Texto de Estudo

 Mateus 7:18

INTRODUÇÃO

A história da Igreja cristã apresenta um longo e fatigante conjunto de controvérsias com falsos profetas e falso mestres. É bastante evidente que ainda há muitos deles nas igrejas de hoje. Sabedor disso, nessa parte do Sermão do Monte, Jesus passa a recomendar prudência e o exame dos ensinadores, profetas, daqueles que se propõem a transmitir conhecimentos. O Senhor, então, nos adverte para que não entremos no caminho errado nem sigamos os falsos ensinos. Antes, aqueles que seguem pelo caminho apertado precisam se precaver contra os falsos profetas, que dizem guiar os crentes, mas que na realidade praticam a mentira.

 

UMA ADVERTÊNCIA: ACAUTELAI-VOS

Com toda objetividade e realismo que lhe são peculiares, o Senhor Jesus decreta: “Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores” (v. 15, NVI). Jesus advertiu seus discípulos sobre os falsos profetas porque eles já existiam. Encontramo-los em muitas ocasiões no Antigo Testamento, e parece que Jesus colocou os fariseus e saduceus no mesmo quadro. “Cegos, guias de cegos”, ele os chamou (Mateus 15:14). Ele também deu a entender que aumentariam de número, e que o período precedente à destruição de Jerusalém, no ano 70 d.C., se caracterizaria pelo surgimento de falsos mestres, que desviariam  muitos (Mateus 24:11). Lemos sobre eles em quase todas as cartas do Novo Testamento. São chamados de pseudoprophētēs (pseudoprofetas), como aqui, ou pseudapostolos (falsos apóstolos), porque diziam ter autoridade apostólica (2 Coríntios 11:13), ou ainda pseudodidaskalos (falsos mestres, 2 Pedro 2:1), ou até mesmo pseudochristos (falsos cristos), porque tinham pretensões messiânicas (Mateus 24:24; Marcos 13:22). Cada um deles era um pseudos, que é a palavra grega para mentira ou falso. 

Desta metáfora aprendemos que os pseudoprofetas são perigosos e mentirosos. Seu perigo é porque, na realidade, são “lobos devoradores” travestidos de  “peles de ovelhas”. Na Palestina do primeiro século, o lobo era o inimigo natural das ovelhas, que ficavam totalmente sem defesa diante dele. Por isso, um bom pastor tinha de estar sempre alerta e proteger suas ovelhas contra os lobos, enquanto o empregado contratado (que, por não ser dono das ovelhas, não se importava com elas) geralmente as abandonava e fugia ao primeiro sinal da fera, deixando-as ser atacadas e dispersas (João 10:11-13). Exatamente da mesma forma, o rebanho de Cristo está à mercê ou de bons pastores, ou de mercenários, ou de lobos. O bom pastor alimenta o rebanho com a verdade; o falso mestre, como um lobo, divide-o com o erro.  Paulo disse aos anciãos de Éfeso: “Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando cousas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai...” (Atos dos Apóstolos 20:29-30).

Na atualidade, quem são os falsos profetas, denunciados por Jesus? Tratam-se de líderes cristãos que se camuflam atrás de uma fachada respeitável, mas que, na realidade, são portadores de desvios na comunidade eclesiástica. Aproveitando sua ascendência, ensinam atitudes de frouxidão moral e libertinagem. O erro ao qual induzem os crentes não é de caráter doutrinal, mas prático.  Os falsos profetas, de acordo com Jesus, são lobos disfarçados de ovelhas. Aproximam-se das ovelhas para explorá-las e não para apascentá-las. Estão interessados nos bens materiais e não na salvação das ovelhas. Pregam outro evangelho e não o evangelho da graça, pregam o que o povo quer ouvir, e não o que povo precisa ouvir. Pregam para agradar, não para levar as pessoas ao arrependimento. São movidas pela ganância e amor ao lucro, e não pela verdade de Deus.

Jesus sugeriu que a verdadeira dificuldade a respeito desse tipo de indivíduo é que, a princípio, eles conseguem passar a imagem de serem autênticos profetas da palavra de Deus. A questão é extremamente sutil, a tal ponto que o povo de Deus pode ser desencaminhado por eles. Pedro expressou essa particularidade, dizendo que essas pessoas “introduzirão dissimuladamente heresias destruidoras” (2 Pedro 2:1). Esses falsos profetas se parecem com pessoas corretas; mas é que se disfarçam com “peles de ovelhas”, e ninguém pode suspeitar que eles agem de má-fé. É a sutileza deles que realmente constitui o perigo.

Não é por acaso que a advertência de Jesus sobre os falsos profetas no Sermão da Montanha segue-se imediatamente após o seu ensinamento sobre as duas portas, os dois caminhos, as duas multidões e os dois destinos: os falsos profetas são peritos em tornar indistinta a questão da salvação. Alguns emporcalham ou distorcem de tal maneira o Evangelho que o tornam difícil de ser entendido pelos que tentam encontrar a porta estreita. Outros procuram demonstrar que o caminho estreito é, na realidade, muito mais largo do que Jesus deu a entender, e que andar nele exige pouca ou nenhuma restrição na crença e no comportamento da pessoa. Outros ainda, talvez os mais perniciosos de todos, atrevem-se a contradizer Jesus, afirmando que o caminho largo não leva à destruição, mas que na verdade todos os caminhos levam a Deus, e até mesmo que os caminhos largo e estreito, embora levem a direções opostas, finalmente acabarão no mesmo destino, a vida. 

