristianismo autêntico, para cristãos espiritualmente “conformados” e satisfeitos consigo mesmos. Até mesmo Paulo disse: Não que já tenha alcançado, ou que seja perfeito, mas prossigo (Filipenses 3:12). O que dizer de nós? Busquemos sempre o crescimento espiritual, sabendo que avançar na santificação não é uma opção,  mas um mandamento para o cristão.

Na prática, isso significa que, a cada vitória sobre o pecado, começamos a agir cada vez mais conforme Jesus agiria. À medida que o pecado perde a força em nós, o Espírito Santo assume gradualmente o domínio de nossa vida, libertando-nos das obras da carne e gerando em nós o fruto espiritual, que é amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio (Gálatas 5:22). Assim, assumimos cada vez mais a plenitude do caráter de Cristo.

Vale ainda dizer que a santificação, entendida como um processo, não é igual em todos. Ela se manifesta em velocidade e graus diferentes, dependendo da capacidade, da vontade e do empenho de cada pessoa. Sobre esse assunto, Paulo escreve: desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor (Filipenses 2:12b). Há, na igreja, aqueles que ainda estão “engatinhando” na fé e outros que são mais maduros, mas ninguém está pronto, pois “qualquer que seja o crescimento espiritual alcançado, há sempre mais, muito mais para alcançar”.  

Além disso, “a santificação, sendo um processo, não deve ser encarada como um alvo que algum dia alcançaremos nesta vida terrestre”.  De fato, aqui não podemos ser perfeitos, pois somos limitados. Somente na volta de Cristo isso vai acontecer. Mas isso não nos impede que avancemos e busquemos a santificação. Deus não espera de nós perfeição nesta vida, mas ele espera ver em nós vontade e esforço para obedecer-lhe. 

 

EFEITOS DA SANTIFICAÇÃO 

Os efeitos da santificação são bem visíveis na vida do cristão, tornam-se sua marca. Ele se torna visto por atitudes bem peculiares, não pela arrogância ou por uma religiosidade superficial e ritualística, não por ser o “santarrão”, que em sua vida adota práticas que ferem a santidade de Deus.

Os que buscam uma vida de santificação pessoal possuem características tais como:

1. Progridem na vida cristã (2 Pedro 3:18). O crescimento contínuo é uma marca fundamental na vida de quem cultiva a santidade porque ela se torna nutriente que dá vida ao cristão. O caminho da santificação tem por base a atuação do Espírito Santo, a comunhão com Deus, a comunhão com a Palavra de Deus, o desejo de conhecer a Deus, a submissão a Deus e à sua vontade. São estas coisas que produzem o crescimento na vida do cristão.

2. Desgosto pelo pecado (1 João 3:9). O pecado provoca no cristão que trilha o caminho da santificação a mesma reação que provoca no próprio Deus. Ele se entristece com seu próprio pecado como com o pecado alheio, pois estes ferem a honra e a santidade de Deus. Santidade esta que ele está gradativamente compartilhando. O cristão que não consegue sentir repulsa pelo pecado está desorientado no caminho que conduz a santificação.

3. Desejo de compartilhar o Evangelho (Romanos 10:14-45). O cristão consagrado ao seu Senhor, que é conhecedor de sua vontade, sabe das terríveis consequências do pecado, tem conhecimento que a salvação das vidas depende de crerem mensagem do Evangelho, que é a única maneira de escaparem do juízo de Deus. Mas além de conhecer bem as necessidades dos pecadores perdidos, o cristão que anda em santificação com o Senhor aprende a amar os pecadores com o mesmo amor com que o Pai nos ama, mesmo que não seja na mesma proporção e intensidade, mas em qualidade sim, pois o que tem sido derramado em seu coração é o amor de Deus.

4. Disposição em servir (João 12:26). A santificação aproxima-nos de Cristo. Nosso desejo se torna o reflexo de sua vontade, passamos a compartilhar as mesmas coisas. Então aflora no coração do cristão o desejo de servir, assim como seu Mestre serviu e deu “a sua vida em resgate de muitos” (Mateus 20:28). A santificação mostra-se mais efetiva quando o cristão vive para servir, e não para ser servido pelos outros, revelando com isso sua harmonia com o Cristo, que sendo Senhor se fez servo de todos.

 

CONCLUSÃO

O centro do texto que estudamos pode ser definido como sendo a integração da experiência cristã (aquilo que somos), da teologia cristã (aquilo que cremos), e da ética cristã (como nos comportamos). Enfatiza que a existência, o pensamento e a ação nunca devem ser separados. Aquilo que somos, pois, dirige a forma como pensamos, e como pensamos determina como agimos. Somos, um povo que se despiu da velha vida e vestiu a nova; é assim que ele fez conosco. Devemos, portanto, relembrar este fato pela renovação diária da nossa mente, lembrando como “aprendemos a Cristo... segundo é a verdade em Jesus”, e pensando de modo cristão acerca de nós mesmos e da nossa nova posição. Depois, devemos ativamente cultivar uma vida cristã. A santidade não é, pois, uma condição na qual estamos flutuando à deriva. Não somos espectadores passivos de uma santificação que Deus opera em nós. Pelo contrário, devemos deliberadamente “deixar” toda a conduta que é incompatível com a nossa nova vida em Cristo, e “revestir-nos” de um estilo de vida compatível com ela. 

 

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