Não foi por menos que Jesus comparou esses mestres com lobos vorazes, não tanto por serem gananciosos, ávidos de prestígio ou de poder (embora geralmente o sejam), mas por serem “selvagens” (NTLH), isto é, extremamente perigosos. São responsáveis pela condução de algumas pessoas à própria destruição que eles afirmam não existir.  Esses homens, disse Judas, “são rochas submersas… são pastores que só cuidam de si mesmos. São nuvens sem água, impelidas pelo vento; árvores de outono, sem frutos, duas vezes mortas, arrancadas pela raiz. São ondas bravias do mar, espumando seus próprios atos vergonhosos…” (Judas 12, NVI). 

Além de perigosos, os falsos profetas também são mentirosos. Os “lobos” penetram sorrateiramente no rebanho, disfarçados de ovelhas. A julgar pela aparência, se parecem como um bom membro de igreja, um profeta, um pregador. A julgar pelas palavras e pela obra cristã, se parecem como um cristão. Interiormente, porém, motivos obscuros o agregaram à igreja. No seu interior, são como um lobo voraz; suas palavras são mentira, suas obras, uma ilusão.  Como resultado, as ovelhas incautas os confundem com outras ovelhas e os recebem com boas-vindas, de nada suspeitando. Seu verdadeiro caráter só é descoberto tarde demais, e quando o prejuízo já ocorreu.

Em outras palavras, um falso mestre não se anuncia nem faz propaganda de si mesmo como um fornecedor de mentiras; pelo contrário, reivindica ser um mestre da verdade. Ele esconde seu objetivo obscuro sob o manto da piedade cristã, aproveitando-se da credulidade dos cristãos. Confia que não será desmascarado nessa veste ingênua.  Não só ele simula piedade, mas também, frequentemente, usa a linguagem da ortodoxia histórica, a fim de ganhar aceitação dos simplórios, enquanto, na verdade, suas pretensões são totalmente diferentes, algo destrutivo da própria verdade que pretende defender. Igualmente, esconde-se sob o manto dos títulos altissonantes e dos graus acadêmicos impressionantes. 

Portanto, “acautelai-vos!”, Jesus adverte. Devemos estar alertas, orando por discernimento, usando nossas faculdades de crítica e jamais relaxando nossa vigilância. Não devemos ficar fascinados com o seu exterior, com o seu encanto pessoal, com a sua cultura, com seus títulos acadêmicos e eclesiásticos. Não devemos ser ingênuos a ponto de supor que, sendo um Doutor em Filosofia ou em Teologia, um professor ou um bacharel, ele deve ser um verdadeiro e ortodoxo embaixador de Cristo. Devemos olhar por trás de sua aparência de piedade para a realidade, pois quem sabe não se esconde ali um lobo!

 

UMA PROVA: EXAMINAI OS FRUTOS

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Nosso Senhor nos deu a capacidade de discernir entre os verdadeiros e falsos profetas. Ele nos disse para termos cuidado com eles. E assim como ele nos alertou, devemos mesmo ficar atentos.

Os falsos profetas se preocupam apenas com sua aparência externa, fingindo de maneira hipócrita ser sérios e santos quando pregam, e tudo que eles pregam nas congregações é para que os membros tolerem a ética e a moral do mundo. Entretanto, o falso profeta é um indivíduo que se aproxima de nós, dando-nos a impressão inicial de que é um cristão exemplar. Assim sendo, o que poderia haver de errado em uma pessoa assim? Jesus nos dá a resposta no versículo 16: “Pelos seus frutos os conhecereis...”.

Se não devemos ser juízes de ninguém, também não devemos ser uns tolos facilmente enganados. Há meios de se reduzirem os riscos do engano a níveis bem menores. Apesar dos disfarces externos e aparentes dos falsos profetas, que ocultam sua verdadeira natureza, camuflando a obviedade de suas intenções – pois o lobo vive por dentro deles –, todavia, é possível identificá-los pelos resultados morais de sua existência. São sempre os frutos morais que têm o poder de produzir a genuína autenticação histórica de um profeta ou um homem de Deus. 

Jesus questionou seus ouvintes, dizendo: “Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons” (vv. 16-18). O que ele estava dizendo era que o falso profeta se revelará a si mesmo a seu tempo. Não há necessidade de vermos o coração do homem. Basta esperar até que a árvore frutifique, e aí nos frutos discerniremos, a seu tempo, as árvores. Embora certamente possamos confundir muitas vezes um lobo com uma ovelha, Jesus nos diz que não seremos enganados para sempre, assim como nenhuma árvore pode esconder a sua identidade por muito tempo. Mais cedo ou mais tarde ela se trai, pelo seu fruto. 

Não só o caráter do fruto é deter¬minado pela árvore (uma figueira dá figos e uma videira, uvas), mas também a sua condição (“toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz maus frutos”, v. 17). Na verdade, “não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má pro¬duzir frutos bons” (v. 18). E o dia do juízo concluirá a diferenciação, quando as árvores não frutíferas serão cortadas e queimadas (v. 19). Portanto (pois esta é a conclusão que Jesus enfatiza duas vezes), “pelos seus frutos os conhecereis” (vv. 16, 20).

Como a bondade ou não da árvore resulta da natureza dos frutos, igualmente discriminante para o profeta é a ortopráxis, ou seja, a fidelidade operativa à palavra do Senhor. Fora desta, só existe falsa profecia. Os falsos profetas que ensinam doutrinas falsas só podem produzir falsa justiça (cf. Atos dos Apóstolos 20:29). Seus frutos (o resultado de seu ministério) são falsos e não duram. Eles mesmos são falsos; quanto mais perto chegamos, mais vemos a falsidade de sua vida e de suas doutrinas. Exaltam a si mesmos, não a Jesus Cristo, e em vez de edificar as pessoas, procuram explorá-las para seu próprio benefício. 

 

UMA PROFISSÃO DE FÉ APENAS VERBAL

As pessoas que Jesus está descrevendo aqui estão confiando para a sua salvação em uma afirmação do credo, no que elas dizem a Cristo ou a respeito de Cristo: “Nem todo o que me diz” (v. 21); “Muitos, naquele dia, hão de dizer” (v. 22). Mas o nosso destino final será estabelecido, Jesus insiste, não pelo que lhe dizemos hoje, nem pelo que lhe diremos no último dia, mas por fazermos o que dizemos, por estar a nossa profissão verbal acompanhada da obediência moral.

Portanto, não é a confissão de fé ou a verbalização ortodoxa que garantem a genuinidade de ninguém diante de Deus. Jesus disse: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor, entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (v. 21). Também não são as expressões carismáticas e sobrenaturais que atestam realmente os vínculos de um “carismático” com Deus. A atividade dos falsos profetas é mostrada como de natureza decididamente carismática. Eles profetizam, expulsam demônios e realizam muitos milagres em nome do Senhor. Entretanto, o Senhor declarou taxativamente: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade” (vv. 22-23).

Diante de toda a confusão que há no meio evangélico, pela penetração de toda sorte de enganadores, fica a pergunta: será que Jesus não foi suficientemente claro quando tentou nos dar as “pistas” de quem são os enganadores, ou será que nós é que não estamos lendo a Bíblia com atenção? Paulo nos convoca a sermos criteriosos: “Observai o que está evidente” (2 Coríntios 10:7). E mais, ele disse: “Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos” (1 Coríntios 14:20). Ora, a fé como comportamento coerente com o discurso cristão é a integração entre ortodoxia e ortopraxia. Nesse rumo há os textos que falam da fé no nível da congruência entre o que se sabe ser a verdade e a vida que se leva, isto é, a correção dos erros (Gálatas 6:10; Efésios 1:15; 1 Tessalonicenses 1:3; 1 Timóteo 1:5; 1:19; 4:12; 5:8).

A obediência à vontade de Deus é a prova da verdadeira fé em Cristo. Tal prova não consiste em palavras. Não é dizer “Senhor, Senhor”, e não obedecer as suas ordens. O Senhor Jesus questionou os seus ouvintes, dizendo: “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” (Lucas 6:46). Como é fácil aprender um vocabulário religioso, memorizar versículos bíblicos e cânticos, e, apesar disso, não obedecer à vontade de Deus! Nem palavras nem atividades religiosas substituem a obediência a Deus. A pregação, a ex¬pulsão de demônios e a operação de milagres podem ter inspiração divina, mas não garantem que aquela pessoa seja salva nem que seja um cristão verdadeiro. É muito importante recordar que nos últimos dias Satanás usará “prodígios da mentira” para enganar as pessoas (2 Tessalonicenses 2:7-12). 

 

CONCLUSÃO

Há falsos profetas junto à porta que conduz para a estrada espaçosa, facilitando a entrada de todos. Mas, no final desse caminho, há destruição. O teste final não é o que pensamos de nós mesmos, ou o que os outros pensam de nós, mas sim o que Deus dirá a nosso respeito. O que acredita em falsas doutrinas ou segue um falso profeta nunca experimentará mudança de vida. Infelizmente, alguns só percebem isso quando é tarde demais!

Jesus confia que seus discípulos saibam, em tais momentos, discernir claramente a realidade da aparência, entre si e os cristãos aparentes. Isso os livrará da observação curiosa do outro, mas também exige veracidade e coragem para aceitar a decisão de Deus. A cada momento pode acontecer que sejam arrancados de nosso meio os cristãos aparentes e que nós sejamos desmascarados como tais. Isso é um apelo aos discípulos para comunhão mais firme com Cristo e discipulado mais fiel. A árvore má será cortada e lançada ao fogo. O maior esplendor de nada lhe valerá.

 

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